O resultado do primeiro turno das eleições 2018 no Brasil, que levou os candidatos Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL) ao segundo turno, repercutiu na imprensa internacional, que no entanto alerta para o risco de rompimento da normalidade democrática no país, em caso de uma eventual vitória do ultra-direitista.
“O grande empresariado do Brasil, os investidores do mercado de ações, os partidos conservadores, partes do sistema judiciário e dos meios de comunicação, os militares e as igrejas evangélicas preferem apoiar um incendiário de direita” diz o portal alemão Süddeutsche Zeitung, que chama Bolsonaro de “coveiro da democracia”.
Para o espanhol El País, o candidato do PSL é “um político autoritário, racista, machista, homofóbico… Um adorador da ditadura que mergulhou o Brasil em um dos seus períodos mais sombrios durante 20 anos“.
Confira alguns dos destaques internacionais às eleições presidenciais brasileiras.
Süddeutsche Zeitung, Alemanha – coveiro da democracia e incendiário
“Por um momento, na noite de domingo no Brasil, parecia que um novo presidente havia sido eleito. Um presidente que é chamado de COVEIRO DA DEMOCRACIA porque vocifera contra as minorias, glorifica a ditadura e declara que não quer reconhecer qualquer outro vencedor a não ser ele mesmo. Mas não a coisa não foi tão ruim assim – pelo menos não por enquanto.
Parece simplesmente há atualmente uma maioria de extrema direita no maior país da América do Sul. A confiança nas instituições democráticas sofreu muito durante a crise econômica e por conta dos escândalos de corrupção gigantescos dos últimos anos. Bolsonaro conseguiu, com isso, posar com sucesso como um candidato anti-establishment, embora ele mesmo pertença ao establishment político.
Seu incrível sucesso se baseia em parte num ódio generalizado e já irracional contra o PT de Lula e Haddad, que governou por anos. Por outro lado, ele liderou uma campanha profissional de fake news nas redes sociais, onde recentemente explorou politicamente um real ataque a faca que sofreu no início de setembro.
O grande empresariado do Brasil, os investidores do mercado de ações, os partidos conservadores, partes do sistema judiciário e dos meios de comunicação, os militares e, não menos importante, as igrejas evangélicas altamente influentes preferem apoiar um incendiário de direita a um candidato do PT.”
Die Welt, Alemanha – neofacista, homófobo e misógino
“A ânsia dos brasileiros por uma mão dura, por uma força que tira da miséria uma terra que afunda num pântano de corrupção e violência, aparentemente é maior do que qualquer objeção a alguém acusado por seus críticos de ser neofascista, homófobo e misógino.”
Süddeutsche Zeitung, Alemanha – Bolsonaro, um alerta para o mundo
“O sucesso do extremista de direita no primeiro turno da eleição presidencial mostra que o anseio por slogans fáceis, radicalismo e promessas milagrosas que não podem ser cumpridas atinge cada vez mais pessoas.
O candidato de extrema direita Jair Bolsonaro venceu, como esperado, o primeiro turno da eleição presidencial brasileira – surpreendente foi apenas a enorme distância para o segundo colocado. Isso é chocante porque, antigamente, pessoas como Bolsonaro costumavam chegar ao poder por meio de golpes militares, e não por processos democráticos.
Que muitos cidadãos queiram voluntariamente tornar alguém como ele chefe de Estado mostra a que ponto chegou a democracia brasileira. A ascensão de um homem que incita ao ódio contra minorias, elogia a ditadura militar como exemplo e que, no início do ano, ainda era visto como sem chances de vencer é um sinal de alerta – não só para a democracia no Brasil, mas para o mundo inteiro.
El País, Espanha – candidato ultra, autoritário, racista, machista e homofóbico
“Um político autoritário, racista, machista, homofóbico… Um adorador da ditadura que mergulhou o Brasil em um dos seus períodos mais sombrios durante 20 anos. Jair Messias Bolsonaro, o defensor dos valores mais retrógrados, esses que andam às soltas pelo mundo descontroladamente, acaricia a presidência do país sul-americano.
Nenhuma pesquisa conseguiu avaliar o crescimento exponencial do líder da extrema direita. A última, divulgada no sábado à noite, apontou que ele obteria cerca 40% dos votos válidos, 6 pontos a menos do que os que conseguiu. A mesma falta de precisão como nos Estados Unidos, com a vitória de Donald Trump, o triunfo do Brexit ou a rejeição do processo de paz na Colômbia.
Como já aconteceu, de fato, nas últimas eleições brasileiras. Quando tudo parecia apontar para um segundo turno entre Dilma Rousseff e Marina Silva, o candidato de centro-direita Aécio Neves prevaleceu sobre Silva. No final, Dilma recebeu 54 milhões de votos e Neves, 51. O Brasil ficou dividido ao meio e, desde então, o país parece à mercê dos elementos.
Agora, tem diante de si o desafio de impedir que o caminho autoritário que cavalga pelo mundo se consolide em seu país ou de dar uma lição em defesa dos valores democráticos.”
Le Figaro, França – defensor da ditadura e da tortura
“Defensor ardente da ditadura militar, ele acredita que o erro da ditadura “foi torturar em vez de matar”. Na votação para o impeachment de Rousseff, ele dedicou seu voto à família, às Forças Armadas, à luta contra o comunismo e à memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, famoso torturador durante a ditadura. Sobre os homossexuais, ele diz: “Eu seria incapaz de amar um filho homossexual. Eu preferiria que ele morresse em um acidente de carro.”
Sua recente ascensão se deve muito à sua aproximação com os evangélicos, muito influentes no Brasil e no Parlamento. De origem católica, ele foi batizado por um pastor em Israel em 2016. Ele também seduziu grandes proprietários de terra ao planejar legalizar o porte de armas e liberalizar um pouco mais o uso de pesticidas.
Mas é especialmente à degradação do mundo político que este homem de 63 anos deve seu sucesso. Por meses, escândalos de corrupção respingaram líderes políticos de todos os partidos. Os deputados parecem mais ocupados nos últimos tempos em se proteger da Justiça do que em legislar.”
Clarín, Argentina – Jair Bolsonaro arrasa no Brasil e fica com ampla vantagem na eleição contra Fernando Haddad
“O certo é que agora começam 20 dias de profunda ansiedade e incerteza. O que se pode prever do comportamento de Bolsonaro? Ele participará de debates televisionados com Haddad ou manterá sua estratégia de priorizar as redes sociais? Até agora, sua tática de não se expor mais do que o necessário deu-lhe resultados surpreendentes.
É claro que o ajudou a permanecer fora do contato físico com o seu eleitorado foi o terrível ataque que sofreu durante um evento em Juiz de Fora (Minas Gerais). O ex-capitão pode ou não aceitar a discussão pública com Haddad. Nada ou ninguém o obriga.
Sua experiência nesse campo não foi favorável: o único encontro que ele protagonizou com seus oponentes, que foi o primeiro deles, na TV Bandeirantes, resultou em uma discussão com Marina Silva. A candidata o obrigou a abandonar a atitude contemplativa que ele havia ensaiado até então.