CPMI: Setores das Forças Armadas se envolveram na tentativa de golpe, diz Correia

Após ouvir depoimento do general Gustavo Henrique Dutra, deputado Rogério Correia afirma que o conjunto das Forças Armadas não aderiu ao golpe, mas alguns oficiais, sim. “Terão de ser punidos”, defendeu

Geraldo Magela/Agência Senado

General Dutra depõe na CPMI do Golpe: tentativa nada convincente de que não cabia a ele dar fim ao acampamento golpista em frente ao QG do Exército

“É fato que as Forças Armadas, no seu conjunto, não foram nesta onda, mas (…) é óbvio que houve conivência de setores das Forças Armadas com o processo de golpe. Isso tem de ser esclarecido, e aqueles que assim agiram terão de ser punidos.”

Essa foi a conclusão do deputado federal Rogério Correia (PT-MG) após ouvir, nesta quinta-feira (14), na CPMI do Golpe, todo o depoimento do general Gustavo Henrique Dutra de Menezes. 

No fim do ano passado e no começo de 2023, Dutra era comandante militar do Planalto e, portanto, responsável pela área do Quartel General do Exército em Brasília, onde golpistas acamparam por 69 dias até atacar, em 8 de janeiro, as sedes dos Três Poderes.

Ao depor, o general buscou se esquivar da responsabilidade de ter permitido a permanência, em uma área de segurança nacional, de pessoas que pregavam um golpe de Estado e, ali, planejaram outros crimes, como a tentativa de explodir um caminhão no aeroporto de Brasília.

A contradição do general

A tese apresentada por Dutra foi a de que não cabia a ele ou ao Exército definir se aquele movimento era ou não legal, logo ele não teria “competência para a desmontagem do acampamento”. 

E revelou que, com base nesse entendimento, houve uma ordem do então comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, para que qualquer acampamento em frente a instalações militares só fossem desmontados se houvesse ordem judicial para isso.

Porém, mesmo afirmando que não havia competência do Exército para a desmontagem, o general, contraditoriamente, se preocupou em demonstrar que atuou para desmobilizar o acampamento. 

“As operações foram desencadeadas no modo de estratégia indireta. Nós fomos dificultando a logística, a circulação no interior do SMU (Setor Militar Urbano), solicitamos a atuação da SSP (Secretaria de Segurança Pública do DF) conosco para o combate aos ilícitos, aos ambulantes, às coisas ilegais que porventura acontecessem ali”, declarou.

Conivência evidente

A versão do general foi, evidentemente, pouco convincente. E a fragilidade do que ele dizia se revelou logo no começo da sessão, diante de uma pergunta feita pela relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA).

“Qualquer movimento social conseguiria montar um acampamento semelhante e fazer uma instalação por tanto tempo (na frente do QG de Brasília), a exemplo do que aconteceu com este acampamento?”, questionou a senadora. Dutra fugiu da pergunta: “Senadora, aí estaríamos falando de uma suposição, a gente precisaria ver os fatos, e não tenho condições de responder isso”.

Coube ao senador Rogério Carvalho (PT-SE) dar a resposta da qual o general se esquivou: “No meu estado, general, ninguém pode ficar parado na frente do quartel, porque ninguém deixa. Por que deixaram acumular pessoas em frente de quartéis, que são área de segurança nacional? Por quê? Essa é a pergunta que ninguém responde. Manifestação, na frente do quartel, não pode, porque aquilo é área de segurança. Então, não se justifica ter ali um aquartelamento sob a proteção do próprio Exército”.

O senador prosseguiu: “O acampamento jamais deveria ter sido permitido, porque é área de segurança nacional. Quartel general, quartel, batalhão não se pode nem parar o carro em frente, quanto mais se amotinar contra a democracia. Portanto, é preciso explicar muito ao Brasil e aos brasileiros esses fatos, porque de fato aconteceu um ato terrorista e uma tentativa de golpe, não adianta vir com outras narrativas mentirosas que o povo não engole mais”.

Tomando a palavra pouco depois de Carvalho, o deputado Rogério Correia lembrou ao general que defender a democracia e as instituições democráticas é uma das obrigações das Forças Armadas. Mas que Dutra acabou dando guarida a golpistas, inclusive impedindo qualquer ação da Polícia Militar para a retirada do acampamento (veja vídeo abaixo). 

“O senhor poderia ter tirado (o acampamento). E, pelas respostas que o senhor me deu, o senhor é um desses generais da tese do golpismo, o senhor é um general golpista”, afirmou o deputado.

Braga Netto convocado

Tanto o deputado quanto o senador lamentaram, então, que membros das Forças Armadas tenham atuado contra a democracia brasileira. “A gente vem acompanhando que parte dos oficiais do Exército, da reserva e da ativa, se submeteram a esse papel de fazer das Forças Armadas o puxadinho de um governo que pretendia manter no cargo um presidente a qualquer custo”, disse Rogério Carvalho.

Correia, por sua vez, defendeu a identificação de todos que apoiaram o golpismo e lembrou que a CPMI convocou, para a próxima terça-feira (19), o general Walter Braga Netto, candidato a vice-presidente na chapa à reeleição de Jair Bolsonaro.

Braga Netto, claramente, fez o papel de mensageiro aos golpistas, em 18 de novembro, ao conversar com apoiadores de Bolsonaro no cercadinho do Palácio da Alvorada e pedir que a mobilização antidemocrática continuasse. “Não percam a fé, é só o que posso falar para vocês. Tem de dar um tempo, tá bom?”, foi a mensagem que levou. 

“Esse é outro que tem que se explicar”, disse Rogério Correia na CPMI. “Como é que um general sai do Palácio e diz para os bolsonaristas que não arredem pé porque algo novo vai acontecer. Isso depois de o presidente Lula ter ganhado as eleições. Isso não é golpismo? Um general, candidato a vice-presidente, que fala isso de público? Um evidente golpismo que aconteceu na figura de Braga Netto”, completou.

Da Redação

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