Por Diógenes Brandão*
O movimento denominado Muda PT, que agrega grupos minoritários no comando do partido, tem movimentado a militância petista através da internet e neste fim de semana realizou seu primeiro Encontro Nacional em Brasília, onde foi lançada a “Carta de Brasília – Mudar o PT é Urgente. Muda PT!”.
Considerando que “o PT é o principal instrumento político de luta da classe trabalhadora e do povo brasileiro. Mas precisa mudar!”, o documento aponta para a defesa de Lula, pelo #ForaTemer e eleições diretas já!. O retorno de Dilma não é sequer cogitado. #TchauQuerida foi assimilado de vez.
Além disso, o documento reune uma gama de conceitos e bandeiras históricas do PT e da esquerda mundial, sobretudo a brasileira. Em muitas partes do texto, temos a convicção de podemos ter lido em centenas de outros documentos já elaborados por grupos internos do partido. No entanto, a chamada para a ruptura com o burocratismo imperante no comando do partido, dá um ar de ousadia à elaboração utópica, sobretudo em relação à parte em que diz que “os mandatos parlamentares e os governos devem ser colocados sob controle e direção coletiva”.
Como se fosse possível fazer essa revolução na mentalidade de velhos dirigentes e parlamentares, o Muda PT, tenta fazer o partido adaptar-se à realidade contemporânea que poderia permitir que a juventude e novos atores o sustentasse como referência política para a esquerda nacional e proclama: “É preciso multiplicar núcleos, setoriais, plataformas e oportunidades de participação por meios digitais, conferências livres, atividades culturais e mecanismos de diálogo permanente com filiados e militantes. Precisamos de uma estrutura de comunicação, construindo uma rede de meios de comunicação – jornais, revistas, rádios, TVs e redes sociais -, articulados através das mídias digitais, vitaminando nossa relação com uma sociedade que a mídia oligopolizada ao mesmo tempo controla e fragmenta”.
Saindo do seu olhar interior, o documento indica o estreitamento com outras organizações da resistência democrática, tal como a Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo. E arrebata: “A política de alianças do PT deve ser orientada pela construção dessa frente de esquerda e resistência democrática. Portanto deve retirar de nosso arco os partidos golpistas”.
Eis aí um dos pontos que é considerado o mais difícil de se mudar, principalmente em relação ao pragmatismo eleitoral que tornou o PT cada dia mais irreconhecível e vacilante perante o olhar de quem dedicou-se ao sonho de um partido socialista e de defesa da classe trabalhadora.
Tomando o PT paraense como exemplo, pois é onde este blog pode falar com mais propriedade e conhecimento de causa, a militância dificilmente verá a atual direção se desvencilhar de uma estrutura enraizada e sedimentada pelos caciques locais, coordenados pelo senador Paulo Rocha, o Führer do partido no Pará, onde em sua parceria histórica e inquebrável com Jader Barbalho (PMDB), ele escolhe e mantém seus amigos e articuladores nos cargos do governo Temer, como na SUDAM, por exemplo, instituição que coordena as maiores verbas federais para programas de desenvolvimento regional e já conhecida por ser um campo fértil de esquemas de corrupção, tendo inclusive o próprio Jader, sido por isso preso e algemado pela PF, em 2002.
É lá que os amigos do “rei petista” estão até hoje compondo o governo, que ironicamente apelidam de golpista. Tudo isso com a vista grossa dos grupos minoritários do PT, que localmente alinham-se às ideias do movimento MUDA PT nacional. Um silêncio e omissão em troca de um pouco de migalhas, que de vez em quando caem das mesas dos banquetes servidos para poucos.
Mudar como, com esse jeito vacilante de ser?
por Diógenes Brandão, filiado ao Partido dos Trabalhadores em Belém do Pará e blogueiro e ativista digital, membro da Comissão Organizadora do Encontro Nacional dos Blogueiros e Ativistas Digitais, para a Tribuna de Debates do VI Congresso. Saiba como participar.
P.S.: Até o dia 18 de novembro de 2016, o filiado foi membro do Diretório Estadual do PT-PA, onde pediu sua substituição em protesto pela manutenção do partido no governo golpista de Michel Temer.