A Agência PT conversou com a nova líder do PT no Senado, Gleisi Hoffmann (evi
). A senadora pelo Paraná foi escolhida, no último dia 8 de fevereiro, para liderar a bancada do partido no Senado Federal.
Entre os tópicos, Gleisi falou do papel dos senadores petistas frente aos retrocessos impostos pelo usurpador Michel Temer com suas reformas que retiram direitos e da importância do partido ter uma mulher na sua liderança no Senado.
“Acho que o PT reafirma seu compromisso com as mulheres, com o empoderamento das mulheres. De fato, uma mulher na liderança é uma forma de nós questionarmos esse governo, que é um governo ilegítimo, composto basicamente de homens brancos”, afirmou.
A sabatina de Alexandre de Moraes para a vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) também foi pauta da entrevista. A líder garantiu uma atuação firme na bancada petista, que questionará ao então ministro da Justiça de Temer como será sua postura em relação à Operação Lava Jato, caso seja confirmado no STF.
“Votaremos contra. Somos contra essa indicação. O PT vai perguntar sobre todas as coisas que precisam ser perguntadas, vamos inquirir sobre todas as questões e queremos respostas muito claras. Se ele não vai se utilizar do cargo para fazer política partidária, como se utilizou em outras ocasiões”, declarou
Leia a entrevista na íntegra:
Agência PT: Senadora, a senhora acaba de assumir a Liderança da bancada do PT no Senado. Nesse momento de tantos ataques e retrocessos às mulheres, o que representa uma mulher líder do PT nesta casa?
Gleisi Hoffmann: É muito importante exatamente por conta desse processo. Acho que o PT reafirma seu compromisso com as mulheres, com o empoderamento das mulheres, com as causas de gênero, que são tão importantes e fazem tanta diferença para a população brasileira em termos de políticas públicas e diversidade.
De fato, uma mulher na liderança é uma forma de nós questionarmos esse governo, que é um governo ilegítimo, composto basicamente de homens brancos. Agora estão tentando dar um colorido feminino ou de raça, mas que a gente sabe muito bem como eles pensam, como eles agem, inclusive a misoginia que eles estão incentivando hoje na sociedade.
Nesse ano de 2017, com os desmontes da Previdência e da lei trabalhista em pauta no Congresso, como será atuação do PT no Senado?
Nós temos claro os três pontos que o partido já encaminhou, inclusive junto com a Frente Brasil Popular com a Frente Povo Sem Medo, que são: Fora Temer; Eleições Diretas para presidente ainda este ano; e nenhum direito a menos.
Em relação ao ‘Fora Temer’, vamos fazer uma oposição sistemática e incansável contra esse governo que não reconhecemos como legítimo. E somente eleições diretas podem trazer a legitimidade, tanto que nós vamos trabalhar para que uma PEC seja aprovada para antecipar as eleições diretas para este ano.
E nenhum direito a menos é a resistência contra as reformas que querem retirar direitos, como a reforma da Previdência, a reforma trabalhista. Essas reformas vão além de retirar direitos, pois têm impactos muito negativos na economia.
Hoje nós estamos com recessão, a economia está no chão e o governo continua fazendo coisas que pioram a economia.
Por isso, o PT está preparando também, além de todas essas medidas de resistência, uma proposta para que o Brasil saia da crise.
Então também é papel do PT esse ano ter uma ação mais propositiva?
Com certeza, mostrar que nós temos alternativa para governar o Brasil. Até para que a população tenha claro como que nós atuaríamos se no governo estivéssemos.
Isso é tão importante que as pessoas já começam a ver que há erros na condução da política econômica, e começam a questionar, pois lembram que na crise de 2008 e 2009 o presidente Lula conseguiu sair da crise rapidamente, conseguiu dar uma resposta ao Brasil. Até gozavam que ele chamava a crise de ‘marolinha’. Mas ele tomou medidas concretas para melhorar e proteger a vida do povo mais pobre, do povo mais vulnerável.
O que nós estamos vendo agora é um comprometimento do governo e de parte considerável desse Congresso com o andar de cima da sociedade, com os ricos, com aqueles que defendem o capital financeiro, e não com a população.
Nós temos que enfrentar essa taxa de juros, que precisa cair. Não podemos mais deixar os títulos públicos serem remunerados pela Selic. Temos que colocar dinheiro na mão das pessoas, dinheiro na mão dos pobres, aumentando as parcelas de seguro desemprego, corrigindo o salário mínimo pelo valor real, corrigindo o valor do benefício do Bolsa Família.
Temos que colocar dinheiro na faixa 1 do Minha Casa, Minha Vida, e não na faixa 3, que é exatamente para dar condições da população ter acesso à casa, mas de se fazer mais residências, mais empreendimentos, movimentar a construção civil, dar emprego para as pessoas. É isso que nós precisamos fazer. Isso tudo melhora as condições de vida do povo brasileiro.
Como líder do PT no Senado, a senhora já teve que enfrentar a tentativa da base governista de antecipar a sabatina de Alexandre de Moraes, indicado por Temer para ser ministro do Supremo Tribunal Federal. Foi mais uma tentativa de golpe?
A base do governo tentou, mas nós conseguimos enfrentar. Não podemos deixar que o regimento seja rasgado.
É lamentável que a bancada do PMDB tenha trazido essa proposta de fazer a sabatina em 24 horas da leitura do relatório. Isso nunca aconteceu na casa. Eu lembro que no caso do ministro Fachin, o último que nós fizemos a sabatina para o Supremo Tribunal Federal, nós tivemos interstício de 15 dias. Levou 15 dias entre a leitura do relatório e sua sabatina. Nós jamais poderíamos aceitar 24 horas.
Aliás, nós não entendemos o porquê dessa pressa, esse afobamento. Será que a base está tão insegura assim em relação ao seu indicado?
Avalio que a Comissão de Constituição e Justiça, principalmente pela ação da oposição, da bancada do PT, manteve a postura correta, ou seja, tem que ter um interstício. Então a oposição foi firme, mostrou ao governo que não é assim que vai se trabalhar aqui dentro e a sabatina vai acontecer no dia 21.
Por que seria prejudicial antecipar a sabatina?
Porque toda sabatina tem interstício de cinco dias úteis para que a sociedade possa tomar conhecimento de quem está sendo indicado. Ler seu currículo, se informar, saber, para poder opinar junto à CCJ. Nós temos isso como regra. Então por que nós iríamos tolher a sociedade de ter manifestação sob o indicado?
E qual vai ser a atuação do PT na sabatina de Alexandre de Moraes?
O voto é secreto, mas nós já adiantamos a nossa posição como bancada. Nós votaremos contra. Somos contra essa indicação, achamos que ela tem um teor partidário muito grande, e principalmente em um momento de crise política e institucional em que vive o País é ruim termos uma indicação com esse perfil.
É bom ressaltar que já achamos que há vício de origem na indicação de Moraes, pois consideramos que Michel Temer não tem legitimidade e, portanto, não poderia indicar.
O PT vai perguntar sobre todas as coisas que precisam ser perguntadas e queremos respostas muito claras. Nós queremos saber, por exemplo, como ele vai se comportar no julgamento do impeachment da presidenta Dilma, que temos um recurso lá. Ele vai se declarar impedido? Vai julgar? Como ele vai se comportar?
Ou no Tribunal Superior Eleitoral, que tem rodízio entre os ministros do Supremo. Quando tiver ações relativas ao PT, como ele vai se comportar? Ele já tem sua opinião sobre o PT e inclusive a manifesta publicamente. Ele tem que responder isso, como tem que responder sobre a Lava Jato.
Então essas coisas têm que ficar muito claras. Se ele não vai se utilizar do cargo para fazer política partidária, como se utilizou em outras ocasiões. Nós vamos inquirir sobre todas as questões.
Por Luana Spinillo, da Agência PT de Notícias