Partido dos Trabalhadores

Com Bolsonaro, miséria no país atinge recorde histórico

“Índice de miséria” atinge patamar histórico em maio, e continuará subindo enquanto inflação e desemprego permanecerem em alta

Criado pelo economista americano Arthur Okun como um “termômetro social” para medir a satisfação da sociedade com a economia, o “índice de miséria” do Brasil atinge patamares recordes sob Jair Bolsonaro e seu ministro-banqueiro Paulo Guedes. O cálculo, realizado pela LCA Consultores para o portal G1, aponta que o indicador renovou recorde histórico, chegando a 23,47 pontos em maio.

A consultoria estima que o índice continuará piorando em junho, julho e agosto. Dada a expectativa de alta da inflação em 12 meses, somada a taxas de desemprego crescentes, os economistas preveem uma subida do indicador a 24,28 pontos ao fim desses três meses. O comportamento do indicador a partir de setembro dependerá dos dois fatores: inflação e desemprego.

O índice de miséria agrega o percentual de desempregados medido pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). A equação formulada a partir dos indicadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mede a relação básica entre a queda da renda e o aumento do custo de vida.

A razão para o uso do INPC em vez do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a “inflação oficial” do país, é que ele retrata melhor a cesta de consumo de famílias de renda mais baixa. A população-objetivo do INPC é moradora de área urbana e tem rendimentos de 1 a 5 salários mínimos.

Mesmo que os níveis de emprego apresentem alguma recuperação nos próximos meses, os preços da energia elétrica, combustíveis e alimentos puxarão a inflação por tempo indeterminado, acreditam os pesquisadores. Outro item a ser considerado são os bens industriais. Como há escassez internacional de insumos para produção, a pressão sobre os preços ao consumidor é instantânea.

“Além de choques mais persistentes, há uma retomada por vir do setor de serviços que pode trazer mais inflação. Muitas empresas fecharam e há uma necessidade de repasse de custos por parte de quem sobrou”, afirma Bruno Imaizumi, economista da LCA Consultores, à reportagem, que apresentou a história de três personagens para corroborar os números da pesquisa.

Brasileiros no topo do ranking de “sensação de declínio”

Outra pesquisa, de opinião, divulgada recentemente é a Broken-System Sentiment (Sentimento de Sistema Quebrado) in 2021, realizada pela Ipsos. A sondagem, realizada em 25 países, mensura a visão das populações global a respeito de suas instituições políticas. Nela, os brasileiros têm uma percepção negativa acima da média mundial.

Mais de dois terços (69%) dos mil brasileiros entrevistados afirmam que o país está em declínio, o maior índice observado entre todos os países. São 12 pontos percentuais acima da média mundial de 57% de pessoas que têm a percepção de viver em países em declínio. Além disso, 72% dos brasileiros disseram acreditar que a sociedade do país está “falida”. A média global, nesse caso, é de 56%.

“A crítica (às instituições políticas) é generalizada ao redor do mundo, mas não de forma tão aguda quanto no Brasil”, afirmou Helio Gastaldi, porta-voz da Ipsos, à BBC News Brasil. “É um sentimento que persiste e que coincide com o que notamos em outros estudos e pesquisas que fizemos para clientes, em que se percebe hoje no Brasil um sentimento de decepção e insegurança. Passa uma ideia de grande preocupação com o futuro.”

Sintoma da desesperança, 74% dos brasileiros entrevistados disseram concordar com a frase “o Brasil precisa de um líder forte para retomar o país dos ricos e poderosos”. Um índice menor, mas igualmente alto (61%) de brasileiros afirmou que “para consertar o país, precisamos de um líder forte, disposto a quebrar as regras”.

“Isso reforça o discurso populista de que as instituições não servem e de que tem de vir alguém de fora para consertá-las — um remédio que a gente já sabe que não funciona”, conclui Helio Gastaldi, para quem os números refletem um certo saudosismo da ditadura militar, ou melhor, “uma visão nublada e incorreta desse período como sendo um de mais ordem ou de menos corrupção”.

Da Redação