Mostre-nos o caminho que devemos seguir, e nós
O seguiremos como você, mas
Não siga sem nós o caminho correto
Ele é sem nós
O mais errado.
Não se afaste de nós!
Podemos errar, e você pode ter razão, portanto
Não se afaste de nós!
Que o caminho curto é melhor que o longo, ninguém nega
Mas quando alguém o conhece
E não é capaz de mostra-lo a nós, de que serve sua sabedoria¿
Seja sábio conosco!
Não se afaste de nós!
(Trecho do poema “Mas quem é o partido”, Bertollt Brecht. Pemas 1913-1956).
A história tem seus caprichos. Os tempos atuais são de posições extremas, no mundo cresce a onda conservadora que assola a política e nos afronta a cada ato facínora apreendido por uma legião que se alimenta e cresce diariamente com os discursos de ódio cada vez mais presentes no nosso cotidiano e propagados sem pudor nas redes sociais, nos parlamentos e nas ações de governo. Um ambiente hostil e punitivista que oportuniza a marcha da insanidade e gera racismo, homofobia, transfobia, xenofobia e toda sorte de mazelas originárias do pensamento conservador.
O Brasil e a América Latina foram atingidos em cheio por essa “onda”, oriunda da reação das elites internacionais à crise contemporânea do sistema capitalista. Assistimos os mesmos personagens históricos entrarem em cena num espetáculo perverso de ataque a soberania das nações e de uma escalada agressão aos direitos individuais e coletivos, elementos essenciais à consciência cidadã dos povos e um valor das democracias modernas.
A propósito, um novo ataque sistemático a classe trabalhadora está em curso no Brasil. Dessa vez, ele foi ativado por um golpe jurídico-midiático-parlamentar que apeou do poder um governo legitimamente eleito e rasgou o pacto político-social escrito na Constituição de 1988. Justo num momento em que caminhávamos para consolidar nossa jovem democracia. O país vinha de eleições livres e periódicas que viabilizaram o aprofundamento da nossa democracia e o fortalecimento das nossas instituições.
Novamente, o jogo discursivo que teve como elemento central uma “corrupção congênita” centrada numa suposta quadrilha encastelada nas estruturas do Estado brasileiro, apoiado em ações do Judiciário, enxurrou os portais, as páginas e as telinhas dos grandes veículos concentrados da mídia nacional e encontrou eco nos egos ingênuos da classe média. Foi assim com Vargas, Kubitschek e Goulart, mas na versão atualizada do golpismo das elites paulistas a mediocracia foi usada para bater panelas das varandas dos prédios e exalar ódio aos gritos de “Fora Dilma!” e “Fora PT!”.
O Brasil experimentava mais de uma década de governos pós-neoliberais. As eras Lula e Dilma foram marcadas por uma forte ampliação democrática da República. As grandes marcas do PT à frente do Governo Federal foram o combate à miséria, com programas exitosos de transferência direta da renda que possibilitou uma inquestionável diminuição das desigualdades e expansão da inclusão social.
Uma nova agenda emerge dessa experiência que combinou crescimento econômico, com distribuição da renda, acesso a direitos e ambiente democrático. Novos clamores por direitos civis, os “direitos à diferença” voltaram com força na pauta da nossa vida pública evocados por um sem número de movimentos sociais como: movimento negro, movimento LGBT, movimento feminista, movimento antiproibicionista, movimento de direitos humanos, dentre outros.
Enquanto nosso partido se ocupa na tática de compor alianças, muitas vezes contrárias aos anseios do conjunto de sua militância pra ganhar eleições ou compor mesas diretoras, cresce nas ruas, na sua militância de esquerda e na potência da transversalidade das pautas dos movimentos uma nova configuração de forças sociais, deslocada dos hegemonismos da velha ordem das organizações clássicas e composições de maiorias políticas burocráticas. Essa força reinaugura a luta por direitos civis e protagoniza com bravura a resistência democrática contra o Golpe.
Surge um período intenso de lutas sociais no país, direitos trabalhistas, à saúde, à segurança, à educação são desmantelados, evidenciando a face atual do neoliberalismo. A conjuntura exige do Partido dos Trabalhadores uma nova postura, mais desligada da institucionalidade que tem sido um dos eixos centrais da sua atuação nos últimos anos e mais ligada com sua vocação histórica de defesa da classe trabalhadora, pois os ataques a nossa base social e a perseguição a lideranças populares vem a galope nas ações da maioria conservadora no Congresso e das “canetadas” do governo ilegítimo e usurpador de Temer.
Em meio a esse caldeirão conjuntural, o Partido dos Trabalhadores, uma das novidades mais expressivas do nosso processo de redemocratização e filho legítimo das aspirações democráticas dos trabalhadores(as) brasileiros(as), prepara-se para realização do seu VI Congresso em clima de revisão do seu programa, em virtude da grande crise que o partido está imerso e de um clamor legítimo de sua militância de base por sua volta à combatividade de esquerda.
Os acertos na condução das políticas de Estado não eximem uma necessária autocrítica do partido aos desvios que a excessiva conciliação causou à identidade do PT, o VI Congresso pode e deve construir alternativas para tirar da inércia nossa organização partidária e reconectar o PT aos novos tempos! Dialogar com a base e com os movimentos sociais é uma emergência e não pode ser apenas letra das teses das mais variadas tendências internas ou falas do conteúdo dos discursos. Não há mais tempo. A militância do PT mostrou ao longo de sua história que é forte o suficiente para soerguer o partido em momentos de extrema dificuldade.
Mas se faz necessário que as companheiras e os companheiros se vejam e participem das decisões do partido, caso contrário, ficaremos batendo cabeça na análise e no balanço de nossas políticas.
Uma ampla unidade interna pode ser uma das saídas! Mas é preciso ter generosidade para entender as vozes que pedem mudanças, essa constatação já está presente nas mais variadas teses e ponto de unidade no seio da militância petista, fica claro que essa tarefa não será pela construção de maiorias burocráticas tampouco exclusividade de nenhuma corrente interna.
O VI Congresso deve mobilizar nossa base para um amplo debate de reorganização e reorientação do PT. Resgatar o partido pra o reencontro com suas bandeiras históricas. O atual período também será de grandes desafios e, sobretudo, de reposicionamento do PT. E a militância petista deve protagonizar esse momento, é ela quem deve referendar as decisões e voltar a ocupar os espaços de decisões, deve fortalecer as instâncias partidárias em todos os níveis, dos setoriais aos zonais, dos diretórios municipais aos estaduais e nacional.
A história tem seus caprichos. Neste ano comemoramos os 100 anos da experiência revolucionária dos trabalhadores russos. Às vésperas da Revolução de Outubro, Lenin, o grande comandante do processo revolucionário, jogava todas as suas expectativas e confiança na força transformadora dos trabalhadores para o triunfo da revolução e travou um combate encarniçado no seio do Comitê Central contra os capitulacionistas. Dizia Lenin:
“Não se pode esperar! Não se pode perder! (…), o povo tem o direito e o dever de resolver tais questões, não pelas eleições, mas pela força; nos momentos críticos da revolução, o povo tem o direito e o dever de dirigir seus representantes…, não o de espera-los”.
Que os ensinamentos de um dos eventos mais importantes do mundo, a experiência que colocou os trabalhadores no campo da história, nos inspirem na tarefa de recolocar a luta da classe trabalhadora na tática e estratégia do PT. Nesses tempos difíceis é preciso sonhar e revisitar os clássicos. É nosso papel de militantes da esquerda de manter acesa a chama da esperança de outro mundo possível. O socialismo é nossa tradição, e o nosso partido um instrumento das massas para alcança-lo.
Que o VI Congresso do PT Marisa Letícia Lula da Silva seja vitorioso! Que traga o PT para seu lugar de origem na esquerda social onde está sua militância histórica: as mulheres, a juventude, os trabalhadores do campo e da cidade, a intelectualidade de esquerda e os militantes anticapitalistas. Que mude sua política de alianças e reforce a luta contra os privilégios. Pelo Fora Temer e nenhum direito a menos! Que construa um programa mínimo para nortear a unidade de ação do nosso conjunto e inicie as transformações que o PT precisa, e sua militância e a conjuntura exigem.
Todo poder a militância do PT!
Eduardo Nunes, historiador, pós-graduado em Educação e membro da executiva municipal do PT do Recife-PE, para a Tribuna de Debates do 6º Congresso. Saiba como participar.