A liberação do auxílio emergencial de R$ 600 nas poupanças digitais da Caixa Econômica, programada para esta segunda-feira (27), foi marcada por confusão e desinformação, com relatos de extensas filas por todo o país. Mais uma vez, o ministro da Economia, Paulo Guedes, confirma o descaso do governo federal com a população, atrasando o pagamento por falhas no sistema da Caixa. Em várias cidades, trabalhadores que chegaram às agências ainda de madrugada relataram falha na geração do código pelo aplicativo para o saque em caixa eletrônico e lotéricas. Destinado a beneficiários que não recebem Bolsa Família e que não possuem conta em banco, o auxílio foi programado para ser liberado de acordo com a data de nascimento, devendo estender-se até o dia 5 de maio. O primeiro pagamento foi liberado para brasileiros nascidos em janeiro e fevereiro.
Centenas de trabalhadores reclamaram sobre a falta de clareza nas regras para a obtenção do benefício. Muitos disseram não ter recebido a confirmação por email, necessária para a realização do saque. A desorganização do governo no pagamento do benefício já tornou-se rotina com a formação, toda semana, de filas nas agências da Caixa, Receita Federal e lotéricas. Segundo o banco, foram abertas mais de 13,7 milhões de Poupanças Digitais.
Mais de 45 dias depois de aprovado no Congresso, o governo falha em proteger a população mais vulnerável do país, fragilizada pela crise sanitária do coronavírus. Cerca de 46 milhões de informais foram cadastrados na Caixa para receber o benefício. “O governo tem feito uma confusão enorme, uma parcela das pessoas nem sabe se tem direito ou não ao auxílio, formando filas na frente da Caixa”, criticou a ex-ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, em debate transmitido nesta segunda-feira (27) na internet pelo Instituto Lula.
“O fato é que esses R$ 600 não chegaram para todo mundo”, afirmou Claudinho Silva, líder comunitário e membro do Comitê Popular de Enfrentamento ao Covid-19, em participação no debate. Silva, morador de São Paulo, relatou casos de pessoas sem o auxílio, como o de dois ex-presidiários que não possuem CPF – e nem conseguem acesso ao serviço para a regularização – , e um motorista de uber, que teve o benefício negado. “A situação na periferia é muito difícil. Se a gente pensar adiante, pode se desesperar”, relatou. “Iguais a esses que eu citei, tem inúmeros [casos]. Tem uma diarista com seis filhos sem auxílio”, relatou.
Diante do quadro de apatia e desinformação gerado pelo governo, Claudinho diz que o comitê tomou a frente na orientação da população, além de promover várias ações para mitigar os efeitos da pandemia na comunidade, como compra de mantimentos, remédios e comida.
“O governo não trata a população mais pobre como ele trata os bancos”, afirmou a advogada e diretora do Instituto Lula, Tamires Sampaio, também presente no debate. “Quando começou a crise do coronavírus, a liberação de financiamento para os bancos foi muito rápida. Mas vemos famílias enfrentando dificuldades com a burocracia para ter acesso à renda emergencial”, comparou ela.
“O governo atrasa o pagamento porque o plano não é manter as pessoas em casa”, observou Campello. “A orientação do governo não era resolver o problema de renda da poulação, que quer ficar em casa mas precisa dessa segurança para ter o que comer”, criticou. Segundo a ex-ministra, a situação é grave, trata-se de uma crise sanitária sem precedentes, e exige medidas à altura do problema. “Todos os países estão fazendo a mesma coisa, passando dinheiro para as pessoas”. De acordo com a ministra, no Brasil o governo cria burocracias porque não confia na população mais pobre.
Nesta segunda, o governo deveria liberar a segunda parcela do auxílio emergencial de R$ 600, de acordo com o cronograma da própria Caixa. Mas o banco suspendeu o pagamento, afirmando que depende de repasse de recursos pelo Ministério da Cidadania. Ainda não há previsão para a retomada dos pagamentos.
Da Redação