É inegável que existe uma parceria afinada entre a Força Tarefa da Lava Jato e os meios de comunicação. Desde o início das investigações, está claro que essa aliança tem como principal alvo o Partido dos Trabalhadores e seu maior líder, o ex-presidente Lula. A condenação de Lula não causa espanto, sobretudo pelo modus operandi do juiz Sérgio Moro, que não ruborizou ao atropelar a Constituição Federal e fazer valer sua tese sem fundamento em torno da aquisição de um apartamento triplex no Guarujá. Mas o que causou espanto foi o momento escolhido pelo juiz de Curitiba para anunciar a sentença. Curiosamente, Moro condenou Lula um dia depois da aprovação da nefasta reforma trabalhista.
Repentinamente, as discussões sobre trabalho intermitente e horário de almoço negociado desapareceram do noticiário. E ninguém mais falou da ameaça de mães e gestantes amamentarem os filhos em locais insalubres, muito menos discutiu-se o fim da Justiça do Trabalho como a conhecemos atualmente. O que de fato sobressaiu nas tevês e jornais não foram as mudanças, que afetam grande parte da população, mas a saga de Lula. O power point bisonho elaborado pela Força Tarefa prevaleceu sobre o desmonte da CLT, desviando, ainda por cima, o foco sobre a votação do parecer que pedia o afastamento de Michel Temer.
Uma jogada de mestre, diria um especialista em marketing. Porém, estamos falando das ações de um juiz, a quem cabe garantir condições mínimas de defesa a um cidadão, seja lá quem ele for. Lula não está acima da lei, mas tampouco abaixo dela. Sua condenação na última quarta-feira apenas reforçou a perseguição política a que ele e sua família vêm sendo submetidos nos últimos anos, acossados por procuradores e um juiz parcial que estão mais interessados em servir aos interesses de grupos poderosos de mídia a cumprir com as tarefas que lhes foram delegadas. Sabe-se lá se apenas por vaidade, ou então outro motivo, mas a verdade é que o magistrado e seus auxiliares na acusação têm forte atração por holofotes.
A parceria entre a Justiça Federal de Curitiba e a mídia é tão umbilical que Moro usou reportagens do jornal “O Globo” como “provas documentais” para a condenação. Ao mesmo tempo, ignorou documentos apresentados pela defesa do ex-presidente, que demonstravam que a posse do apartamento nunca foi de Lula, uma vez que o imóvel estava vinculado à Caixa Econômica Federal desde 2009. É no mínimo curioso que uma matéria de jornal se sobreponha a um documento lavrado em cartório, ainda mais em caso de tamanha repercussão.
Se usarmos a mesma conduta que Moro dispensou a Lula, podemos dizer que o juiz de Curitiba é amigo íntimo de grandes figuras golpistas da história recente do Brasil. Afinal, é de conhecimento público a foto em que ele aparece sorrindo e confraternizando ao lado de Michel Temer, Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra – todos, coincidentemente, investigados pela Lava Jato, mas vergonhosamente poupados de condenações. Nesse contexto, também podemos afirmar que Moro é um amigo íntimo do prefeito de São Paulo, João Dória, o garoto-propaganda das elites escalado para propagar o ódio contra Lula e o PT.
Moro não é obrigado a gostar de petistas, muito menos deve se abster das amizades que tem. Mas deveria, por obrigação do ofício, desvincular-se das preferências pessoais e se pautar pelo devido processo legal na hora de tomar suas decisões, ainda mais quando está a julgar um ex-presidente da República reconhecido mundialmente pelo combate à fome e à pobreza num país historicamente marcado pelas desigualdades sociais. Se Moro e seus amigos, sejam eles do Judiciário ou da mídia, entendem que o projeto de Lula não é o melhor para o País, não tem problema. É um direito de todos. Mas poderiam arrumar desde já um candidato e começar a fazer campanha para que ele seja eleito em 2018.
Justiça não é arena para disputa política. E a repercussão advinda de processos não pode ser utilizada como uma cortina de fumaça para proteger os interesses de amigos. Moro condenou Lula para desviar o foco de assuntos espinhosos como a reforma trabalhista e o escrutínio público contra Temer? Não temos provas, embora tenhamos, como aprendemos com Moro, a convicção que sim. Ocorre que no estado democrático de direito, ter convicção é insuficiente sequer para a elaboração de um caprichado power point.
Esperamos que depois de todo esse oba-oba em torno das acusações contra Lula, que não seja mais a convicção, e sim os fatos, a guiarem nossos magistrados. E que, afinal, haja um julgamento digno, e seja feita justiça no Tribunal Regional Federal da 4ª Região.
*Artigo inicialmente publicado no Blog do Esmael
Por Gleisi Hoffmann, senadora e presidenta nacional do PT