A colunista Miriam Leitão acha que a esquerda brasileira precisa se reconstruir.
Em seu texto, a colunista começa afirmando que o Brasil é um “País de enormes desigualdades e no qual ideias conservadoras têm prosperado, o Brasil precisa de partidos que defendam políticas públicas de inclusão, espaço no Orçamento para os pobres, interesse de grupos excluídos, fim dos privilégios, atualização dos costumes”.
Ora, quem fez isso senão a esquerda? A direita é que não foi. Os governos do PT se dedicaram exatamente a colocar os pobres no Orçamento e a promover fortemente políticas de inclusão social e os interesses de grupos excluídos. Graças a isso, o Brasil saiu do Mapa da Fome, 32 milhões de brasileiros saíram da pobreza extrema e 42 milhões de cidadãos ascenderam socialmente.
O índice de Gini foi reduzido de cerca de 0,600 para cerca de 0,500. Foi o maior processo de distribuição de renda e de combate à pobreza da nossa história. Além disso, ampliaram-se extraordinariamente as oportunidades educacionais para os pobres e houve a inclusão dos excluídos no sistema bancário e de crédito. Também ocorreram notáveis progressos na defesa dos direitos das mulheres, dos afrodescendentes, do público LGBT, tão discriminados pela nossa direita conservadora.
Ironicamente, em todo esse processo, a direita e seus grupos midiáticos, nos quais a colunista trabalha, promoveram uma oposição irracional e fanática, que tentava desqualificar todos esses progressos em prol da inclusão social e dos interesses dos excluídos. Tudo o que fazíamos era prontamente desqualificado como algo inútil, ideológico, populista ou demagogo.
Quanto aos incentivos aos grupos empresariais, é bom lembrar que eles foram e são praticados em muitos países do mundo por governos de todos os matizes ideológicos e políticos. Da Europa do pós-guerra, passando pelos EUA, o Japão, a Coreia etc., todos os governos interviram ativamente para apoiar, de várias maneiras, a sua indústria, sua agricultura, etc. Essas políticas de incentivos foram (e ainda são) essenciais para o processo de desenvolvimento desses países.
O que fizeram os EUA e a Europa recentemente, senão doar bilhões em dinheiro público para o sistema bancário, na crise de 2008? Não recordamos críticas da colunista a essas imensas doações aos responsáveis pela crise mundial. O mesmo ocorreu quando o governo brasileiro conservador salvou nossos bancos, na década de 1990. Ou será que a colunista já se esqueceu do PROER e de outros programas de incentivos às empresas brasileiras promovidos na época do PSDB, apoiados por ela?
No caso do Brasil, podem ter ocorrido erros de timing, de execução, de monitoramente, etc., mas isso não torna a esquerda brasileira uma defensora do patrimonialismo e dos privilégios, como imagina colunista. Num país como Brasil, o investimento estatal tem papel essencial na promoção do crescimento e na geração de empregos, ainda mais num ambiente de crise.
A defesa dos privilégios foi sempre o papel primordial da direita tupiniquim, que defende historicamente todos os tipos de privilégios e sempre se mostrou avessa a combater desigualdades e a incluir os excluídos, como ficou demonstrado na oposição intelectualmente desonesta que fizeram aos governos do PT.
Quem tem de se reconstruir é a direita brasileira, atrasada e autoritária, que nunca se importou de fato com o grosso da população e com a soberania do país. Nunca teve projeto algum, a não ser o do lucro fácil, subsidiado, muitas vezes, por taxas de juros escorchantes bancadas por dinheiro público.
Nunca se preocupou nem mesmo com a democracia, como ficou comprovado pelo golpe de Estado promovido com o apoio entusiástico dos órgãos de comunicação para os quais a colunista trabalha.
Que tal começar essa reconstrução da direita defendendo o direito de Lula, inocente que é, de disputar as eleições de 2018?
Fica a dica democrática.
Gleisi Hoffmann é senadora e presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores