A CPMI do Golpe começou sua sessão desta quinta-feira (22) ouvindo três policiais civis do Distrito Federal que investigaram a tentativa que bolsonaristas fizeram de explodir um caminhão-tanque no aeroporto de Brasília, na véspera do Natal do ano passado. Eles foram ouvidos antes de George Washington de Oliveira Sousa, um dos homens já condenados pelo atentado.
O testemunho dos três agentes — os peritos criminais Renato Martins Carrijo e Valdir Pires Dantas Filho e o delegado Leonardo de Castro Cardoso, diretor do Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Decor) — ajudou a mostrar como os discursos golpistas de Jair Bolsonaro e seus cúmplices levaram a sucessivos atos de terrorismo e à tentativa de golpe de 8 de janeiro.
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Inspirados em Bolsonaro
O deputado Rubens Pereira Júnior (PT-MA) pediu ao delegado Leonardo Cardoso confirmar trechos do depoimento de George Washington que constam de inquérito policial já tornado público. Em um dos trechos, o bolsonarista disse à polícia: “A minha ida a Brasília tinha como propósito participar dos protestos que ocorriam em frente ao QG e aguardar o acionamento das Forças Armadas para pegar em armas e derrubar o comunismo”.
Em seguida, ele contou, sobre o grande arsenal encontrado no apartamento que ele alugava em Brasília: “O que me motivou a adquirir as armas foram as palavras do presidente Bolsonaro, que sempre enfatizava a importância do armamento civil, dizendo o seguinte: um povo armado jamais será escravizado”.
Após a confirmação de que essas foram as palavras do criminoso, Rubens Júnior destacou: “Com isso, a gente já sabe por que o George Washington tinha tanta arma, e já sabe por que ele veio para Brasília”.
Em seguida, o deputado leu outro trecho de depoimento, também confirmado como verdadeiro pelo delegado Cardoso. “Porém, ultrapassado quase um mês [desde a chegada a Brasília], nada aconteceu, e então eu resolvi elaborar um plano com os manifestantes do QG do Exército para provocar a intervenção das Forças Armadas e a decretação do Estado de Sítio para impedir a instauração do comunismo no Brasil.”
A conclusão óbvia, diante desses trechos, ressaltou o deputado, é que a motivação de George Washington era, inspirado pelo discurso golpista de Bolsonaro, criar um caos social que motivasse a intervenção das Forças Armadas.
“A gente percebe, então, qual era o motivo da tentativa de golpe, da tentativa de colocar uma bomba no aeroporto de Brasília, inspirada pelo ex-presidente Bolsonaro, querendo criar o caos social e político no nosso país para dar um golpe de Estado e impedir que o presidente Lula assumisse em 1º de janeiro. Esses são os motivos desse crime. Isso tudo consta nos autos e é confirmado pelo delegado que procedeu essa investigação”, ressaltou Rubens Júnior.
O efeito final do bolsonarismo
Ao falar um pouco antes do colega petista, o deputado Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ) ressaltou o perigo representado pela estratégia de desinformação usada em todo o mundo pela extrema direita, que tem no bolsonarismo sua face brasileira.
“A extrema direita globalmente é o bizarro tentando se passar por comum e normal. Tipo: não existia vírus, a vacina não funciona, a Terra é plana. Ridículo, só que não é amador. E produz violência, ódio, negacionismo, desinformação. Isso não é brincadeira, isso produz carro-bomba. O efeito final do bolsonarismo é um carro-bomba prestes a explodir”, acusou.
E completou: “Se fosse só discurso, já seria grave. Mas não é só discurso. Influencia famílias, comportamentos, manipula sentimentos religiosos e leva pessoas ao auge do fanatismo, a um mundo paralelo, dispostas a montar um carro-bomba e explodir um aeroporto”.
O deputado criticou ainda a tentativa que a extrema direita faz agora de culpar o governo Lula pelo golpe que ela insuflou. “É o curioso e tragicômico caso de uma extrema direita que articulou um golpe e depois busca responsabilizar um governo eleito. Coloca mais peso de responsabilidade numa eventual omissão da vítima do que na incompetência do algoz. Isso é bizarro.”
Da Redação