Como escreveu Euclides da Cunha, “o sertanejo é antes de tudo um forte”. Mas, neste caso, a sertaneja Eurídice Ferreira de Melo, a Dona Lindu, é mais do que forte. É guerreira, mulher, mãe, heroína.
Sua história se inicia no cenário desolador da seca no agreste pernambucano. Em 1952, após uma forte estiagem que castigou o estado, Dona Lindu e seus sete filhos deixam para trás a seca e a pobreza em busca de uma vida melhor, sem miséria e sem fome. Mais do que esperança, o que lhe movia era coragem.
Entre os filhos, com apenas sete anos, estaria o futuro presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. Sessenta e quatro anos depois, Lula volta mais uma vez ao seu estado natal, desta vez pelo projeto Lula Pelo Brasil. No Recife, Lula visitará o Museu Cais do Sertão, às 15h30 nesta quinta-feira (24). Na sexta-feira (25), o ex-presidente participará de ato com trabalhadores contra o desmonte, às 10h, em Ipojuca. Às 17h, ele estará em ato da Frente Brasil Popular, na Praça do Carmo. E no sábado, Lula voltará à Brasília Teimosa, a partir das 10h.
A passagem do ex-presidente pela capital pernambucana, nos dias 24 e 25 de agosto, faz parte do projeto Lula Pelo Brasil, que tem como objetivo conferir a realidade brasileira no contexto das grandes transformações pelas quais o País passou nos governos do PT.
A mulher Dona Lindu
Por 13 dias, Dona Lindu e a família atravessam o País em um caminhão de pau-de-arara, rumo ao ‘Sul Maravilha’. O destino final: Santos, no litoral paulista.
Lá, reencontra o marido, Aristides Inácio da Silva. Mas o reencontro não duraria muito. Em 1955, a sertaneja forte se impõe contra o marido agressor e sai de casa com os filhos.
A recusa de Dona Lindu a apanhar do marido marcará para sempre o pequeno Lula. Já na presidência da República, no início do seu primeiro mandato, em 2003, Lula cria a Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), órgão essencial para a eliminação das desigualdades de gênero.
Três anos depois, sancionaria a Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006), uma histórica reinvindicação de movimentos feministas para a implementação de um instrumento legal que assegurasse direitos e a defesa de vítimas de violência doméstica e familiar.
Mas esta não seria a única influência de Dona Lindu no futuro presidente do Brasil. Analfabeta, a nordestina fazia questão que seus filhos estudassem. Mais tarde, incentivaria Lula a se inscrever no curso profissionalizante do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).
Talvez por isso o filho da analfabeta Dona Lindu seja hoje o presidente que mais construiu universidades e escolas técnicas na história do Brasil. E que mais levou filhos de operários e empregadas domésticas aos bancos universitários.
Mas segundo o próprio Lula, o maior legado que recebeu de sua mãe, “que nasceu como morreu, analfabeta, foi o caráter”.
No Dia das Mães deste ano, o primeiro após perder sua companheira de vida, Dona Marisa, o ex-presidente Lula escreveu sobre o papel essencial da sua mãe em sua trajetória de vida até a Presidência da República.
“Se existiram duas pessoas absolutamente fundamentais para que eu pudesse me tornar o metalúrgico, o dirigente sindical e o presidente da República que fui, essas duas pessoas foram Dona Lindu, minha mãe, e Marisa, mãe dos meus filhos. Duas mulheres de luta que tinham em comum a garra e a fortaleza”.
Mais adiante, Lula lembra da lição de sua mãe: tem que teimar!
“Uma vez, logo após as eleições de 1998, eu estava em frangalhos depois de uma campanha muito cansativa que havia terminado com nossa terceira derrota, e Marisa veio me dar uma bronca. ‘Para com isso, Lula’, ela me disse. ‘Lembre-se da sua mãe. Tem que teimar!’ Marisa repetia uma frase de Dona Lindu. O que ela, Marisa, queria dizer, é que eu tinha de levantar a cabeça e seguir em frente. Dali a quatro anos voltaríamos mais fortes”.
O Parque Dona Lindu
Dona Lindu é realmente dessas heroínas que merecem mesmo todos os tributos.
Em deles aconteceu no estado onde nasceu. Em 2008, o então prefeito do Recife, capital de Pernambuco, João Paulo (PT), queria dar à cidade mais um parque e solicitou ao presidente Lula um terreno da aeronáutica, localizado à beira mar de Boa Viagem, bairro nobre do Recife.
Cedido o terreno, João Paulo resolveu prestar homenagem a Lula por meio de sua mãe e colocou o nome do parque de Dona Lindu.
Projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, o Parque Dona Lindu ocupa uma área de 27 mil m², com 60% destinados à área verde.
O espaço conta com ciclovia, pistas para cooper e skate, quadra poliesportiva, playground, áreas para descanso e ginástica, além de teatro, pavilhão para exposições e restaurante.
A homenagem a Dona Lindu é, em última instância, uma homenagem a todas as mulheres nordestinas de fibra, que precisaram emigrar com a família em busca de novas oportunidades.
E lá, bem em frente ao parque, está Dona Lindu e seus filhos ainda crianças, em uma escultura feita pelo artista pernambucano Abelardo da Hora, intitulada Monumento aos Retirantes.
Lula pelo Brasil
A viagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos estados do Nordeste, entre agosto e setembro, é a primeira etapa de um projeto que deve alcançar todas as regiões do país nos meses seguintes.
O projeto Lula Pelo Brasil é uma iniciativa do PT com o objetivo de perscrutar a realidade brasileira, no contexto das grandes transformações pelas quais o país passou nos governos do PT e o deliberado desmonte dos programas e políticas públicas de desenvolvimento e inclusão social, que vem sendo operado pelo governo golpista nos últimos dois anos.
Por Luana Spinillo, da Agência PT de Notícias