A submissão cega do ministro da Saúde Marcelo Queiroga ao negacionismo de Jair Bolsonaro ficou mais uma vez demonstrada na última sessão da CPI da Covid, nesta terça-feira (19). Os senadores colheram depoimento de Elton da Silva Chaves, do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems) junto à Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias do Sistema Único de Saúde (Conitec). No dia 7, o órgão retirou de pauta parecer contrário ao uso de drogas que integram o ‘kit covid’, medicamentos ineficazes contra a Covid-19 mas amplamente utilizados no Brasil de Bolsonaro. Chaves declarou que se posicionou contra a suspensão da análise técnica, determinada pelo coordenador do grupo, Carlos Carvalho.
A inacreditável demora do órgão em definir um protocolo sobre drogas como a hidroxicloroquina e ivermectina, que integram o kit de Bolsonaro, indignou os senadores, tendo em vista que a Organização Mundial da Saúde (OMS) abandonou estudos sobre o tratamento com hidroxicloroquina em pacientes com Covid há mais de um ano. Em julho de 2020, a OMS passou a não recomendar a utilização da droga.
“Nós nos surpreendemos com a manifestação do doutor Carlos Carvalho e pedimos justificativas plausíveis para o pedido de retirada de pauta”, relatou Chaves. “Estávamos ansiosos e na expectativa de já analisar esse documento. Há uma expectativa dos gestores de ter uma orientação técnica para que a gente possa organizar os serviços e orientar os profissionais na ponta. Por isso, nossa surpresa”, informou.
O senador Humberto Costa (PT-PE) lembrou do papel da Conitec, de assessoramento ao governo em decisões técnicas sobre a incorporação, exclusão ou alteração de tecnologias utilizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e protocolos clínicos. O órgão não tem, portanto, poder de decisão, reiterou o senador.
“O ministro Marcelo Queiroga, por covardia e por querer agradar o presidente, mandou [o assunto] para avaliação da Conitec uma questão que está resolvida pela ciência desde o ano passado”, apontou o senador, referindo-se ao ‘kit covid’. Costa destacou sua perigosa utilização em larga escala por operadoras como a Prevent Senior, que administrou o kit covid de modo indiscriminado em pacientes infectados.
“Temos a obrigação de acompanhar investigações que tratem desse caso. Em Manaus, foram 200 mortes. A própria Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) se manifestou contrariamente a essa experiência científica. E ela foi reproduzida sob orientação do mesmo médico no hospital da brigada Militar do Rio Grande do Sul, também com mortes”, denunciou.
O senador Rogério Carvalho (PT-SE) acusou a Conitec de omissão em relação ao parecer sobre o ‘kit covid’ ou mesmo a recomendação de um protocolo com orientações baseadas na ciência. “A oitiva de Elton Chaves do Conasems, deixa claro que houve uma prevaricação sequenciada da Conitec ao permitir o Ministério da Saúde enviasse uma diretriz ideológica do ‘kit covid’ para os municípios, e por não passar orientações técnicas de como tratar pacientes de Covid”, apontou Carvalho.
Da Redação