As investigações realizadas pela CPMI do Golpe mostraram que os atentados de 8 de janeiro foram resultado de um longo processo golpista. Por isso, a culpa não pode recair apenas nas pessoas que invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes, mas também naqueles que conceberam, estimularam e financiaram a tentativa de golpe, o que inclui Jair Bolsonaro.
Foi o que defenderam os senadores Fabiano Contarato (PT-ES) e Rogério Carvalho (PT-SE) na sessão desta terça-feira (3) da comissão parlamentar mista de inquérito, que teve como depoente o empresário do agronegócio Argino Bedin, apontado como um dos financiadores da tentativa frustrada de golpe.
Como outros bolsonaristas, Bedin se acovardou e se recusou a responder as perguntas dos membros da CPMI. Assim, coube aos parlamentares expor o fato de caminhões pertencentes ao empresário e seus familiares terem sido usados para bloquear estradas após a derrota de Bolsonaro e engrossar as fileiras no acampamento golpista em frente ao Quartel General do Exército em Brasília.
Carvalho: “Bolsonaro é corresponsável”
Rogério Carvalho lembrou que o 8 de Janeiro não teria acontecido sem a participação direta de empresários como Bedin, sem o apoio de alguns membros da cúpula das Forças Armadas e sem a atuação de políticos da extrema direita, que replicaram fake news e desinformações sobre o sistema eleitoral. E que todos esses atores buscavam um mesmo objetivo: manter Bolsonaro no poder mesmo após sua derrota nas urnas.
Por isso, o senador defendeu o indiciamento de todos os responsáveis, incluindo o de Jair Bolsonaro, que seria, no fim das contas, o maior beneficiário do golpe.
“O trabalho desta comissão deve, por obrigação, indiciar o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro como autor, como mentor, como articulador da tentativa de golpe e corresponsável pelos atos terroristas do dia 8 de janeiro”, afirmou Carvalho.
Contarato: “Bolsonaro foi o mentor”
Líder do PT no Senado, Fabiano Contarato lembrou que a lei brasileira prevê punição também para aqueles que, de alguma forma, colaboram para que um crime seja praticado. “O Código Penal é claro quando, no artigo 29, determina que quem de qualquer forma concorre para o crime incide nas mesmas penas”, citou.
Advogado e delegado de polícia, Contarato explicou que a culpa recai igualmente sobre a pessoa que agiu de “forma incidental”. “É a chamada figura do partícipe, seja o partícipe moral na forma de induzimento, aquele que incute a ideia golpista; seja o partícipe moral na forma de instigação, quando ele reforça a ideia golpista; e seja o partícipe material, aquele que auxilia a prática do crime.”
E, então, concluiu: “Eu espero que o senhor e qualquer pessoa que tenha concorrido para esse fato seja responsabilizado, inclusive o ex-presidente (Bolsonaro), que para mim foi o mentor intelectual, que ficou quatro anos vilipendiando a democracia, as instituições, atacando a Câmara, o Senado, o Supremo. Não sabe viver em democracia”.
Comissão na reta final
Por falta de acordo sobre quais seriam as próximas testemunhas convocadas, esta pode ter sido a última oitava da CPMI do Golpe. Ficou mantida para o próximo dia 17 a votação do relatório, a ser apresentado pela senadora Eliziane Gama (PSD-MA).
Os bolsonaristas devem insistir até o fim na ridícula tese de que a culpa pelo 8 de Janeiro deve ser atribuída ao governo Lula. Por isso falam em apresentar um relatório alternativo, que, evidentemente, só servirá para produzir novas fake news para enganar os apoiadores do ex-presidente.
Da Redação