O debate sobre o desenvolvimento do Brasil tem sido contaminado por um nocivo terraplanismo econômico, manifestado com frequência na mídia corporativa. Nos últimos meses, porta-vozes do mercado financeiro alternam-se em artigos e editoriais em defesa de uma perigosa austeridade fiscal. Invariavelmente, o rigor com as contas públicas tem sido utilizado de maneira vexaminosa como argumento para a redução de investimentos imprescindíveis ao povo brasileiro. Caso do colunista Vinicius Torre Freire e seu texto “Se puder, PT pega, mata e come Haddad”, publicada no sábado (9). Munido de pura má-fé, o colunista usou a Conferência Eleitoral PT 2024 para atacar a presidenta Nacional do PT, Gleisi Hoffmann.
Para o colunista, crescimento econômico voltado para beneficiar a população é um “pensamento mágico-tosco”, seja lá o que isso significa. Ele referiu-se ao debate ocorrido no sábado no painel ‘A política econômica do governo Lula: feitos e perspectivas para o próximo período’, que reuniu Gleisi e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Na ocasião, Gleisi defendeu que o país deve perseguir o crescimento por meio dos investimentos públicos, mesmo que isso signifique um déficit de 1% ou 2% do PIB no ano que vem. Para desespero de Freire, que saiu-se com a calúnia de que o partido “pendurou Fernando Haddad em um poste e o malhou feito um Judas”.
O desvario de Freire não passou incólume. No domingo (10), a presidenta do PT utilizou a rede social X para responder ao colunista e esclarecer que a legenda vive da pluralidade de ideias, algo que o rentismo desconhece. “[Vinicius Torres Freire trata nossos debates internos sobre economia com o ministro Fernando Haddad como uma afronta a ele. O PT tem vida, debate disputa ideias e o faz com respeito”, lembrou a petista.
“Menos, senhor Vinicius”, advertiu a deputada. “Não defendemos déficit nas contas públicas. Defendemos investimentos públicos grandes e disponibilização de renda para o povo”, esclareceu Gleisi. “Isso gera crescimento econômico. Se para chegarmos a isso precisar fazer déficit não vemos problemas, temos déficit desde 2016, e o país não desestabilizou. Não cresceu também, porque o dinheiro público não foi pra investimentos e renda, ao contrário do governo Lula”, pontuou a parlamentar.
Ela citou uma frase do ex-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI) Olivier Blanchard, que tem alertado para os efeitos desastrosos que uma austeridade fiscal excessiva pode gerar nas economias mundiais. “Hoje a maioria dos países avançados registra déficits primários. Eliminá-los seria provavelmente catastrófico, pois levaria a graves recessões e provavelmente à ascensão de partidos populistas”, advertiu o economista, cuja declaração foi reproduzida por Gleisi, em um aula de economia gratuita ao colunista Freire.
Leia abaixo a íntegra da resposta de Gleisi Hoffmann:
Os liberais e conservadores realmente desconhecem o PT, por isso não entendem como resistiu a tanta pressão e, julgado morto por muitos, chegou novamente com Lula à Presidência da República. Esse é o caso do colunista Vinicius Torres Freire hoje na Folha.Trata nossos debates internos sobre economia com o ministro Fernando Haddad como uma afronta a ele. O PT tem vida, debate, disputa ideias e o faz com respeito!
Carcará, senhor Vinicius Torre Freire, é o Banco Central, que mantém uma queda a conta gotas dos juros mesmo com inflação controlada e pressupostos macroeconômicos sólidos no nosso país. Carcará é uma parte obtusa do mercado e seus porta-vozes que pressionam o governo por uma política fiscal restritiva em um país que precisa de investimentos públicos para induzir o privado. Carcará são os que plantam calote da dívida pública quando sabem que isso é impossível! Não temos mais dívida externa, temos reservas internacionais e nossa dívida bruta interna está bem controlada. Estaria melhor não fosse os juros.
Menos, senhor Vinicius! Não defendemos déficit nas contas públicas. Defendemos investimentos públicos grandes e disponibilização de renda para o povo. Isso gera crescimento econômico. Se para chegarmos a isso precisar fazer déficit não vemos problemas, temos déficit desde 2016, e o país não desestabilizou. Não cresceu também, porque o dinheiro público não foi pra investimentos e renda, ao contrário do governo Lula.
Aliás, o senhor dizia que a PEC da transição daria errado pro Brasil! Ela, junto com o crescimento da agricultura, triplicou o crescimento do PIB previsto pelo mercado que o senhor vocaliza. É isso que o Senhor quer parar?!
Por último, fica com a mensagem do economista ex-chefe do FMI, acho que pode clarear suas ideias: “Hoje a maioria dos países avançados registra déficits primários. Eliminá-los seria provavelmente catastrófico, pois levaria a graves recessões e provavelmente à ascensão de partidos populistas”.
Por fim, gostaria de agradecer, mais uma vez, ao ministro Fernando Haddad que, com seu espírito democrático, não se furtou ao debate, como sempre, e foi conversar com seu partido apesar das divergências. É assim que fortalecemos a democracia!
Gleisi Hoffmann
Da Redação