Na tarde ensolarada deste domingo em São Paulo, 60 mil pessoas foram ao Largo da Batata, em Pinheiros, na zona oeste da capital, para exigir a saída do presidente interino e golpista Michel Temer. A manifestação foi convocada pela Frente Povo Sem Medo.
Personalidades da política nacional marcaram presença, entre elas o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Guilherme Boulos; a presidenta nacional da União Nacional dos Estudantes (UNE), Carina Vitral; o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), o ex-senador e pré-candidato à vereador em São Paulo, Eduardo Suplicy (PT-SP) e o deputado federal Ivan Valente (Psol-SP), entre diversas outras lideranças e movimentos sociais, em especial os de moradia.
Lindbergh Farias criticou o jornal “O Globo” e se mostrou bastante confiante em relação a volta da presidenta eleita Dilma Rousseff.
“Hoje ‘O Globo’ disse que nós desistimos, que a Dilma desistiu. É ao contrário. Nós não jogamos a toalha. Nós podemos reverter esse golpe no Senado”, garantiu.
Ele destacou, ainda, que pesquisas demonstram que a maioria do povo prefere Dilma a Temer.
Já Suplicy agradeceu o apoio recebido após a violência que sofrera da Polícia Militar do Estado de São Paulo durante a semana e conclamou que os senadores votem contra o impeachment.
A fala mais esperada era a do líder do MTST, Guilherme Boulos, que fez um discurso forte contra o golpe em andamento no País.
“Aqui está a diversidade. Aqui tem povo da periferia, aqui tem negros e negras, aqui tem mulheres de luta. Nós lutamos por direitos, eles (os anti-Dilma) lutam por privilégios”, afirmou Boulos à multidão.
“O que os golpistas querem impor ao povo é um retrocesso de mais de 30 anos. Um retrocesso nos direitos trabalhistas e em tantos outros”, pontou.
Em entrevista à Agência PT. o coordenador do MTST afirmou que há no Brasil um duplo golpe.
“Não é só ter um presidente que não foi eleito. É a tentativa de aplicar um programa que também não foi eleito. Se de fato consolidarem o golpe no Senado, eles vão vir com o pé no peito para aplicar um programa desastroso de reforma da Previdência, reforma trabalhista, destruição dos programas sociais. Não precisa conhecer muito do povo brasileiro para saber que vai ter muita resistência”.
Depois, ao microfone, Boulos conclamou o povo a ir em marcha para a praça Panamericana, no Alto de Pinheiros, bairro de alto padrão de São Paulo, onde Temer mora quando está em São Paulo.
Milhares de manifestantes seguiram os três quilômetros entre um ponto e outro com músicas contra o Temer e em favor de avanços de políticas sociais interrompidas no governo golpista. Dezenas de motoristas que trafegavam na faixa contrária levantavam o punho e gritavam “fora, Temer” em apoio a manifestação.
Já na praça Panamericana, o povo se reuniu e continuou a exigir a volta do Estado Democrático de Direito. Diversas vozes e rostos conclamaram aos senadores que não permitam que se confirme o golpe contra a presidenta.
Um dos grupos mais animados e atuantes era o da União da Juventude Socialista (UJS), que também levantou temas contra o machismo e em favor da liberdade das mulheres.
Houve também música. Um rapper subiu ao caminhão de som, cantou uma letra em favor do povo da periferia e pediu aos presentes: “A favela tem que se levantar contra o golpe”.
Ao microfone, um manifestante declamou uma poema do poeta cearense Patativa do Assaré (1909-2002) e resumiu o sentimento da maior parte do povo que ali estava: “A dor só é bem cantada por quem da dor padece”.
Por Bruno Hoffmann, da Agência PT de Notícias