Sem governo, inflação é a maior em 19 anos e segue aumentando

Energia elétrica puxa para cima a inflação, que chega a 8,99% em 12 meses e deve continuar subindo, mesmo com alta da taxa básica de juros

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A “inflação persistente” do Banco Central atinge mais uma marca histórica. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alta de 0,96% em julho. O salto, de 0,43 ponto percentual (p.p.) acima da taxa de 0,53% registrada em junho, é a maior variação para o mês desde 2002, quando o índice chegou a 1,19%, puxado pela fake news do “risco Lula” propagada pelo “mercado” às vésperas das eleições.

Os números foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na manhã desta terça-feira, enquanto Jair Bolsonaro promovia sua parada militar pelo voto impresso. No ano, o IPCA acumula alta de 4,76% e, nos últimos 12 meses, de 8,99% – acima dos 8,35% observados no período imediatamente anterior. Em julho de 2020, a variação mensal havia sido de 0,36%.

“O mês de julho teve muita influência de energia, combustíveis, monitorados e alimentos. Foi uma alta com várias causas”, explicou o analista da pesquisa, André Filipe Guedes Almeida. “A alta de combustíveis e energia pesou muito no orçamento das famílias ao longo dos últimos meses, além da alta das carnes. São os principais motivos para a trajetória da inflação.“

Em postagem no Twitter, Luiz Inácio Lula da Silva lamentou a tragédia econômica do desgoverno Bolsonaro. “Dados que o governo Bolsonaro não faz desfile pra exibir. Nos últimos 12 meses: Arroz subiu 48%; Feijão subiu 22%; Carne subiu 38%; Leite subiu 11%; Gás subiu 24%; 14,8 milhões de brasileiros desempregados e fila do osso”, publicou em seu perfil. Em 2003, Lula assumiu com a inflação anual em 12,53%. Entregou o cargo em 2010 com o índice em 5,90%.

Na mesma rede social, o deputado federal Nilto Tatto (PT-SP) seguiu a mesma linha. “O brasileiro não tem medo de tanque velho não, a gente tem medo é da fome, da inflação, de ficar sem teto, sem emprego e sem vacina”, comentou.

Segundo o IBGE, todas as regiões pesquisadas apresentaram variação positiva em julho, e dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, oito sofreram alta. A maior variação (3,10%) e o maior impacto (0,48 p.p.) vieram de Habitação. A segunda maior contribuição (0,32 p.p.) veio do grupo Transportes (1,52%). Na sequência veio Alimentação e bebidas (0,60% e 0,13 p.p.), com resultado também acima do registrado em junho (0,43%).

Como era de se esperar, a energia elétrica (7,88%) registrou o maior impacto individual no IPCA de julho (0,35 p.p.). A bandeira tarifária vermelha patamar 2 já vigorava em junho, mas a partir de 1º de julho houve reajuste de 52% no valor adicional da tarifa, que subiu de R$ 6,243 par R$ 9,492 a cada 100 kWh consumidos.

Os preços do gás de botijão (4,17%) e do gás encanado (0,48%) também subiram, assim como os de combustíveis (1,24%) aceleraram em relação a junho (0,87%). Em particular, a gasolina teve alta de 1,55%, enquanto havia subido 0,69% no mês anterior, contribuindo com 0,09 p.p. no índice do mês.

Em Alimentação e bebidas (0,60%) a alimentação no domicílio passou de 0,33% em junho para 0,78% em julho, principalmente por conta das altas do tomate (18,65%), do frango em pedaços (4,28%), do leite longa vida (3,71%) e das carnes (0,77%).

Guedes disse em março que alta seria “transitória”

Desde março, o IPCA acumulado em 12 meses vem ficando cada vez mais acima do teto da meta estabelecida para a inflação deste ano, que é de 5,25%. Naquele mês, o ministro-banqueiro da Economia, Paulo Guedes, garantiu que a escalada não se manteria.

“O aumento de preços que estamos vendo é setorial e transitório. Precisamos sinalizar que isso não vai virar um aumento generalizado e permanente”, disse, acrescentando que essa “sinalização” se daria por meio da autonomia do Banco Central, de reformas e privatizações.

A meta central do governo para a inflação em 2021 é de 3,75%, e o intervalo de tolerância varia de 2,25% a 5,25%. Para alcançá-la, o Banco Central eleva ou reduz a taxa básica de juros da economia (Selic), encarecendo o crédito e travando a economia. Na semana passada, a Selic já foi ajustada para 5,25% ao ano, com o chamado “viés de alta”.

Na ocasião, o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC avaliou que a inflação ao consumidor continuava se revelando “persistente”, sinalizando é com mais uma alta da Selic na próxima reunião, marcada para 21 e 22 de setembro.

A expectativa do mercado financeiro para a inflação de 2021 foi elevada para 6,88%, segundo a pesquisa Focus divulgada pelo Banco Central nesta segunda-feira (9). A expectativa dos analistas para a taxa Selic no fim do ano está em 7,25%.

Da Redação

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