Partido dos Trabalhadores

Haddad afirma que democracia está sendo corroída por dentro

Candidato do PT nas eleições de 2018, Fernando Haddad participou de debate em Nova York sobre a direita no Brasil, onde criticou Bolsonaro e rebateu críticas

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Fernando Haddad no The People’s Forum

Para Fernando Haddad, hoje a democracia corre um risco no Brasil, que decorre do crescimento do autoritarismo dentro das instituições democráticas. “O golpe está acontecendo de dentro para fora. A democracia está sendo corroída por dentro das instituições”, afirmou.

O candidato do PT nas eleições de 2018 e ex-prefeito de São Paulo fez a avaliação durante o debate “What went wrong when Brazil went right?” (“O que deu errado quando o Brasil foi para a direita”), realizada no The People’s Forum, em Nova York, nesta quinta-feira (29).

Haddad está na cidade para o lançamento, neste sábado (1º), da Internacional Progressista, uma aliança que conta com o senador democrata Bernie Sanders e o ex-ministro das Finanças grego Yanis Varoufakis, com o objetivo de conter o avanço de governos de extrema-direita no mundo.

Para ele, o governo eleito de Jair Bolsonaro “promove um alinhamento cego à administração Trump, absolutamente cego, em todos os temas, seja a questão indígena, a questão ambiental ou a mudança da embaixada [brasileira] de Tel Aviv para Jerusalém”.

Citando o encontro de Bolsonaro com um assessor de Trump, ele disse que “a coisa que me chamou atenção ao encontro, em primeiro lugar, foi o fato de nosso presidente ter batido continência para o assessor do presidente americano”.

“Eu fico me perguntando se houve algum encontro desconhecido dos brasileiros entre o Trump e o Bolsonaro para combinar o jogo. Porque até o presente momento só o Bolsonaro diz o que vai fazer a favor dos EUA. Eu não ouvi, até agora, nenhum compromisso do Trump com o Brasil.”

Em referência à Sérgio Moro, ele disse ser estranho alguém deixar de ser magistrado para entrar “num governo que ele ajudou a construir.” “Mas isso não causa comoção no Brasil de hoje.”

Haddad afirmou que a escolha por priorizar os Estados Unidos pode ainda tirar possibilidades do Brasil. “Não faz sentido o Brasil, com toda sua tradição diplomática, ajudar a empurrar o mundo para uma situação bipolar, tendo tantas vantagens em adotar uma perspectiva multipolar que sempre foi a prática da diplomacia brasileira.”

Ele falou da crise política e econômica que assola boa parte do mundo ocidental, retomando o processo iniciado em 2008, com a quebra de diversos bancos nos Estados Unidos. Ele afirmou que parte da solução para a crise nos países do centro capitalista passou pela piora das condições em países da periferia, como o Brasil

“O Mundo continua com muito dinheiro circulando, mas de fato para a quase a totalidade da população teve a socialização dos prejuízos. Isso se manifesta principalmente no aumento da dívida pública. Vale para Ásia, Europa, EUA e Brasil”, explicou, acrescentando que “na América Latina temos dois efeitos sobrepostos”, afirmou Haddad.

“Além da crise no núcleo duro do sistema, tivemos outro problema. Enquanto nos EUA teve a crise do subprime e na Europa a depreciação dos ativos, no Brasil houve a queda dos preços das commodities. Quando esses preços caem, nosso poder no cenário internacional cai também. A queda dos preços das commoditie ajuda a reconstrução econômica do núcleo duro do sistema”.

“O que está acontecendo no mundo tem algo por trás que não conhecemos inteiramente, mas que, podemos imaginar, está alterando a face do planeta numa direção perigosa, contra direitos que foram, com tropeços, idas e vindas, de uma história de 200 anos de ampliação dos horizontes”, disse.

Haddad ainda criticou os governos que não aceitam o mundo moderno multipolar que se construiu após a queda do muro de Berlim. “São governos que estão empurrando o mundo para a bipolaridade, que não aceitam o mundo multipolar por preconceito. Porque veem no mundo multipolar espaços para projetos emancipatórios, para projetos progressistas.”

Rebatendo as cobranças inacabáveis por mais autocríticas do PT, Haddad afirmou que “é engraçado, porque às vezes a imprensa insiste muito nessa questão da autocrítica. Nunca cobraram autocrítica nem da ditadura militar nem dos governos anteriores, só do governo do PT”, disse.

“Mas isso não é motivo para que nós não apontemos as nossas falhas. E eu tenho feito isso em todas as oportunidades, mas sem demonizar a esquerda como a direita gostaria que nós fizéssemos”, finalizou.

Da redação da Agência PT de notícias