“Quero iniciar meu pronunciamento nesse momento difícil reafirmando o que me parece tão cristalinamente claro. Que o julgamento da presidenta por crime de responsabilidade é um erro crasso, desse que nos cobrarão um preço alto se não tivermos a coragem de refutar as acusações vazias que fazem contra a presidenta”. Foi com essas palavras que a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) começou sua fala em defesa da presidenta eleita Dilma Rousseff, na tarde desta terça-feira (30).
Ela comparou o processo contra a presidenta ao julgamento de um cidadão comum acusado por um adversário, cuja denúncia foi acolhida por um desafeto. “Ao aceitar a denúncia, a farsa começa”, disse a senadora. “O juízo formado por 513 deputados foi um verdadeiro show de horror, dizendo que admitiam a denúncia pelo conjunto da obra”, acrescentou.
Ela continuou a defesa afirmando que, ao avançar, o processo foi para uma nova instância e lembrou que, na comissão especial, elegeram um relator do mesmo partido do acusador. “Mais uma vez pergunto: não seria da ordem do bom senso que a neutralidade vigore”?
Mais tarde, as chamadas pedadas fiscais foram analisadas e “formada a perícia, chegou-se à conclusão de que não houve qualquer crime”, explicou ao Senado. “O Ministério Público disse que a operação do Plano Safra não é operação de crédito e, portanto, também não é crime”.
“Aqui, falam que o rito seguiu todas as normas legais e que o direito de defesa foi garantido, mas os fatos nos levam a repetir Dilma: ‘Dizem que o impeachment é legítimo porque os ritos e prazos foram respeitados, mas é preciso que o conteúdo de uma sentença também seja justo. Em meu caso jamais haverá justiça no meu caso’.”
Grazziotin lembrou que o golpe de 1964 foi celebrado pela imprensa e pelos oposicionistas de João Goulart. “Os ingênuos acharam que era possível suspender a democracia por tempo determinado”.
Para a senadora, “não há ninguém nesse plenário que acredite que Dilma esteja sendo julgada pelos crimes citados na peça acusatória”. Segundo ela, o que está em discussão é até que ponto estamos dispostos a fazer uso político do TCU, inovar a doutrina jurídica, até que ponto estamos dispostos a instalar um juízo de exceção. “Até que ponto os fins justificam os meios”.
“Aos que querem Dilma fora do cargo, presidenta legalmente eleita, por um cálculo político do poder, não dizemos nada. Deixamos a eles o julgamento da história. Aos que querem encerrar as investigações da lava jato, digo que este país tem sede de justiça e essa sede não será aplacada por um hiato constitucional. Aos que não se intimidam de dizer que querem Dilma fora pelo conjunto da obra, questiono onde está o crime”.
Grazziotin disse que não podemos elevar o parlamento a colégio eleitoral, conduzindo ao planalto “quem não conseguiu voto da população brasileira”.
“Esse é talvez o momento mais triste que vivi na minha vida”, disse a senadora. “Voto não, porque não estou em tribunal de exceção, sou contra golpes parlamentares. Volto não, porque isso é uma disputa política daqueles que perderam as últimas quatro eleições e querem aplicar seu projeto neoliberal. Fiquei do lado da justiça, da verdade e da democracia”, concluiu.
Da Redação da Agência PT de Notícias