O presidente Lula participou, na noite desta quinta-feira (29), em Brasília, da abertura do XXVI Encontro do Foro de São Paulo, que reúne representantes de partidos e movimentos políticos de esquerda de 27 países da América Latina e Caribe. Ele defendeu que os setores progressistas façam uma rediscussão sobre o seu papel e trabalhem para conquistar ainda mais espaço no continente, em nome da garantia dos direitos dos trabalhadores e do bem estar das populações de cada um dos países.
A Secretária-Executiva do Foro de São Paulo, Mônica Valente, agradeceu ao PT pelo apoio à realização do XXVI Encontro do Foro de São Paulo. “Agradeço à presidenta Gleisi e a toda sua direção, que muito contribuiu para a realização deste encontro. Mônica também conduziu uma homenagem a Marco Aurélio Garcia, ex-secretário de Relações Internacionais do PT e um dos fundadores do Foro de São Paulo. Ele faleceu em 2017.
A presidenta do PCdoB, que também integra do Foro de São Paulo, Luciana Santos, ministra de Ciência e Tecnologia, participou do evento. Também participaram do evento o secretário de Relações Internacionais do PT, Romênio Pereira, e a secretaria do PCdoB, Ana Prestes, além do presidente da Fundação Perseu Abramo, Paulo Okamoto, e do representante da fundação do PCdoB, Adalberto Monteiro. O evento contou com a presença de delegações de partidos da América Latina, do Caribe, de diversos países da Europa e dos Estados Unidos.
O encontro continua até domingo, com debates sobre diversos temas sociais, econômicos e políticos. (veja aqui a programação)
Todos em uma mesma trincheira
“Nós estamos em uma trincheira. Além de cuidar do nosso país, nós temos que cuidar de fortalecer os setores progressistas e a sociedade nesse mundo, porque a direita fascista tem crescido. Tem crescido em muitos lugares, em lugares que a gente jamais imaginou que ela voltasse a crescer. E ela voltou a crescer. Por isso quero fazer um apelo: nós não temos para ficar brigando por coisas menores”, enfatizou Lula.
Ele se colocou à disposição do Foro de São Paulo para contribuir no que for necessário para que os países do continente continuem avançando na questão social, dos trabalhadores e da sociedade em geral.
O presidente citou o Brasil como exemplo. “Ou nós nos organizamos , ou nós trabalhamos para resolver os problemas da sociedade brasileira, sobretudo com a questão da inclusão social, ou a extrema direita está aí, contando mentiras, utilizando fake news, violentando qualquer parâmetro de dignidade para voltar ao poder”, disse.
“Por isso eu quero que vocês saibam que vocês podem contar comigo. Enquanto este coração jovem estiver pulsando, eu estarei lutando para que a gente conquiste respeitabilidade, dignidade do povo trabalhador da nossa querida América Latina“.
Democracia na origem do Foro
O presidente também lembrou que a ideia de criação do Foro de São Paulo nasceu da conscientização dos partidos de esquerda do continente de que a via democrática era o caminho certo para a conquista do poder.
“Tivemos a ideia de discutir com os trabalhadores e o povo em geral para, pela via democrática, ganhar os governos dos países do continente”, disse Lula. “Foi assim que aconteceu a ideia da gente convocar o primeiro Foro de São Paulo. A gente queria que a esquerda da América Latina voltasse a conversar entre si. E a gente queria que a esquerda da América Latina voltasse a disputar os espaços democráticos existentes nos seus países”, sublinhou.
Segundo Lula, esse movimento colheu bons frutos. “Nós vivemos um período de muita expansão de conquista social e de participação política no nosso continente. Eu não creio que tenha havido um outro momento histórico em que a sociedade da América do Sul e da América Latina teve tantas conquistas e tantas políticas de inclusão social como tiveram nesse período de 2000 até 2015, quando fizeram o impeachment da companheira Dilma Rousseff”, enfatizou.
Ele também lembrou da onda de governos progressistas que ocorreu nesse período no continente. “Foi o melhor momento em quinhentos anos”, disse o presidente, citando as vitórias eleitorais em países como a Argentina, o Chile, o Brasil, a Venezuela e o Equador.
Foro garantiu importantes conquistas
Durante o evento, a presidenta do PT, deputada Federal Gleisi Hoffmann (PR), destacou que, a partir da primeira reunião do Foro de São Paulo, realizada em 4 de julho de 1990, na cidade de São Paulo, a esquerda do continente conseguiu importantes conquistas, com a eleição de governos comprometidos com mudanças que melhoraram a qualidade de vida da população.
Ela alertou, entretanto, que “as ideias atrasadas e antipopulares do neoliberalismo continuaram ameaçando nossa região, mas hoje elas se impõem ou tentam se impor aliadas a movimentos de extrema direita, que, por sua vez, ameaçam a própria ideia de democracia que nos une”.
Gleisi lembrou da experiência do Brasil nos últimos quatro anos, sob um governo de extrema direita. “Aqui no Brasil, sentimos na pele o que são capazes de fazer para demolir a ordem constitucional e democrática, destruir direitos individuais e coletivos, atacar pessoas e instituições”, afirmou.
Em nome do PT, ela agradeceu a solidariedade dos partidos, movimentos e lideranças da América Latina e Caribe e de outros continentes após a fracassada tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro, perpetrada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e seus asseclas.
“Aprendemos que o enfrentamento à extrema direita e ao fascismo tem de ter um caráter global, pois é globalmente que eles se organizam para oprimir povos e países”, disse Gleisi, frisando que haverá, no encontro do Foro de São Paulo, um seminário sobre comunicação e redes sociais, “para desnudar a rede global de mentiras e desestabilização de democracias, organizada pela extrema-direita, com ramificações em todos os continentes”.
Em razão da nova conjuntura que se apresenta, a presidenta do PT disse ser urgente a retomada da integração no continente, com o retorno e fortalecimento de instâncias como a Unasul, a Celac e o Conselho de Segurança do Sul. “Os partidos políticos e movimentos sociais aqui reunidos têm a tarefa de mapear iniciativas e propor políticas públicas capazes de promover uma integração soberana”, disse, observando que esse processo deve extrapolar as fronteiras do continente.
“Nossa integração não se resume ao território da América Latina e Caribe. Unidos, seremos mais fortes e teremos voz mais ativa na construção de uma ordem global multipolar e mais democrática”, afirmou Gleisi.
Colômbia
Presente ao evento, Rodrigo Andres Alvarez, do Partido União Patriótica da Coalizão Pacto Histórico da Colômbia, destacou a importância dos movimentos populares para a recuperação e fortalecimento da democracia. Ele citou como exemplo a situação vivida pelo Peru. “Hoje, aqui, nessa mesa, diante de vocês, eu quero pedir que vocês mandem um abraço ao povo peruano, que está resistindo ao golpismo, está resistindo à repressão.
Ele também destacou que as recentes eleições de governos progressistas no continente, como a de Lula, no Brasil, e Gustavo Petro, na Colômbia, permitiram reconstruir uma nova união desse campo político, não somente em cada país, mas também na região.
Uruguai
Rony Corbo Alvarez, da Frente Ampla do Uruguai, disse que “Precisamos de uma integração soberana, que meça os nossos tempos de forma diferenciada, como são diferentes os nossos países. Precisamos defender a democracia, e defendê-la sempre, aprofundá-la mais para que os nossos povos sejam os verdadeiros protagonistas dessa construção democrática e integradora.
Cuba
Secretário de Relações Internacionais do governo de Cuba, Emílio Lozada, fez uma homenagem a Marco Aurélio Garcia, afirmando que a fundação do Foro de São Paulo foi um importante passo para uma grande concertação, “um dos pontos mais importantes da esquerda latino-americana e caribenha”.
Ele também defendeu a retomada e o fortalecimento da integração no continente. “Sem articular adequadamente a necessária unidade dos nossos povos, das forças de esquerda e dos movimentos progressistas, não poderemos enfrentar, como região, os colossais desafios do mundo contemporâneo”.
Da Redação