Na última quinta-feira, 04 de março, foi divulgado o resultado do boletim de monitoramento dos números de feminicídios em 2020, realizado pela Rede de Observatórios da Segurança. Denominado “A dor e a luta: números do feminicídio”, o boletim acompanhou os números nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Pernambuco e Bahia.
Ao todo foram monitorados 1.823 eventos referentes a violências contra a mulher, uma média de cinco a cada dia, representando 10% do total das 18.000 notícias. E os dados mostram elevações nos registros de feminicídios após o início do isolamento social de 2020.
Outro dado que o monitoramento conseguiu apurar foi que dificilmente os jornais trazem um recorte étnico-racial das vítimas, mesmo que em 306 casos de violência contra a mulher monitorados, a cor/ raça somente foi informada em 26 deles.
Luciene Santana, cientista social, militante do PT e pesquisadora da Rede de Observatórios da Segurança, explica que a metodologia do boletim possibilita qualificar os dados e informações sobre segurança pública, e que o objetivo, para além da pesquisa e divulgação dos dados, é também trazer justiça às mulheres mortas por feminicídio.
“Lembrando da importância e garantia do direito à memória e à justiça para essas mulheres. Não se tratam apenas de números, são vidas, histórias interrompidas pelo machismo. Nosso trabalho é lembrar das que se foram para que outras não se tornem vítimas”, diz Luciene.
O boletim também traz o dado de que em 58% dos casos de feminicídios e 66% dos casos de agressão, os criminosos eram maridos, namorados ou ex-maridos e ex-namorados das vítimas, mostrando a ligação das mortes com o fato de que muitos homens hoje ainda se consideram donos das vidas e do direito de viver de suas companheiras e ex companheiras.
“Os Crimes de violência contra a mulher aumentaram na pandemia, de acordo com o monitoramento. O espaço da casa, que deveria ser o local de segurança dessas mulheres, se tornou um risco com a maior permanência em casa pelas medidas de saúde adotadas como contenção na pandemia… Precisamos lutar contra a cultura do machismo, garantir o acesso a rede de proteção, denuncia e justiça para as mulheres”, registra Luciene Santana.
Nádia Garcia, Agência Todas.