O período atual exige novas formas de organização para um partido como o PT.
A superação do nosso atual modelo de funcionamento se dará com a compreensão de que vivemos uma nova realidade, muito diferente daquela em que o Partido deu seus primeiros passos durante os anos 80 e distante daquela em que fizemos oposição aos governos neoliberais que se sucederam após a redemocratização.
Por óbvio, também não podemos mais nos comportar como se ainda fossemos governo.
É diferente dos anos 80 porque não enfrentamos mais um regime militar. A direita encontrou mecanismos mais sofisticados e discretos de exercer o poder e disputar a opinião pública. Além disso, uma fração mais radicalizada da sociedade perdeu o pudor de sair às ruas para defender o que antes parecia indefensável.
É distante dos anos 90 porque agora temos um legado para comparar, um governo para defender e coisas para se arrepender.
Durante muito tempo a classe trabalhadora lutou por condições mínimas de sobrevivência, contra a miséria e contra a fome. Hoje esta parcela da sociedade teve acesso ao consumo e a serviços e, com isso, uma nova pauta de reivindicações que passa pela qualidade do investimento dos governos, principalmente, em saúde e educação.
Trata-se, portanto, de forjar uma terceira fase na nossa forma de organizar e mobilizar a sociedade que é diferente do período de construção dos sonhos, e que é diferente do período de conquistas e de realização de direitos, mas que traz o ônus da frustação de algumas conquistas e que arrastou consigo uma parte da esperança da militância.
Diante deste cenário, a pergunta que devemos responder é: o que o PT precisa fazer agora para entusiasmar sua militância e a sociedade?
O primeiro passo é não abrir mão da radicalidade democrática e da participação do conjunto de filiados e filiadas e combater a ideia de que o Partido dos Trabalhadores precisa ser mais estreito e “enxuto”.
Pelo contrário, precisamos de uma forma de organização que amplie e aglutine forças, mude nossa postura e nos envolva na vida das pessoas e nas comunidades.
O segundo passo é fazer uma transição geracional, necessária para entender as novas demandas da sociedade e principalmente da juventude. A discussão sobre a renovação das nossas direções será inócua se não for acompanhada de um vigoroso rejuvenescimento.
Este rejuvenescimento da direção, entretanto, não deve ser um fim em si mesmo. Rejuvenescer a direção deve ser o caminho pelo qual o PT se aproximará dos novos – e efervescentes – movimentos feministas, dos movimentos LGBTs, do novo movimento estudantil e dos secundaristas, dos coletivos de negros e de negras e das novas formas de mobilização da juventude e de suas demandas sociais nas ruas e nas redes.
A juventude será a principal vítima da atual ofensiva neoliberal. É a juventude que será vítima da atual reforma da previdência. É a juventude que poderá entrar em um mercado de trabalho cada vez mais precário e com seus direitos suprimidos por um governo usurpador.
E é exatamente por isso que o PT precisa se tornar permeável para que essa juventude possa militar e dirigi-lo.
O terceiro passo é se manter como alternativa viável de governo. A candidatura do presidente Lula em 2018 deve ser a expressão de uma nova utopia.
Para dar conta destas tarefas é preciso alterar nossa estrutura e funcionamento, dando mais capilaridade à atuação do PT e tornando nossas instâncias de direção mais permeáveis aos filiados e filiadas.
Se é pouco – e realmente é – que os filiados e filiadas sejam chamados apenas a cada quatro anos para votar na direção ou para participar de campanhas eleitorais, a alternativa não pode ser – em hipótese alguma – um processo de que reduza a participação dos filiados e filiadas na escolha das direções partidárias.
Nosso desafio é envolver os nossos filiados e filiadas nas ações cotidianas do partido.
É evidente que nosso atual modelo de escolha de direções encontra problemas e desvios que devem ser combatidos e superados sem nunca diminuir a participação da nossa base.
O PT deve se estruturar como instituição plural, com organização e propostas construídas coletivamente, que seja identificado com diversos setores da sociedade e com regras respeitadas para que as decisões sejam as mais amplas e democráticas.
Devemos ampliar o processo de filiação e garantir aos novos filiados e filiadas espaços de participação e instrumentos de decisão.
Ter uma política estruturada de financiamento que atenda a todas as instâncias diminuindo a dependência do fundo partidário. Isto significa readequar o funcionamento do SACE e organizar campanhas permanentes de arrecadação.
Ter uma política de formação que saia da esfera dos diretórios e chegue ao conjunto dos filiados e filiadas no seu local de moradia, trabalho e estudo.
Criar instrumentos de consulta e decisões através da internet para que os filiados e filiadas além de participar das mobilizações conjunturais, possam contribuir e opinar sobre as decisões do Partido.
Organizar e criar instrumentos de financiamento para as macros e micros regiões nos Estados, com direções eleitas pela base.
Criar pontos de encontros da militância com atividades de lazer e cultura onde o filiado de forma descontraída e cotidiana possa debater política conjuntural e partidária.
Articular os atuais instrumentos de comunicação do PT e da esquerda em torno de um eixo que seja o alicerce de uma rede comunicação que possa fazer o contraponto à mídia monopolizada, que vá inclusive além da internet e se transforme em um jornal impresso de grande circulação.
Definir um método de direção que supere o isolamento de cada Secretaria na Executiva Nacional e que possa ser repetido nos estados e nos municípios.
A Direção Nacional deverá funcionar sob um esforço amplo de planejamento, que deverá abrir espaço para ouvir a sociedade, os movimentos sociais, a academia e reservando um espaço central neste processo para a nossa base militante, que apontará para o centro de uma atuação coletiva e planejada, que deverá dar conta, no curto prazo, de duas tarefas primordiais: a) organizar o PT e a esquerda e b) eleger Lula em 2018.
As ações partidárias derivadas deste processo de planejamento coletivo, plural e unitário, serão conduzidas pela Executiva Nacional de forma ampla, através de constituição de núcleos dentro da CEN.
O primeiro deles, um Núcleo Político, composto pela Presidência, as cinco Vices Presidências, os líderes das bancadas na Câmara e no Senado, a Secretaria de Relações Internacionais e a Secretaria Geral.
Um Núcleo Organizativo composto pelas Secretarias de Finanças e Planejamento, pela Secretaria de Organização, pela Secretaria de Comunicação e pela Secretaria de Assuntos Institucionais.
Um Núcleo de Formação e de Elaboração composto pela Secretaria Nacional de Formação Política, pela Secretaria Nacional de Desenvolvimento Econômico e pela Secretária Nacional de Coordenação Regional; que funcionará de forma articulada com a Fundação Perseu Abramo e a Escola Nacional de Formação.
E, finalmente, um núcleo de Mobilização composto pelas Secretaria Nacional de Mobilização, Secretaria de Movimentos Populares, pela Juventude do PT e pelos Setoriais.
Funcionando em Núcleos a Executiva Nacional reforçará seu caráter colegiado o que deverá se refletir em decisões e encaminhamentos mais coletivos.
Florisvaldo Raimundo de Souza, secretário Nacional de Organização do PT, para a Tribuna de Debates do IV Congresso. Saiba como participar.