O 1º de maio é uma data histórica de luta dos trabalhadores e trabalhadoras ao redor do mundo. O evento deste domingo, no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, entretanto, ganhou contornos grandiosos por ter sido um ato em defesa da democracia, a poucos dias da votação do processo de impeachment no Senado Federal.
Além da presidenta Dilma Rousseff, dezenas de entidades, personalidades e centrais sindicais se reuniram para rechaçar os anseios golpistas do vice Michel Temer.
Ao microfone – para discursar para uma plateia de centenas de milhares de pessoas – se revezaram figuras como o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad; o pré-candidato a vereador, Eduardo Suplicy; o presidente nacional do PT, Rui Falcão; o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos; e a presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Carina Vitral.
Também discursaram líderes de entidades sindicais, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT) – uma das organizadoras principais do evento -, a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), a União Geral dos Trabalhadores (UGT) e a Intersindical, além de movimentos sociais das mais variadas vertentes. Também estavam programadas apresentações musicais de Beth Carvalho, Martinho da Vila, Detonautas, Chico César e Luana Hansen.
Contra o “presidente biônico”
A movimentação no Vale do Anhangabaú começou às 9h, quando os primeiros trabalhadores começaram a tomar o centro da capital paulista. Uma hora depois o local já estava completamente lotado, com direito a bandeiras e faixas com mensagens diversas: em prol das mulheres, da população LGBT, dos negros e, principalmente, contra Temer e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Ao microfone, Rui Falcão chamou Temer de “presidente biônico” – em referência aos chefes do executivo eleitos de forma indireta durante a ditadura militar – e disse que a esquerda vai lutar por democracia em todos os setores da sociedade. “É luta! É luta!”, conclamou à multidão de trabalhadores. O presidente do PT também elogiou a união de partidos de esquerda com centrais sindicais e movimentos populares em torno da manutenção da democracia.
O prefeito Fernando Haddad (PT-SP) celebrou o acesso sem precedentes dos negros e dos mais pobres às universidades públicas e privadas durante os governos Lula e Dilma. Ele também exaltou a resistência da classe trabalhadora durante toda a história do País.
“A direita comete sempre um erro: o de subestimar o poder de luta da classe trabalhadora. Enquanto a classe trabalhadora estiver unida, jamais haverá, na democracia, retrocessos dos direitos sociais adquiridos”, afirmou.
Movimentos sociais: golpe será barrado nas ruas
Guilherme Boulos (MTST) fez um dos discursos mais aplaudidos da tarde ensolarada em São Paulo. Em tom firme, o líder do MTST disse que a saída para retomar o estado democrático de direito é a população organizada nas ruas. “Este 1º de Maio não acontece em circunstancias normais, mas em meio a um processo golpista no qual os setores mais a direita e atrasados da sociedade brasileira querem impor um programa de regressão social sem precedentes. Nós não temos a expectativa que o Senado vai barrar o golpe. Quem vai barrar é a rua”.
Boulos também garantiu que a entidade fará manifestações diárias caso Michel Temer assuma a presidência.
O dirigente do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), Gilmar Mauro, também mandou um recado a Temer. “Nós temos direito democrático, se consumado o golpe, de exercer a desobediência civil”.
Para Carina Vitral (UNE), alas conservadoras da sociedade querem retomar o poder para trazer retrocessos sociais ao País. “A elite não se conforma com um novo Brasil construído a fruto de muita luta dos movimentos sociais. Agora, reage para acabar com esses direitos – se aliando com o que há de mais podre na política nacional”, afirmou.
Sindicalistas pela democracia
De acordo com o presidente da CUT, Vagner Freitas, Temer é um “golpista de terceiro nível”. Para ele, Dilma está sendo julgada por trazer ganhos aos trabalhadores. “Ganhos que os golpistas querem tirar”, afirmou.
Ele lembrou, também, que de acordo com pesquisa da Vox Populi a população não apoia o possível novo governo golpista e que Temer tem apoio de apenas 1% da população.
Para o secretário geral da Intersindical, Edson Carneiro, o Índio, a classe trabalhadora tem formas de conseguir barrar o golpe. “Os trabalhadores podem parar a produção, a circulação e se organizar em suas comunidades”, explicou.
“Esse golpe é imoral. Não é possível que bandidos estejam julgando pessoas inocentes”, afirmou Adílson Araújo, presidente da CTB. Já para Canindé Pegado, secretário-geral da UGT, os trabalhadores se manterem unidos é fundamental para superar esse momento. “O trabalhador deve manter a unidade para não perder nenhum direito conquistado a duras penas”, disse.
De acordo com Juvandia Moreira, do Sindicato dos Bancários, a tentativa de impeachment contra Dilma visa tirar direitos sociais da população e lembrou de um dos pontos mais polêmicos do Ponte Para o Futuro, o programa econômico e político que Temer pretende implantar caso se torne presidente.
“O golpe é contra a vontade do povo brasileiro de manter um programa de mais direitos sociais. O golpe é para criar um estado para poucos. O negociado sobre o legislado, por exemplo, é um absurdo”.
Golpe aos trabalhadores
A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) afirmou que o Brasil vive um momento em que o pensamento conservador tenta destruir as bandeiras e anseios da esquerda. “Há um pensamento fascista no Brasil. Não há só preconceito contra os negros ou às mulheres. Há um preconceito com as esquerdas”.
Já o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) disse que a tentativa de golpe é, sobretudo, sobre os trabalhadores. Porém, ressaltou que haverá muita luta popular caso saia vitorioso. “Querem dar um golpe ao legado de Lula, de Ulysses Guimarães e de Getúlio Vargas. Se o golpe se consumar, Temer não aguenta três meses no governo. O povo vai se levantar”.
No meio do multidão, Leandro Bergamin Almeida, da Democracia Corinthiana, estendeu uma faixa e reafirmou a importância da luta popular. “A manifestação é a melhor forma de barrar o golpe. O momento é de resistência. A Globo e a mídia manipulam e fazem acreditar que os grupos poderosos estão ao lado do povo. Os classe trabalhadora deve defender, sempre, os seus interesses”.
O momento mais esperado, entretanto, era a fala da presidenta Dilma. Os trabalhadores e trabalhadoras se apertaram quando o mestre de cerimônias anunciou “Dilma! Dilma! Dilma!”. A presidenta democraticamente eleita por 54 milhões de votos pegou o microfone para uma plateia entre sorrisos, gritos e lágrimas. E se fez história.
Por Bruno Hoffmann, da Agência PT