O ex-juiz federal e atual ministro da Justiça Sérgio Moro, o procurador Deltan Dallagnol e o ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, entre outros juízes e procuradores, fizeram tudo o que parecia perfeito. Aderiram a uma trama arquitetada nos Estados Unidos, que contava inclusive com apoio dos setores conservadores no Brasil, para impedir a expansão do país como potência no tabuleiro geopolítico mundial.
As estratégias pareciam infalíveis: o golpe de 2016, orquestrado com setores da mídia, do Legislativo e do Judiciário, derrubou a presidenta eleita Dilma Rousseff (PT) mesmo sem crime de responsabilidade. E o processo, condenação e prisão, em tempo recorde e mesmo sem provas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que liderava as pesquisas de intenção de votos para a Presidência da República.
Desde 7 de abril de 2018 Lula está preso na superintendência da Polícia Federal em Curitiba e a extrema-direita chegou ao poder no país com a eleição de Jair Bolsonaro (PSL). Sem contar o governo do golpista Michel Temer (MDB-SP), que deu início ao desmonte da legislação trabalhista e abriu caminho para outras “reformas” conduzidas pelo atual governo.
“No entanto os agentes da Lava Jato cometeram o erro de subestimar Lula como a maior liderança popular da história do país e uma das maiores do mundo. Acreditaram que ao ser trancafiado em Curitiba, Lula receberia uma banana da sociedade e ali seria esquecido para sempre – o que não aconteceu”, avalia o jornalista Fernando Rosa, autor do livro A Ousadia dos Canalhas: A Lava Jato que o Brasil não viu (Leia destaque no final da reportagem).
Roubada
Foi o movimento de diversos setores pela liberdade de Lula, e a sua própria interlocução com lideranças nacionais e estrangeiras, acredita Rosa, que permitiu que a narrativa e o modus operandi da Lava Jato fosse colocada em xeque. “A divulgação das conversas entregues por uma fonte ao jornalista Glenn Greenwald, do The Intercept, foi deixando claro que houve manipulação jurídica. A perseguição a Lula, alvo político, foi ficando explícita. O mundo empresarial viu que entrou em uma roubada, que não era só tirar a Dilma. Aí veio a bomba atômica: o ex-chefe da Lava Jato (Rodrigo Janot) disse que entrou na sala para matar o ministro (Gilmar Mendes). Um desgaste muito profundo”, diz.
O jornalista lembra a importância de outros veículos passarem a divulgar conversas em parceria com o Intercept. Isso fez com que a própria mídia mudasse seu humor, a ponto de não querer “ficar pagando esse mico” na defesa de Moro, Deltan e companhia.
O que falta, para ele, é a compreensão da sociedade – do campo disposto a enxergar, é claro – sobre a dimensão do desastre e a destruição do estado causados pela Lava Jato. Além do prejuízo econômico, como o que se abateu principalmente sobre a construção civil e setores do petróleo e gás, afetando a cadeia inteira, fechando empresas e milhares de empregos, há o institucional, em que um juiz passou a acusar, defender, investigar e executar a pena do condenado, quando deveria se limitar ao papel de julgar.
“Lula é hoje a única instituição política de pé no Brasil. E a Lava Jato caminha para o seu limite, ladeira abaixo, conforme já atestam muitos de seus grandes defensores”, diz, referindo-se a jornalistas como Eliane Cantanhêde, que hoje (29) publicou artigo a respeito no jornal O Estado de S. Paulo.
Canalhas ousados
A Ousadia dos Canalhas: A Lava Jato que o Brasil não viu é um livro de jornalismo opinativo, em que o autor Fernando Rosa e seus colaboradores desvendam a natureza da Lava Jato por meio de fontes secundárias. Mas sem deixar de lado o rigor na percepção e análise dos fatos.
Com apresentação assinada pela presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann, a obra reúne 38 artigos publicados no blog Senhor X, sobre geopolítica e política brasileira. São textos escritos a partir de 2016, bem antes da Vaza Jato, até os dias de hoje. “Muita gente conhecida que chamava meus textos de teoria da conspiração hoje me pedem desculpa”, diz Rosa.
“Para quem quer entender o que se passou no Brasil nos últimos seis anos e compreender o cenário atual, o livro de Fernando Rosa é um ponto de partida importante. A obra ganha relevância pela análise criteriosa e a percepção de que as jogadas judiciais são o pano de fundo de uma guerra híbrida no maior país da América do Sul”, escreveu Gleisi em seu texto.
A Ousadia dos Canalhas já está à venda na versão EBook pelo site da Amazon. O livro impresso tem lançamento previsto para esta primeira semana de outubro em Brasília e Goiânia, mas as datas ainda não foram definidas. Nas semanas seguintes há previsão para São Paulo, Porto Alegre e Curitiba, na Vigília Lula Livre.