A continência de Bolsonaro à bandeira norte-americana, durante a campanha eleitoral de 2018, já rendeu “micos” como a contaminação quase coletiva da comitiva presidencial em reunião com Trump nos Estados Unidos, no início da pandemia. Também produziu iniciativas de subserviência explícita como a “cedência” com ônus financeiro para o Brasil de militares para “trabalhar” para o Ministério Defesa norte-americano. Os prejuízos do alinhamento incondicional, no entanto, com aval dos militares governistas, tendem a avançar definitivamente para comprometer os negócios do país.
Nesta semana, o jornal Valor Econômico informou que as vendas de dezenas de jatos comerciais da Embraer para o Irã estão travadas por conta do alinhamento automático aos Estados Unidos. De acordo com o jornal, o recém-nomeado embaixador do Irã, Hossein Gharib, disse estar “com o cartão no bolso”, ou seja, pronto para comprar 150 aviões da empresa brasileira. No entanto, deve se repetir a situação ocorrida em 2016, quando os Estados Unidos vetaram o arrendamento de 50 aeronaves comerciais entre a Embraer e o Irã.
Diplomacia jogada no lixo
A vocação pelo isolamento diplomático também subiu mais um degrau na escala do comprometimento da posição do Brasil junto a comunidade internacional. Na semana passada, Brasil e Estados Unidos apresentaram na Organização Mundial do Comércio (OMC) proposta defendendo que a economia de mercado tem de valer para todos os seus membros. O que, na prática, aposta em inviabilizar a coexistência de diferentes modelos econômicos na entidade e, consequentemente, na economia mundial. A China é o maior parceiro comercial do Brasil.
“Eu nunca vi um desastre igual”, afirmou o chanceler Celso Amorim, em entrevista ao blog Entendendo Bolsonaro, no portal Uol. “O Brasil nunca sofreu tamanho descrédito (no mundo). Mesmo na época dos governos militares, sobretudo naquela época terrível do (Emílio Garrastazu) Médici (1969 – 1974), com as torturas e assassinatos, ainda assim havia uma separação entre os eventos internos e as práticas da política externa brasileira”, disse Amorim. “Esta é a primeira vez que eu vejo todas as tradições da diplomacia brasileira jogadas no lixo”, criticou.
Guerra comercial
O governo Bolsonaro ainda não se manifestou, mas é provável que se posicione favoravelmente à última ação dos Estados Unidos em sua guerra comercial contra a China. Isolado e mal nas pesquisas, Trump determinou o fechamento do consulado da China em Houston, no Texas, nesta quarta-feira, 22. O argumento de Trump é a suspeição de que dois hackers chineses tentaram roubar dados sobre a vacina para Covid-19.
O governo chinês Pequim classificou a ação como uma “escalada sem precedentes” e prometeu retaliação. “O fechamento unilateral do consulado geral da China em Houston dentro de um curto período de tempo é uma escalada sem precedentes de suas ações recentes contra a China”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, em entrevista coletiva. Segundo a agência Reuters, as autoridades chinesas estudam fechar a representação diplomática americana em Wuhan.
Da Redação com Valor e agências