Partido dos Trabalhadores

Haddad: “Aconteceu uma operação orquestrada para tirar Dilma”

Para prefeito de São Paulo, impeachment de Dilma Rousseff foi ‘fraude’ arranjada por partidos que não venceram pelo voto

São Paulo 02/06/2016 Roda de Conversa pela Democracia e Contra o Golpe. Foto Paulo Pinto/Agencia PT

Para o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT-SP), já não restam dúvidas de que a presidenta eleita Dilma” Rousseff foi vítima de um golpe para interromper um processo de transformação social.

Este fato ficou provado após o vazamento de áudios envolvendo ministros do governo de Michel Temer (PMDB) e a bancada do golpe no Legislativo: “Está mais perto de uma fraude do que casuísmo. O que aconteceu foi uma operação orquestrada para tirar Dilma”, afirmou na noite de quinta-feira (3), durante o debate “Pela democracia e contra o golpe”, realizado com o deputado Orlando Silva (PCdoB), no centro de São Paulo.

“Houve uma demonização de uma pessoa, como se ao tirá-la, resolvesse tudo. Eu achava que era um casuísmo, mas foi mais do que casuísmo. O que aconteceu está mais perto de uma fraude. Com o vazamento dos áudios recentes, vimos que foi uma operação orquestrada, e que não tem nada a ver com processo de impeachment”, defendeu o prefeito.

Haddad mencionou que um dos problemas da democracia brasileira é a existência de dois pesos e duas medidas, com uma métrica para os partidos de esquerda e outra para os partidos de direita. “Você não se sente tão seguro sendo de esquerda quanto sendo de direita no Brasil (…) O poder estatal não está para todo mundo da mesma forma. Não é uma percepção paranoica, isto é real”, disse.

A maior evidência é a falta de coerência no argumento usado para acusar a presidenta de crime de responsabilidade: “Se vai cassar uma presidenta por pedalada, então cassa os governadores também. Temos que forçar o republicanismo. Vai cassar por pedalada? Então casse todo mundo”.

Ao argumentar, disse que há duas formas de resolver a disputa política atualmente no Brasil, pelo voto ou pela violência. Isto tem explica, segundo ele, a atuação de forças repressivas contra movimentos sociais e militantes da esquerda.

E a maneira como Dilma foi afastada do Executivo reforçou a evidência de que setores de oposição conservadora têm medo da força do voto e, por isso, recorrem à repressão. “Não existe saída intermediária (…) a direita tem problema congênito no Brasil, que é a questão do voto (…) A direita tem medo do voto, por isto a repressão”.

Foto: Paulo Pinto/AGPT

Gestão do retrocesso

A plateia presente no Galpão do Folias, onde aconteceu o debate, questionou o prefeito sobre os riscos de retrocesso com Temer. Haddad criticou mudanças governo interino fez com a Controladoria-Geral da União (CGU), com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e da Cultura.

Condenou o aumento salarial em discussão no Legislativo, que beneficiará a cúpula do funcionalismo público, enquanto são anunciados cortes em setores fundamentais das políticas públicas, como a saúde.

Ele se referia à aprovação pela Câmara, também nesta quinta-feira, de 14 projetos de reajustes salariais para categorias de servidores dos poderes Executivo, Legislativo, Judiciário, para a Procuradoria-Geral da República e para militares.

“No momento em que o ministro do Desenvolvimento Social afirma que vai fazer uma auditoria no Bolsa Família, você aprova dois Bolsa Família para um conjunto inexpressivo da população do ponto de vista proporcional (…) Há um conflito distributivo no Brasil. Porque aprova dois Bolsa Família para o andar de cima, enquanto quer tirar o Bolsa Família do andar de baixo. Este é o problema”.

“Os que estão correndo mais riscos são os pobres e muito pobres, e a maioria desconhece isso, mas já existe uma pulga atrás da orelha”, disse.

Foto: Paulo Pinto/AGPT


Governo que incomoda muita gente
Os participantes também perguntaram ao prefeito qual era sua avaliação sobre movimentos que pediam a saída da presidenta.

Haddad acredita que o conflito distributivo existente no Brasil é um fator que não pode ser ignorado, mas mencionou também que houve uma campanha de difamação desde o início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

A oposição introduziu “pautas artificias” no debate político, com base no preconceito, utilizando boatos em muitas situações. O primeiro caso foi o programa Bolsa Família. “A gente é pai disso ou não? Até hoje a gente não sabe se eles são contra ou a favor”, disse, reforçando que existem políticos que estão há dez anos decidindo que postura assumir diante do benefício.

Redução da maioridade penal, descriminalização do aborto e políticas LGBT são outros exemplos de assuntos, recorrentes principalmente no período eleitoral. É uma estratégia da oposição, usada debaixo no pano, incluindo calúnias e injúrias, principalmente em redes sociais, para jogar opinião pública contra o PT.

Além da campanha difamatória contra o PT, as transformações sociais são elemento que incomodou uma parcela da sociedade. Lembrou que acesso ao ensino superior e à educação infantil são exemplos de políticas públicas que melhoraram no país. “Temos muito por fazer, mas Brasil avançou muito em saúde e educação. É notável o avanço”, disse.

“Eu sou da opinião que o establishment teve que tolerar governos de esquerda tanto na cidade quanto na União porque a democracia se estabilizou, e porque o governo Lula deu certo no primeiro mandato, mais certo ainda no segundo, para espanto deles”.

“É verdade que os pobres ganharam mais, mas ricos não deixaram de ganhar [nos governos do PT]”, afirmou. Para Haddad, é este o fato que explica  setores da classe média terem se tornado tão críticos a Lula e Dilma. “A classe média se viu em uma situação inédita: os ricos ficaram mais ricos e os pobres estavam vivendo melhor. Isso causou incomodo. ‘Pera aí, estou ficando pobre? Isto passou pela cabeça das pessoas”.

O prefeito falou também sobre identificação entre a população e partidos políticos. A crise política não é do PT, segundo o prefeito. Em sua opinião, todos os partidos enfrentam rejeição de uma parcela da população. “As pessoas estão com dificuldade para se identificar com partidos”.

Afirmou ainda que não se deve estimular intolerância – “não é boa para ninguém: todo mundo sabe como começa, mas ninguém sabe como termina”.

“A direita gosta das coisas, a esquerda gosta das pessoas (…) A prova agora é se a gente é de esquerda mesmo. Nossa força é um ideal, se a gente for desprendido, ninguém pode com a gente. Ninguém pode com esta força aglutinadora (…) a gente nasceu para ser livre”, concluiu.

Por Daniella Cambaúva, da Agência PT de Notícias