No ano em que celebra 50 anos, o movimento Hip Hop vem ganhando mais visibilidade no governo federal. O estilo musical caracterizado por batidas rítmicas, som grave e letras de protesto, tem sido tratado como um aliado naquilo que é uma das premissas da atual gestão: o enfrentamento à violência doméstica e despertar a conscientização sobre o respeito à mulher.
No Brasil, o gênero ganha cada vez mais representantes. Muitas artistas vêm para quebrar a norma de que o palco e o microfone pertencem apenas aos homens. Por meio das letras, mulheres relatam casos de violência, superação, denúncias e justiça. A música, como instrumento de transformação social, é uma excelente ferramenta para adentrar em todos os públicos, especialmente os jovens. É urgente repovoar o imaginário popular com amor e respeito às mulheres, de forma a eliminar o machismo da prática cotidiana das comunidades.
Em junho, a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, teve encontro com representantes do Movimento Hip Hop de dez estados brasileiros, além do deputado estadual Renato Freitas (PT-PR). Na ocasião, Gonçalves destacou a importância do movimento no combate à violência de gênero: “Esse momento é muito importante para o Ministério das Mulheres, nesse encontro com o movimento foi discutido o planejamento das ações e atividades. A cultura Hip Hop faz a diferença, chega nos territórios, nas periferias, nas mulheres e homens, e o Ministério das Mulheres, junto ao movimento do Hip Hop, vai enfrentar a misoginia e o ódio e nós vamos construir a igualdade neste país.”
Em entrevista para a Secretaria Nacional Mulheres do PT, a jornalista Cláudia Maciel, uma das facilitadoras gerais da Construção Nacional do Hip Hop, explica como o movimento cultural e musical pode ser ferramenta no combate à violência contra a mulher.
Para Maciel, o Hip Hop educa. Segundo ela, todos os elementos da cultura Hip Hop enviam mensagens que são fio-condutores da transformação social, e também, da reconstrução do Brasil. “O Hip Hop empodera, transforma problema em arte. Minimiza os danos causados pelas violências, e também os previne”, aponta Maciel. “O Hip hop em sua essência também é uma forma de selar a paz acordando normas entre a diversidade. Essas normas, no caso da violência contra a mulher, são quanto à inclusão, ao respeito, ao acolhimento e à promoção da justiça. O Hip Hop já identificou há muito tempo que a pauta das mulheres é urgente”.
“A luta da mulher no movimento é por meio do encontro com poesias, danças, grafite e músicas e, que também é uma nova perspectiva para essa parcela da população”, assegura. Por meio do Hip Hop, a jornalista continua, “as mulheres cis e trans têm se mantido atuantes em seus propósitos e demonstram como a arte e a cultura são fundamentais em uma sociedade.”
Reaproximação com o poder público
Sobre o encontro com a ministra Cida, a liderança da Construção Nacional do Hip Hop destacou a retomada do diálogo entre governo federal e movimentos sociais, fato limado durante a gestão passada. “A ministra nos acolheu muito bem. Foi um encontro em que pudemos falar das nossas questões enquanto pessoas que são invisibilizadas perante a sociedade por suas características. E isso, em todos os espaços. Nesse diálogo, firmamos parceria”, destacou.
“Um comprometimento que possui interface real e se dará efetivamente na criação de políticas públicas. O primeiro trabalho que vamos desenvolver juntes é o combate à misoginia. A ministra pontuou em nosso encontro que esse tema é urgente”, justificou ela. “E cabe salientar que machismo e misoginia são diferentes. As críticas e ações sobre a ultrapassada superioridade masculina, embora ainda ande a passos lentos, já alcança imaginários, porém o ódio, preconceito ou a aversão às mulheres é um tema que precisa ganhar espaço e efetividade, ainda mais após o cenário político anterior ao de 2023. E isso só será possível se toda a sociedade se comprometer, e nós, nos comprometemos”, revelou Maciel.
A entrevistada destaca, ainda, o poder de inserção do movimento em camadas marginalizadas da sociedade. Segundo Maciel, as mulheres e os homens que integram a cultura Hip Hop estão “onde ninguém quer estar e com quem ninguém quer estar ao lado. Nós, que estamos nos presídios, na socioeducação, nas favelas e periferias e nas ruas dialogando com as pessoas que são consideradas “problema”. Infelizmente, essas pessoas são a maioria da população. Se o governo não se aproximar, pode propor a melhor política pública, mas a ação não é efetiva”, pontuou.
O Hip Hop como diálogo comum
Mas, por que usar esse gênero musical para passar uma mensagem de respeito e valorização? A jornalista revela que a essência do Hip hop é a busca por valorização, respeito e gestão de vidas periferizadas e favelizadas: “O Hip hop é palpável, a gente sente na pele e é o nosso dia a dia. O Hip-hop é um modo de vida, não é só um gênero musical ou uma dança. Existe em nós a essência Hip hop que é anti-sistêmica. Estamos em todos os espaços, principalmente nos de luta”, anunciou.
“Temos famílias constituídas dentro do Hip hop, parlamentares, ministros, garis, pastores, drag queens, indígenas, mães de santo, acadêmicos… E esse modo de vida não é de agora. Não é ocidental. Nasceu da origem do mundo, a África. A filosofia Ubuntu, por exemplo, que está sendo revivida e ganhando força no Brasil, a maior diáspora africana, é uma das essências do Hip Hop. Nosso povo é por essência respeitoso e de valor. Porém, com o apagamento da nossa memória, muitos de nós fomos criados longe dos nossos costumes. Mas é válido salientar que, a essência quando resgatada, aflora e resulta em organização. A Construção Nacional do Cinquentenário da Cultura Hip Hop é um exemplo disso”, encerrou.
História do movimento
Neste ano, o Hip Hop completa 50 anos, e foi originado nos Estados Unidos, em 1973, mas alguns dizem que surgiu na Jamaica. Segundo informações do portal Jornal do Rap, “o rap é a forma musical do Hip Hop, que consiste em rimas faladas sobre uma base rítmica. O breakdance é a forma de dança do Hip Hop, que envolve movimentos acrobáticos e sincronizados com a música. O grafite é a forma de arte visual do hip hop, que consiste em desenhos e inscrições feitos com spray nas paredes da cidade”.
Essas três formas de expressão se tornaram populares entre os jovens negros e latinos que viviam nas áreas mais pobres e violentas de Nova York. Eles usavam o Hip Hop como uma forma de protesto, de identidade e de diversão.
Da Redação do Elas por Elas, com informações do Jornal do Rap