Partido dos Trabalhadores

Edinho Silva: o Brasil deve muito de sua estabilidade democrática ao PT

“Se não fosse a capacidade de organização, de articulação de uma estratégia de resistência do Partido dos Trabalhadores, o Brasil não estaria vivendo hoje a reconstrução da sua democracia”, avalia prefeito de Araraquara

Reprodução/TvPT

Para Edinho, sob a liderança de Gleisi, o PT demonstrou "uma capacidade de articulação imensa na adversidade"

“Se não fosse a capacidade de organização, de articulação de uma estratégia de resistência do Partido dos Trabalhadores, o Brasil não estaria vivendo hoje a reconstrução da sua democracia, não estaríamos vivendo esse período de estabilidade que estamos vivendo. O PT cumpriu um papel importante e terá um papel muito importante também na próxima quadra histórica”. A avaliação é do prefeito de Araraquara, Edinho Silva. Nesta nesta quinta-feira (18) ele falou ao programa Café PT da TvPT.

Na Conversa com a apresentadora Poliana Régia, Edinho tratou também da sua história no PT, das gestões como prefeito de Araraquara, sucessão municipal, desafios do governo Lula, o redesenho do Estado brasileiro e o desequilíbrio do pacto federativo.

“É impossível entendermos o restabelecimento da democracia plena no Brasil sem entendermos o papel do Partido dos Trabalhadores que mostrou uma capacidade de resiliência, liderado pela presidenta Gleisi, uma capacidade de articulação imensa na adversidade”, ressaltou Edinho, ao destacar a figura do presidente Lula como fator chave para entender a força da resistência às armações e construções perversas como a Lava Jato.

“O papel que o PT cumpriu na história recente do Brasil o coloca como protagonista de um processo de reação que não existiria da forma como existiu se a liderança não fosse do presidente Lula”, sublinhou, ao rememorar a Vaza Jato que, por meio do hacker de Araraquara, Walter Delgatti, trouxe a público todo o esquema corrupto e criminoso protagonizado pelo ex-juiz Sérgio Moro e por Deltan Dallagnol.

Caracterizado como partido das massas com um pé nos movimentos sociais e outro na institucionalidade, o PT se alimenta da capacidade de mobilização dos movimentos sociais, da capacidade de articulação e da força desses movimentos.

“E essa força é tão evidente que não teríamos alcançado as vitórias políticas que alcançamos também se não fosse a nossa capacidade de resistência no parlamento, nas prefeituras, câmaras, assembleias. O jogo seria muito difícil de ser vencido. O PT é um todo, é a sua presença histórica nos movimentos sociais. O PT é o seu crescimento nos espaços institucionais, isso não é contraditório”, sublinhou, ao falar da mistura dessas forças no interior do PT.

“Tudo isso se junta na vida orgânica no partido, no funcionamento das nossas instâncias. Não há contradição e quando isso tudo se junta nos espaços deliberativos, não tenho nenhuma dúvida que nenhum partido no Brasil, talvez nenhum partido na América do Sul, tenha essa capacidade de junção de forma orgânica como o PT tem”, destacou.

“Nós ganhamos as eleições em 2022 depois de tudo que sofremos, depois de todos os ataques, depois de todas as armações, depois de todas as manipulações, porque o protagonismo era do presidente Lula. O Brasil está polarizado, vive uma disputa política acirrada, é verdade; ainda não conseguimos furar a bolha da polarização, esse é um desafio ainda que temos que enfrentar, mas as instituições estão pacificadas”, observou.

Pacto federativo em desequilíbrio

A configuração atual do Estado brasileiro é vista com preocupação por Edinho, que vê o país passando por um redesenho de sua organização. Ele avaliou que o presidencialismo perdeu uma parte importante das suas atribuições.

Além de todos os desafios ao herdar um Brasil devastado por Bolsonaro, Lula encontrou uma estrutura governamental totalmente diferente do que viveu em seus mandatos anteriores. “Devido ao que foi feito no governo Temer depois do golpe e no governo Bolsonaro, o Brasil não é mais o presidencialismo clássico que havia”, avaliou, ao explicar que quando se tem um Congresso Nacional executando R$ 52 bilhões do orçamento público, pode-se caracterizar como qualquer modelo governamental, menos presidencialismo.

“É um semipresidencialismo, um semiparlamentarismo. O presidente Lula construir a governabilidade quando o Executivo perde boa parte das suas atribuições, é muito complicado. Estamos vendo um esforço do ministro Padilha em construir a base governamental numa situação onde o Congresso Nacional está muito empoderado porque ele passa a executar o orçamento. Há um desequilíbrio do pacto federativo”, avaliou.

Diante desse cenário, o governo Lula tenta primeiro dar estabilidade institucional ao país depois de anos de muita instabilidade, desorganização das instituições, de uso da máquina pública.

“Recentemente vimos o escândalo de como a estrutura de inteligência do estado brasileiro foi utilizado como forma de manipulação da disputa política. Isso é grave, é um desequilíbrio total da relação entre os poderes”, apontou, ao analisar que, mesmo diante das adversidades, Lula faz não só o equilíbrio institucional como também promove o crescimento da economia, mesmo com a pressão do déficit herdado de Bolsonaro, e restabelece as políticas públicas “quando boa parte das atribuições do presidencialismo foram transferidas para o Congresso Nacional”, aponta Edinho.

Esforço de reconstrução do país

Desorganizadas e destruídas por Bolsonaro, as políticas públicas são alvo de um esforço imenso da equipe liderada por Lula restabelecê-las. “Lula herda um país e um governo com um déficit de aproximadamente R$ 370 bilhões, que Bolsonaro literalmente torrou no último ano de seu mandato tentando desequilibrar a disputa eleitoral”, destacou, ao lembrar das desonerações e destinação de recursos via auxílio na reta final da campanha, um uso explícito da máquina pública para tentar ganhar as eleições.

“Mesmo assim ganhamos, mas o presidente Lula herda esse déficit que agora Fernando Haddad faz um o esforço imenso para que se equilibre as contas públicas. E mesmo com todas as dificuldades temos visto o presidente Lula recuperando as políticas públicas”, exaltou, ao falar do PAC capitaneado pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa; das políticas de transferência de renda por meio do ministro Wellington Dias fazendo de fato um programa que combate a fome e a pobreza, mas também constroi portas de saída; o Prouni, o Pé de Meia, o Minha Casa Minha Vida.

“O que o governo Bolsonaro fez do ponto de vista da perspectiva dos setores populares foi um crime e o presidente Lula tem desafios imensos de equilibrar as contas públicas de voltar com os programas importantes para nossa população”, afirmou.

Respeito aos municípios

“Se perguntar para os prefeitos quem é o presidente que mais valoriza e que mais trabalha com as prefeituras como entes federados, todos os prefeitos, independente do partido, se forem honestos, vão reconhecer que foi o presidente Lula”, observou Edinho, que foi prefeito quatro vezes, nas gestões Fernando Henrique, Michel Temer, Bolsonaro e agora novamente com o presidente Lula.

“Não é um petista falando de petista. O Brasil nunca teve um presidente tão sensível às questões municipalistas como presidente Lula. Basta olhar a relação que ele tem com as prefeituras do Brasil”, salientou, ao dizer que sob Lula as prefeituras são chamadas a participar, o município é protagonista do processo, sabe quais os programas existentes, como credenciar os programas e projetos, como funcionam as regras, de que forma o município será selecionado e também o respeito na liberação de recursos mesmo as emendas parlamentares.

“Só tenho elogios a Lula como um presidente que valoriza o município”, diz ele ao lembrar com tristeza das perseguições que sofreu com Bolsonaro por ter feito tudo ao contrário do governo anterior. “Bolsonaro escolheu Araraquara como adversária e desmoralizou politicamente a cidade que naquele momento era antagônica a tudo que ele escolheu como descaminho de enfrentamento à pandemia. Bolsonaro colecionou caixões”, sintetizou.

Uma mulher na sucessão

O interior de São Paulo é a principal base orgânica do bolsonarismo, na avaliação de Edinho. “É uma região muito inóspita para nós que queremos um Brasil mais justo. A agenda aqui é muito conservadora, mas Araraquara em 2022 ofereceu vitória ao presidente Lula e ao Haddad governador nos dois turnos. Foi uma exceção no interior de São Paulo”, disse ele ao falar do lançamento à prefeitura da pré-candidatura de Eliana Honain, atual secretária da saúde, que foi a grande protagonista do enfrentamento à pandemia.

“Uma enfermeira formada pela USP, uma construtora do SUS, uma mulher com capacidade de gestão imensa. Estamos otimistas e eu estou muito dedicado a esse processo”, enfatizou, ao citar que, das 15 secretarias de sua gestão, 10 são lideradas por mulheres, além de vários outros postos como o comando da guarda municipal e a superintendência do hospital municipal. A cidade tem ainda duas deputadas estaduais, Márcia Lia e Tainara Faria.

Testemunha ocular da resistência ao golpe

Araraquara foi a cidade onde Lula estava no dia da tentativa frustrada de golpe, em 08/01/2023, quando visitou a cidade devastada pelas enchentes. “Foi um momento muito difícil para a cidade e o presidente veio aqui para anunciar ajuda. Tínhamos uma reunião técnica com os profissionais da área de engenharia mas o que vimos foi Lula derrotar a tentativa de golpe a partir de Araraquara. Daqui ele comandou toda a reação e assim que a situação estabilizou, nas semanas seguintes, ele começou a trabalhar na liberação de R$ 143 milhões necessários para a cidade”, revelou.

Condecorado por ações de combate à fome, Edinho recebeu o prêmio do Pacto de Milão pela excelência dos programas de segurança alimentar, em parceria com cooperativas de pequenos produtores e assentamentos rurais da região, que é a que mais concentra assentamentos de reforma agrária no estado de São Paulo. “Temos restaurantes populares e um programa muito arrojado de cooperativismo, que são programas tocados pelas mulheres organizadas em cooperativas de cozinheiras”, destacou.

Classificado por Lula como o melhor prefeito do país, se emociona ao falar do assunto, Edinho lembra que era lulista antes de ser petista. “Ainda muito jovem, nos movimentos sociais da igreja, e o presidente Lula na década de 80 surge no cenário nacional falando de coisas que me tocavam profundamente, de justiça, igualdade, de construir um país onde as pessoas pudessem sonhar com o futuro. Então primeiro eu me torno lulista para depois, em 1985, me filiar ao PT “, lembrou.

Da Redação