A disputa e a desconfiança reina entre nós: pelo fim do fundo de campanha individual. Pela adoção de fundo de financiamento único e coletivo
Precisamos saudar a iniciativa política e intelectual de abrir espaços de intervenção ao conjunto da militância que permitirá ao nosso Partido fazer a travessia desse vale de lágrimas que nos encontramos e retomar o brilho que sempre foi nossa marca distintiva, para que assim possamos contribuir na luta política pela emancipação do povo brasileiro e a conseqüente superação dessa forma de sociedade injusta e desigual.
Registro um tema que ainda não foi apontado nas dezenas de contribuições aqui apresentadas: o PT tem se tornado um campo fértil para carreiristas e políticos profissionais e isso só é possível por conta da permissão do fundo de campanha individual.
A única forma de retomar um projeto solidário de Partido é acabar com a possibilidade de cada candidatura financiar sua própria campanha. Precisamos instituir no Partido o fundo único e coletivo de financiamento de campanhas. Uma rápida consulta nas prestações de campanhas país afora irá demonstrar em números a conclusão absurda que estamos registrando.
A relação de desigualdade entre as candidaturas foge do bom senso, encontramos candidaturas do Partido ao parlamento que chegam à cifra de milhões, enquanto a maioria das outras candidaturas são absolutamente sub-financiadas ou não contam com nenhuma espécie de financiamento. Esse regime de financiamento diferenciado (privado, no qual cada candidato corre atrás do seu) engendrou no Partido uma desigualdade, uma disputa, uma rivalidade e luta interna que além de não ser saudável irá nos levar ao aniquilamento e derrota do nosso projeto.
Nenhum Partido no mundo com a insígnia de Trabalhadores pode permitir e desenvolver no seu interior disputas e rivalidades que não sejam de idéias e táticas. Atualmente no Partido as candidaturas internas disputam entre si, concorrem entre si, não raro tratam de sabotar e inviabilizar candidaturas de companheiros, tudo isso por conta de uma pérfida conclusão de quadros profissionais de carreira que não se imaginam na possibilidade de sobreviver politicamente longe dos espaços luxuosos dos parlamentos com suas regalias.
Equivocadamente o debate rumo ao VI Congresso tem-se centrado na disputa PED ou não PED. Não deixa de ser uma questão relevante, mas ainda assim é secundária. O tema central que devemos enfrentar no próximo Congresso é o de reconhecer que esse sistema de disputa interna não é possível mais ser alimentado. Temos que instituir uma reforma política e eleitoral interna no Partido, abolir o fundo de campanha individual, no qual o candidato com maior patrimônio, bem como aquele com relação entre forças empresariais se sobressai diante das candidaturas operárias e populares do Partido que não possuem nenhuma forma de financiamento.
Sem enfrentar esse debate sobre financiamento continuaremos a patinar internamente, continuaremos a disputar entre si, a rivalizar entre si, e não teremos um projeto de futuro em que cada militante se entregue de corpo e alma nos processos de disputas e lutas do povo brasileiro. Sem essa revolução interna vigorará a demagogia, a mentira e uma forma de fazer política que privilegia quem possui estrutura ou contatos com financiadores.
Para ilustrar o que estamos apresentando como proposta de fim do fundo individual de campanha e instituição do fundo único e coletivo de campanha registramos: suponhamos que o Partido tenha 30 candidatos a vereador em determinado município, com a proposta de fundo único e coletivo o Partido faria todo o esforço de arrecadação junto aos militantes e apoiadores da sociedade civil e distribuiria igualitariamente ao conjunto de todas as candidaturas tais recursos, permitindo assim que tanto candidaturas operárias e populares quanto candidaturas de profissionais liberais ou mesmo pequenos empresários tenham condições similares de disputa, dessa forma enfraqueceríamos a concorrência e rivalidade entre os companheiros candidatos na disputa eleitoral e permitiríamos a ascensão de candidaturas populares ao parlamento que hoje estão alijadas em decorrência da desigualdade interna.
O Partido está absolutamente vivo, temos totais condições de reanimar o povo brasileiro rumo a realização do projeto histórico do socialismo no século XXI, mas para isso precisamos superar problemas internos que hoje tem inviabilizado um ambiente de solidariedade, confiança, harmonia e respeito entre nós. Vamos ganhar as ruas, fábricas e bairros desse país e construir um governo popular no Brasil, mas para isso não podemos alimentar a desigualdade entre nós. Ou viramos a mesa, ou a história será implacável conosco. Enfrentar o golpe, corrigir desigualdades no PT e animar o povo brasileiro.
Por Cláudio Marques da Silva, Servidor Público Municipal, filiado ao PT Limeira-SP desde 2002, foi candidato à prefeito pelo Partido nas eleições 2016 no município, para a Tribuna de Debates do IV Congresso. Saiba como participar.