No Brasil, o racismo, que gera desigualdade e exclusão, é o fator mais determinante sobre a ocupação da juventude negra nos espaços e quando o assunto são mulheres negras, as barreiras são ainda maiores.
De acordo com a Síntese de Indicadores Sociais, elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base em dados de 2019, 32% das mulheres pretas ou pardas entre 15 e 29 anos não estudavam nem estavam ocupadas no Brasil, a pesquisa considera como ocupada a pessoa que trabalhou ao menos uma hora na semana.
A Síntese destaca desigualdades estruturais. Segundo a analista da pesquisa do IBGE, Luanda Botelho, “uma jovem preta ou parda tinha 2,4 vezes mais chances de estar sem estudar e sem ocupação que um jovem branco em 2019”. As mulheres negras também estavam em desvantagem tanto em relação aos homens de mesma cor ou raça (18,9%), quanto em relação às mulheres brancas (20,8%).
Segundo Luanda Botelho, a diferença entre homens e mulheres vem, sobretudo, do acesso ao mercado de trabalho. “Embora sejam mais escolarizadas que os homens, as mulheres enfrentam dificuldades na transição para o mercado de trabalho, porque muitas delas são responsáveis pelos afazeres domésticos e os cuidados de outras pessoas. Elas também encontram dificuldades mesmo estando na força de trabalho, com maior taxa de desocupação”, explicou.
A pesquisa do IBGE também mostrou que entre as pessoas de 25 anos ou mais de idade, 51,1% não haviam completado o ensino médio, mas apenas 4,5% da população nessa faixa etária frequentavam escola. Um total de 23,8 milhões de jovens com 15 a 29 anos de idade e sem ensino superior completo não frequentavam escola. 57,6% dos homens pretos ou pardos e 53,2% das mulheres pretas ou pardas estavam nessa situação.
É a camada da sociedade jovem,feminina e negra que está representada nos altos índices de desemprego e pobreza, fruto da crise social e econômica desde o Golpe de 2016, mas aprofundada com o governo Bolsonaro e acentuada pelas consequências da pandemia.
No 4º trimestre de 2020, segundo dados do IBGE, mais da metade dos 13,9 milhões de brasileiros desempregados eram mulheres e 60% se autodeclaravam preta ou parda. Ainda com base nesse estudo, 35,3% tinham entre 14 e 24 anos e 40,6% tinham até o ensino médio incompleto.
Quando o assunto ainda é a educação, a situação da juventude negra é pior em todos os aspectos e foram ainda mais acentuadas no período de pandemia, que resultou no aumento do abandono escolar. Um estudo do Instituto Unibanco e Porvir revelou o impacto do racismo no ensino médio. Pelo menos 40% dos jovens negros, entre 15 e 17 anos, não possuem computador ou internet em casa.
Por residirem em áreas vulneráveis com menor cobertura de serviços de saúde, com menos acesso a computadores e internet para acompanhar as aulas remotas, eles tiveram mais dificuldades para seguir aprendendo em 2020. Pelo menos 70% da população negra enfrenta a pandemia sem reservas financeiras, sendo que no país 75% da população negra é pobre.
“O Brasil vive um período desolador com altos índices de desemprego, mas principalmente com falta de investimentos e de políticas públicas que amenizem a situação econômica das milhões de famílias que vivem os efeitos da pandemia, potencializadas pela falta de ação do governo. E estruturalmente, quem mais sofre com essa situação é a população negra e pobre do país, principalmente as mulheres negras, jovens”, destaca a secretária nacional de Mulheres do PT, Anne Moura.
Em julho, o Elas por Elas elaborou uma série de matérias sobre a situação das mulheres negras no país:
Jovens negras lutam para existir
Trabalho precarizado acentua desigualdades para as mulheres negras
Como o racismo institucional afeta a saúde das mulheres negras?
Pandemia agrava a inserção de mulheres negras no mercado de trabalho
Redação Elas por Elas