Da Redação, Agência Todas
O laboratório de visualização urbana, Medida SP, lançou ontem um mapa interativo com base no último Censo do IBGE que revela as limitações do isolamento vertical como medida de controle de contaminação pelo Coronavírus. O estudo revelou que mais de 25% dos moradores da região metropolitana de São Paulo vivem em domicílios com mais de duas pessoas por dormitório, a maior parte deles nas áreas periféricas.
O isolamento vertical é uma proposta do governo Bolsonaro que prevê o resguardo apenas para as pessoas dos grupos de risco. Segundo o mapa do Medida SP, é possível avaliar que a estratégia apontada pelo governo Bolsonaro não considera a desigualdade social e urbana do país.
O Medida SP mapeou o percentual de domicílios com mais de dois moradores por dormitório e revelou o abismo social conhecido das grandes metrópoles brasileiras. Enquanto no Itaim Bibi, em São Paulo, só 2% dos domicílios tem mais de duas pessoas por quarto, em Paraisópolis esse número é de 44%. Se considerar o corte como mais de três pessoas por quarto, são 19% dos domicílios em Paraisópolis nessa condição.
No Itaim Paulista, bairro na zona leste paulistana, cerca de 32% dos domicílios têm mais de dois moradores por quarto. Esse padrão de diferença entre centro e periferia é observado em toda a Região Metropolitana de São Paulo.
“As mulheres, principalmente da periferia, são as mais expostas a essas condições, pois cabe a elas o cuidado com as pessoas doentes, sejam as crianças ou os idosos, dormindo no mesmo dormitório e mantendo contato permanente”, observa a secretária nacional de mulheres, Anne Karolyne.
Em domicílios com muitos moradores por quarto, pode ser praticamente inviável adotar medidas de isolamento caso algum morador apresente sintomas do coronavírus, ou seja de um grupo de risco. Esse ponto se soma a uma longa lista de fatores que podem colocar as periferias em risco, incluindo falta de água, saneamento básico, resultados da profunda desigualdade social brasileira.
Segundo o Medida SP, os dados mostram a ineficácia do isolamento vertical para boa parte das periferias devido a características das moradias, com muitas pessoas para poucos quartos. Ou seja, traria mais danos sobretudo para as populações que já são as mais vulneráveis nas metrópoles.
Belém do Pará