Omisso, ministro da Saúde continua afogado na incompetência

Governo Bolsonaro prometeu entregar 14.100 respiradores, mas Nelson Teich diz que só garante o envio de 272 equipamentos. E isso acontece no final do mês. Enquanto isso, o sistema público de saúde está perto do colapso em várias capitais. País já tem 4.543 mortes

Edson Lopes

Enterro de vítimas do Covid-19 no cemitério de Vila Formosa, em São Paulo Paulo

A burocracia, o improviso e falta de sensibilidade do governo com  a pandemia do coronavírus estão piorando as condições de enfrentamento da doença. Dez dias depois de assumir o cargo, o ministro da Saúde, Nelson Teich, desconhece as necessidades e providências necessárias para fortalecer o Sistema Único de Saúde (SUS) e dar condições aos profissionais da saúde de atuarem com mais eficiência no combate ao Covid-19. O número de mortos não para de crescer e estados como Pernambuco, Rio de Janeiro e Amazonas, Ceará estão à beira do colapso.

No sábado, Teich anunciou que, dos 14.100 respiradores prometidos pelo governo para o envio aos estados, só serão entregues até o fim do mês apenas 272 equipamentos. Isso representa 2% do total previsto pela pasta. O restante só deve ser entregue em agosto, quando o pior da pandemia já tiver matado milhares de brasileiros. Nesta segunda-feira (27) o número de óbitos chegou a 4.543 casos. O número de infectados já supera 66.500 registros confirmados oficialmente.

O jornal inglês Financial Times noticiou no domingo que o número de mortos em todo o planeta, que já tem mais 200 mil mortos, deve ser pelo menos 60% maior, devido ao número de subnotificações. Isso elevaria o número de óbitos em todo o planeta para mais de 318 mil casos. Para calcular o número de mortes acima da média histórica, o diário britânico comparou as mortes por todas as causas de cada país nas semanas de epidemia entre março e abril com as médias de fatalidades no mesmo período entre 2015 e 2019. O total de 122 mil mortes é 50% maior do que a média histórica nos países estudados.

Em São Paulo, o número de mortes em casa dobrou durante a pandemia. Entre 10 e 20 de abril, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), criado pelo governo Lula, emitiu 20 atestados de óbito para moradores da capital que faleceram em seus domicílios com sintomas claros da Covid-19. Todos foram testados para a doença, mas alguns resultados ainda não ficaram prontos. No mesmo período, o Samu emitiu outros 120 atestados de óbito nas residências de São Paulo. Trata-se do dobro do que era registrado em intervalo de tempo semelhante antes da pandemia.

Sem reuniões com estados

A omissão de Teich à frente da guerra contra o coronavírus tem provocado críticas à atuação do Ministério da Saúde. Secretários estaduais reclamam que o novo ministro é frio, distante, vacilante e tutelado. Desde que ele assumiu o cargo, não foi possível a realização de nenhuma videoconferência com os secretários estaduais. A presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, cobrou diligência de Teich. “Que ministro da Saúde é esse que em plena pandemia não faz reunião com os secretários de saúde dos estados? Dez dias em uma pandemia é muito tempo”, criticou.

As promessas de compras de testes também são vagas e absolutamente fora da realidade. Teich assumiu e anunciou a compra de 46 milhões de testes, o que significaria submeter quase 25% da população brasileira ao exame para detectar o Covid-19, o que parece ser inviável. Ex-ministro da Saúde, o senador Humberto Costa (PT-PE) disse que caso a hipótese fosse realizada no atual ritmo de testes promovidos pelo governo brasileiro, a conclusão dos exames ocorreria somente em 2037.

Nesta segunda-feira, Gleisi apontou soluções mais baratas que poderiam ser adotadas pelo governo federal para garantir equipamentos médicos neste momento da pandemia. Ela apontou que um modelo de espirador criado na USP foi aprovado em testes com humanos. Cada aparelho é feito em 2 horas e custa 15 vezes menos do que os ventiladores no mercado. Um protótipo foi festado em pacientes do Hospital das Clínicas e o projeto será enviado para aprovação da Anvisa. “Viva a universidade pública”, destacou.

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