Com a retomada da sessão na noite desta terça-feira (30), a senadora Regina Sousa (PT-PI) foi a primeira a expor sua argumentação. Para ela, não existiu crime de responsabilidade que justificasse o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Na avaliação da senadora, o governo Dilma e o Partido dos Trabalhadores são alvo de uma conspiração para barrar mudanças sociais em curso no país. “A disputa aqui é entre Bolsa Família e Bolsa de Valores”, afirmou.
O que está em julgamento, disse ela, são as políticas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma para os pobres. Como exemplo, lembrou programas como Bolsa Atleta, Bolsa Família, Luz para Todos, ProUni, Pronatec, Mais Médicos, SAMU, Farmácia Popular. “Conquistas que mudaram o perfil social deste país (…) É uma disputa entre um país para todos e um país para os ricos”.
A senadora avalia que o fato de o golpe acontecer dentro do parlamento não ameniza sua gravidade. Para ela, não existe legitimidade neste impeachment.
“Dizem que ele está respaldado pela Constituição. Senhores, vou fazer uma comparação bem trágica e radical: o AI 65 foi respaldado pela legalidade. O AI5 foi editado dentro da mais absoluta legalidade. A Constituição de 67 respaldava o AI5. Vamos nos transportar para lá. Se o governo da época não tivesse fechado o Congresso e expedisse o AI5 em forma de lei, este Senado votaria o AI5?”, argumentou.
Este processo é fruto de uma trama e uma conspiração “bem articuladas” por uma oposição que se formou após a eleição de 2014 com objetivo de impedir a presidenta Dilma de governar. “Adotou-se a mesma tática de Carlos Lacerca (…) Se tomar posse, não governa”.
Então, lembrou a senadora, foi usada uma tática envolvendo diversos atores para “usurpar um mandato legítimo”. Citou o Tribunal de Contas da União (TCU), o partido que perdeu eleição encomendando parecer jurídico; um grupo de parlamentares da Câmara, chamado G8, para planejar a “conspiração – palavra deles”. O ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha também teve seu papel nesta articulação, ao chantagear o governo Dilma, analisou Regina.
Ela criticou também a Polícia Federal que “produziu espetáculos” para desgastar o governo. “A FIESP patrocinando patos humanos e de plástico. Os humanos vão pagar o pato. Setores do Ministério Público e da Justiça Federal, numa operação seletiva com a finalidade de derrubar a presidenta da república”.
Segundo Regina Sousa, diversas instituições atuaram para impedir a governabilidade. Mencionou o episódio em que o Ministério Público, em clara interferência no Executivo, impediu Dilma de nomear Lula ministro. E lembrou que diversos ministros do governo golpista têm “ficha corrida”, pois são acusados e até mesmo réus em casos de corrupção.
Imprensa golpista
De acordo com sua argumentação, a imprensa tradicional também exerceu um papel relevente nesta oposição ao veicular insistentemente notícias negativas sobre o governo Dilma e o PT.
Questionou também aqueles que alegam que julgarão pelo “conjunto da obra”. “Corrupção no governo? Não têm coragem. As delações estão aí envolvendo o próprio presidente interino, seus ministros e membros desta Casa (…) Aqui nesta Casa, tem campeões de denúncia. Nenhuma vai para frente, porque o santo protetor não permite nem investigar”.
“Em que país os senhores moravam de 1997 até 2002?” disse, referindo a políticos que insistem na tese de que a recessão econômica atual é a “pior crise da história do Brasil”.
A senadora argumentou citando que o Brasil precisou recorrer três vezes, naquele período, ao Fundo Monetário Internacional (FMI), apagão elétrico, risco país que afastava investimentos, aumento da inflação, aumento da dívida pública, a privataria tucana e o desemprego que marcaram o governo de Fernando Henrique Cardoso.
Ela elogiou a postura de Dilma no debate no Senado na segunda-feira (29) e questionou: “Alguns disseram que ela foi repetitiva, mas como não ser repetitiva se as perguntas eram as mesmas?”.
Para concluir, declamou um trecho de um texto de Mário Benedetti, dedicando a leitura à presidenta e a todos os que defendam seu mandato: “Não te rendas, por favor, não cedas, Ainda que o frio queime, Ainda que o medo morda, Ainda que o sol se esconda, E o vento se cale, Ainda existe fogo na tua alma. Ainda existe vida nos teus sonhos”. Meu voto é não senhor presidente!”, reforçou.
Da Redação da Agência PT de Notícias