Recebemos de diversas pessoas em nosso canal de denúncia uma mentira que tem circulado no WhatsApp e vincula diversas organizações e pessoas em um mirabolante plano inexistente. A desinformação afirma que com a decisão do Ministro Edson Fachin de “proibir a polícia de entrar em favelas, a esquerda e o crime organizado, com dinheiro chinês”, estariam escondendo armas em favelas do Rio de Janeiro e de São Paulo. O Boatos.org desmentiu.
Veja só como essa fake news é construída: utiliza-se de um fato real (a proibição de operações policiais em favelas durante a pandemia) e o relaciona a algo sem qualquer embasamento na realidade. Assim, confunde o(a) leitor(a), que, ao ler uma informação verdadeira, pode passar a crer que o resto também é. Definitivamente, esse não é o caso.
Não há qualquer evidência de dinheiro chinês injetado no crime organizado para derrubar o governo Bolsonaro. Também não é verdade que estariam se formando “exército de mercenários”, com estrangeiros com formação militar, nem mesmo que haja treinamento de guerrilha para angolanos (essa o próprio embaixador angolano precisou desmentir lá em 2004). Já as mentiras de que uma guerra civil estaria se armando ou que um golpe estaria sendo armado contra Bolsonaro também são antigas. A mensagem ainda cita José Dirceu e o senador Lindbergh, mentindo que ele estaria organizando sovietes no Vidigal.
O texto é, portanto, um apanhado de notícias falsas, que atiçam algumas crenças e medos enraizados em parte da população: é assim que as fake news se espalham, despertando a surpresa e a indignação. Assim, ela convoca a população a reagir com raiva às recentes manifestações e a posicionar-se contra a imprensa (“As manifestações dos ANTIFAS com apoio da mídia irá estimular o espírito bélico e a vontade de guerrear das hordas. TODOS devemos nos preparar. Deus no comando”). O ódio vai sendo alimentado: contra a esquerda, contra angolanos, contra chineses, contra a favela, contra o STF, contra a mídia.
Alguns elementos dessa mentira são característicos. Nenhum dado concreto ou prova é apresentado, ainda que denúncias graves sejam feitas. Há erros de português e mesmo na escrita do nome do senador (“Lindemberg Farias”). As expressões são genéricas, como indica o Boatos.org: “antifas”, “lugares estratégicos nas favelas do Rio e SP”, “na mão de muita gente”, “vários estrangeiros”. A mensagem inicia com a expressão, em letras maiúsculas, “DENÚNCIA GRAVE” (que notícia séria começaria assim?). Esses aspectos são boas dicas para prestarmos atenção na hora de caçar as fake news.
Por fim, atenção a quem assina a mensagem: Marcello Tommasi, suposto escritor e estrategista sociopolítico (expressão também escrita de maneira errada na mensagem). O Google indica algumas pessoas com esse nome: um escultor italiano morto em 2008, um empresário canadense e um candidato a Deputado Federal em 2018, no Rio de Janeiro, pelo Democracia Cristã. Nada de escritor ou estrategista sociopolítico nos resultados.
Baixe o card e espalhe a verdade