A equipe econômica do governo Bolsonaro continua a bater cabeça, com os principais assessores do ministro Paulo Guedes agora partindo em retirada de Brasília, enquanto o país afunda. Com desemprego chegando a 14,2% em junho e o PIB ameaçando encolher 11% neste segundo semestre, conforme estimativas do próprio Banco Central, o Posto Ipiranga não consegue sequer convencer o próprio presidente da República de sua agenda para o país. O risco agora é que aumente a crise e cresça a desconfiança do governo pela falta de rumo claro para a condução do desenvolvimento do país, atolado desde a saída de Dilma Rousseff da Presidência da República, em 2016.
Em apenas duas semanas, Guedes perdeu quatro assessores próximos e ele próprio reconhece que sofre uma “debandada” na pasta. Ainda assim, agora é o ministro quem arrisca a apontar o impeachment do presidente Jair Bolsonaro, caso venha a mudar a política econômica e faça uma opção menos radical do que a receitada pelo próprio Guedes. “Os conselheiros do presidente que estão sugerindo pular a cerca e furar teto [dos gastos] vão levar o presidente para uma zona de incerteza, uma zona sombria. Uma zona de impeachment de responsabilidade fiscal. E o presidente sabe disso”, disse Guedes, em tom de ameaça.
A presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), avalia que a crise dentro do governo mostra as contradições do presidente. “A debandada do grupo de Guedes expõe a batalha da austeridade e o populismo de Bolsonaro”, aponta. “Um quer arrochar trabalhadores e os mais pobres, poupando ricos, outro quer gastar de forma irresponsável de olho nas eleições. O PT defende que os investimentos sejam retomados em benefício do povo brasileiro”.
A parlamentar cobra o fim da Lei do Teto dos Gastos, com regras transparentes que garantam o investimento público. “A Emenda 95 tem que ser revogada porque reduz investimentos, gasto social e impede a política de valorização do salário mínimo”, explica. Ela lembra que o governo já bateu dois recordes históricos: produziu a maior recessão da história do país em mais de 100 anos e jogou quase 50 milhões de brasileiros no mercado informal de trabalho.
A posição crítica à condução da política econômica é reforçada por outros dirigentes do PT. “O Brasil precisa de mais Estado, mais saúde, mais renda, mais educação e não mais desigualdade”, critica o líder do PT no Senado, Rogério Carvalho (PT-SE). Ele diz que a eventual saída de Paulo Guedes do governo não será lamentada, porque hoje o ministro da Economia é um dos responsáveis pela piora das condições de vida do povo e do aumento da desigualdade, junto com Bolsonaro.
País na berlinda
A “debandada” de assessores levou nesta quarta-feira à queda na bolsa de valores e o assunto virou destaque na imprensa internacional. A agência de notícias Reuters deu destaque à demissão do ‘czar’ da privatizações no Brasil. O empresário Salim Mattar, que estava à frente da Secretaria de Privatizações, pediu demissão, assim como o assessor Paulo Uebel, responsável pelos estudos de reforma administrativa.
Antes dos dois, o secretário do Tesouro, Mansueto de Almeida, pediu para sair em julho e virou diretor do Banco Pactual. Mansueto vai assumir a carteira de créditos do BTG, engordada no mês passado na operação suspeita do Banco do Brasil, que transferiu de maneira inescrupulosa e inexplicável, uma carteira de de R$ 2,9 bilhões, pagando pelo mimo nada mais que R$ 317 milhões, quase 90% de deságio. A operação é um escândalo.
O senador Humberto Costa (PT-PE) ironizou a saída mais recente dos dois colaboradores mais próximos de Guedes no Ministério da Economia. “Desistiram de salvar a economia ou saíram com informações privilegiadas?”, questionou. “Este é o governo da destruição total”. O afastamento de assessores de Guedes aponta para uma crise no governo, mas as demissões são fruto da falta de comando e de rumo na condução do país. A retomada da atividade econômica não virá sem investimentos do Estado, que o governo insiste em não fazer.
Bolsonaro minimizou a saída dos assessores. Sem citar nomes, Bolsonaro escreveu nesta quarta-feira nas redes sociais que “em todo o governo, pelo elevado nível de competência de seus quadros, é normal a saída de alguns para algo que melhor atenda suas justas ambições pessoais”. Ele acrescentou que os dois secretários “vão para uma outra atividade muito melhor”.
Uma reunião ministerial foi convocada para a noite desta quarta-feira, no Palácio do Planalto. Os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), devem participar. De acordo com informações da Presidência da República, também estarão presentes os ministros Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) e Infraestrutura (Tarcísio Freitas), que têm feito uma queda de braço com Guedes para dar novo rumo à política econômica do governo.
Da Redação