Ana Clara, Agência Todas
Essa é a terceira matéria da série “Corovavírus e Mulheres” do projeto Elas Por Elas. Estamos acompanhando as informações relacionadas às mulheres e os impactos do Covid-19 na população feminina.
Com brasileiras e brasileiros à mercê de áudios nada confiáveis de WhatsApp, links com conteúdos suspeitos, a desinformação se instaura e os dois lados do pior cenário se consolida — o pânico e a indiferença. Enquanto isso, o presidente da República se furta da responsabilidade e não toma nenhuma medida responsável condizente com o cargo público que ocupa.
Diante da realidade das mulheres trabalhadoras, cuidadoras de idosos e crianças, precarizadas, desempregadas, gestantes, profissionais de saúde, o que devemos exigir do governo para que a situação não se torne insustentável e incontrolável?
Conversamos com a dra Sofia Alves e Silva, membro da Rede Nacional de Médicas/os Populares. Sofia é médica do SUS, faz parte do programa Mais Médico e atua na Estratégia de Saúde da Família, em Osasco.
.Defender o SUS
“Em primeiro lugar, é importante reforçar que a principal forma que temos para combater o Coronavírus é defendendo o SUS”, assim começa o assunto com a dra Sofia Alves.
O nosso Sistema Único de Saúde (SUS) é o maior sistema público de saúde do mundo, considerando países com mais de 100 milhões de habitantes. O SUS é universal, público e gratuito, ou seja, qualquer pessoa pode ser atendida no nosso sistema, mesmo se não for brasileiro ou brasileira, porque as bases fundantes do SUS são a garantia da vida em primeiro lugar. Essa é uma diferença, por exemplo, em relação a outros sistemas públicos de saúde conhecidos como da França e Inglaterra, que atendem apenas residentes no próprio país. O SUS não é só atendimento, ele também cobre educação em saúde, prevenção e assistência.
“Essa é nossa principal vantagem contra essa pandemia”, afirma Sofia.
De fato, na Espanha, por exemplo, o governo decretou a nacionalização de todos os hospitais privados para lidar com a crise da pandemia que, até dia 16/03, registrava mais de mil casos. De acordo com o decreto, toda a população espanhola teria acesso a todos os meios necessários do sistema privado para enfrentar o Coronavírus. O ministro da saúde espanhol, também anunciou que espaços públicos e privados estariam habilitados para se transformarem em locais de assistência para cuidar dos doentes.
.Derrubar medidas que cortam verbas da saúde pública
Com o golpe que derrubou a presidenta Dilma, o governo Temer aprovou a PEC 95 que cortou recursos da saúde pública e de várias outras áreas estratégicas para a população.
“Os recursos que temos hoje são insuficientes para lidar com o que tem sido a progressão da doença pelo mundo, e a desigualdade que vem se aprofundando em nosso país agravam muito todo o quadro”, explica reforça Sofia.
A médica aponta a necessidade de derrubar medidas que vieram desestruturando o SUS nos últimos dois anos, tais como a Emenda Constitucional 95, que congela recursos para saúde pública pelos próximos vinte anos; e as portarias lançadas em 2019 que mudam e reduzem o financiamento para a Atenção Primária em saúde, que é a porta de entrada do SUS.
“No Rio, por exemplo, a administração Witzel veio fechando Clínicas de Família e demitindo profissionais de saúde da Rede Pública, o que fragiliza muito nossa possibilidade de resistir a essa epidemia”, aponta a médica popular.
Temos que nos mobilizar para que possamos sair dessa pandemia com o SUS fortalecido, com mais recursos, mais profissionais, mais Unidades Básicas de Saúde, mais leitos hospitalares, e que essa seja uma conquista permanente para o povo brasileiro.
.Garantir políticas de combate à violência contra a mulher
Reportagens recentes revelaram aumento das denúncias de violência contra a mulher na China, durante o período de quarentena. Espaços de acolhimento e assistência do SUS, reforçar redes de apoio, criar estratégias para denúncias e funcionamento de delegacias de mulheres são algumas medidas necessárias para proteger as mulheres das consequência dos período de resguardo. “Precisamos reforçar para as mulheres que a violência não é aceitável e que ela vem na maioria das vezes de dentro de casa, e que nesses casos elas devem procurar suas redes de apoio, o Sistema de Saúde e denunciar na delegacia da Mulher”, orienta Sofia.
.Cuidar de quem cuida
As mulheres são a maioria dos profissionais de saúde do SUS. São agentes de saúde, enfermeiras, atendentes, auxiliares, instrumentistas, médicas e, com o agravamento do quadro internacional, elas estarão mais expostas ao risco.
“De modo geral, as mulheres exercem historicamente o lugar de cuidado na sociedade. E o que vemos normalmente no sistema de saúde é que, na maioria das vezes, elas não se furtarão de dar suporte a uma pessoa doente, ainda que isso signifique um risco”, afirma Sofia.
Portanto devemos exigir do governo medidas e orientações à população para não sobrecarregar o sistema de saúde. Além de ser uma atitude de responsabilidade coletiva, também protege muitas mulheres da exposição ao vírus.
Enquanto o governo não faz como deveria ser feito e na escala necessária para conter a pandemia em âmbito nacional, indicamos as orientações de especialistas.
Sofia reforça que os procedimentos de prevenção ao Coronavírus são iguais para todos, homens e mulheres, pois a transmissão se dá pelo contato de gotículas de saliva, expelidas ao espirrar, tossir ou falar, com as vias respiratórias.
“É preciso lavar a mão com frequência ou fazer uso de álcool 70%; evitar tocar boca, olhos e nariz com mãos que não estejam devidamente higienizadas; evitar aglomerações e lugares fechados; cobrir boca e nariz com o antebraço ou um lenço ao espirrar e tossir; evitar contato próximo com pessoas com sintomas de gripe e permanecer em casa se tiver esses sintomas; e pessoas sintomáticas – e apenas elas – devem usar máscara para circular”, orienta a doutora.
O Elas Por Elas segue alerta nesse assunto e voltaremos com mais informações sobre o tema, caso seja necessário. Acompanhe pelo site http://pt.org.br/elas-por-elas