Relegada ao abandono pela equipe econômica do desgoverno Bolsonaro, a indústria nacional sequer consegue recuperar o já depauperado patamar de antes da pandemia. A queda de 2,4% da produção industrial nacional na passagem de dezembro de 2021 para janeiro de 2022, na série com ajuste sazonal, teve perfil disseminado de taxas negativas, alcançando dez dos 15 locais analisados na Pesquisa Industrial Mensal (PIM).
Os resultados regionais foram divulgados nesta terça-feira (15) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e acompanham o quadro nacional apresentado pela instituição na última quarta-feira (9). Frente a janeiro de 2021, a indústria teve queda de 7,2% em janeiro de 2022, acompanhada por 11 dos 15 locais pesquisados. “Isso nos mostra perda de ritmo da indústria nacional”, resumiu Bernardo Almeida, gerente da pesquisa regional do IBGE.
Amazonas (-13,0%), Minas Gerais (-10,7%) e Pará (-9,8%) sofreram recuos mais acentuados. Paraná (-5,1%), Pernambuco (-5,0%) e Ceará (-3,8%) também registraram taxas negativas mais intensas que a média nacional (-2,4%).
Mas até a indústria de São Paulo, que responde por 34% de todo o setor, sofreu queda de 1,0% e opera 1,6% abaixo do nível de fevereiro de 2020, no pré-pandemia, e 23,6% abaixo do pico alcançado em março de 2011, terceiro mês do mandato de Dilma Rousseff. Na comparação com janeiro de 2021, a produção de São Paulo recuou 8,7% em janeiro de 2022, com perdas em 15 das 18 atividades investigadas.
Almeida apontou fatores conjunturais – desemprego em patamar elevado, inflação acelerada, desabastecimento de insumos e encarecimento de matérias-primas – como principais empecilhos ao dinamismo da indústria. “Vale lembrar que antes da pandemia já tínhamos um quadro de incertezas, e a pandemia só intensificou esse quadro de incertezas”, ressaltou o pesquisador. É a “conjuntura Bolsonaro-Guedes”.
Gerente da PIM nacional, André Macedo revela que, no apanhado geral, a indústria está 3,5% abaixo do patamar de antes do início da pandemia e 19,8% abaixo do nível recorde alcançado em maio de 2011. “Verificamos que o mês de janeiro está bem caracterizado pela perda de dinamismo e de perfil disseminado de queda, uma vez que todas as grandes categorias econômicas mostram recuo na produção, tanto na comparação com o mês anterior quanto na comparação com janeiro de 2021”, explicou em nota.
Embora janeiro seja marcado por férias coletivas em muitas plantas industriais, o gerente aponta que o comportamento negativo do setor industrial no mês é um movimento que já vem sendo observado há mais tempo. Ano passado, a produção industrial caiu em oito dos 12 meses.
“Até no indicador acumulado dos últimos 12 meses, no qual a indústria permanece em crescimento, com expansão de 3,1%, os avanços perdem cada vez mais a intensidade. Em agosto de 2021, a taxa chegou a 7,2%. Em setembro, foi para 6,5%, 5,7% em outubro, 5% em novembro e 3,9% em dezembro.”, comparou Macedo. Na comparação com dezembro de 2021, 20 das 26 atividades pesquisadas tiveram queda na produção. Frente a janeiro de 2021, 18 registraram recuo.
“A indústria vem sendo afetada pela desarticulação das cadeias produtivas por conta da pandemia, tendo no encarecimento dos custos de produção e na dificuldade para obtenção de insumos e matéria-prima características importantes desse processo”, explica o pesquisador. “Além disso, os juros e a inflação em elevação, juntamente com um número ainda elevado de trabalhadores fora do mercado de trabalho, ajudam a explicar o comportamento negativo da indústria.”
Inflação da indústria sobe e confiança do empresário cai
O IBGE também divulgou o Índice de Preços ao Produtor (IPP). Os preços no setor industrial iniciaram o ano de 2022 com aumento de 1,18% em janeiro, na comparação com dezembro de 2021. No acumulado de 12 meses, a taxa foi de 25,51%.
O IPP mede a variação dos preços de produtos na “porta da fábrica”, sem impostos e frete, de 24 atividades das indústrias extrativas e da transformação. Dessas, 18 apresentaram alta. Na comparação anual, os preços de janeiro de 2022 estiveram 11,30% superiores aos de janeiro de 2021.
Em contrapartida, o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) caiu 0,4 ponto em março deste ano na comparação com fevereiro, informou a Confederação Nacional da Indústria (CNI). A queda ocorre após o índice ficar praticamente estável em janeiro. Com o recuo, ele passou de 55,8 pontos em fevereiro para 55,4 pontos no mês seguinte.
A CNI divulgou nota nesta segunda-feira (14) manifestando preocupação com o agravamento da alta de preços das commodities e de risco à saúde financeira das indústrias brasileiras, principalmente devido à pressão inflacionária. Os impactos do conflito no Leste Europeu sobre as cotações internacionais das commodities agrícolas, minerais e energéticas produz pressão adicional sobre a inflação mundial e a brasileira.
O gerente executivo de Economia da CNI, Mário Sérgio Telles, lembra o “desemprego elevado” no mercado interno, que dificulta o repasse de preços na mesma proporção do aumento de custo. “Com isso, pode haver uma redução da margem de lucro das empresas ainda afetadas pela crise, o que aumenta o risco de falências e de dificuldades em negociar dívidas”, deduziu Telles.
Da Redação, com Imprensa IBGE e CNI