Francisco Wanderley Luiz, de 59 anos, o homem-bomba que morreu ao detonar explosivos em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), na noite de quarta-feira (13), não só era filiado ao Partido Liberal (PL), de Jair Bolsonaro, como fazia postagens com ameaças terroristas em suas redes sociais. Numa das mais recentes ele escreveu que o dia 15 de novembro, feriado da Proclamação da República, seria “especial para iniciar uma revolução”, avisou que poderia haver bombas em diversos locais e advertiu que o “jogo” acabaria dia 16 de novembro.
Pouco antes de cometer os atentados, ele postou: “Vamos jogar??? Polícia Federal, vocês têm 72 horas para desarmar a bomba que está na casa dos comunistas de merda”. Vestido de coringa, Francisco, também conhecido como Tiu França, morreu ao detonar um artefato próximo à sua cabeça, em frente ao STF, após ter cometido outro atentado minutos antes, sem vítimas, com explosivos no porta-malas de seu carro, um Kia Shuma, num dos estacionamentos da Câmara Federal.
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Réu por vário crimes
Segundo a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o terrorista era réu em diversas ações penais, entre elas crimes contra a incolumidade pública, por infração de medida sanitária, crime de desobediência e furto.
A sequência de atos do terrorista e a análise dos conteúdos de suas postagens remetem aos atentados golpistas de 8 de janeiro de 2023 em Brasília e também à tentativa de explodir caminhão tanque próximo ao aeroporto na capital federal às vésperas do Natal de 2022.
Francisco Wanderley parece ter se inspirado no próprio Bolsonaro que, em 1987, planejou a explosão de bombas em unidades militares no Rio de Janeiro. Mais recentemente, o ex-presidente pediu, em um evento, que repetissem com ele o juramento de “dar a vida pela liberdade”.
Impunidade de Bolsonaro motiva novos ataques
Tudo converge para as digitais do ex-presidente na sequência de atentados à democracia que a extrema-direita assume o protagonismo no Brasil. Impunes, o ex-presidente e generais golpistas seguem inspirando ações terroristas e ataques à estabilidade do país e suas instituições.
Ao classificar como gravíssimos os fatos ocorridos em Brasília, a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann apontou que eles repetem o cenário, os alvos e a violência do 8 de janeiro. “São muitos elementos que nos alertam para permanecer vigilantes em defesa da democracia. Sabemos quem são seus inimigos e saberemos defendê-la mais uma vez”, sentenciou Gleisi.
Proximidade com deputado
Ex-candidato a vereador em Rio do Sul (SC) em 2020 com o nome Tiü França, Francisco teve apenas 98 votos e não se elegeu. À Justiça Eleitoral ele declarou ter ensino médio incompleto e patrimônio de R$ 263 mil em bens relacionados a quatro veículos e um prédio residencial na área urbana de Rio do Sul. Tinha 59 anos, era chaveiro, tinha filhos e havia se separado há quaro meses.
O catarinense autor das explosões em Brasília era ligado ao deputado federal Jorge Goetten (Republicanos-SC). No final de julho, Francisco se mudou para Brasília em seu próprio carro e alugou uma casa em Ceilândia, cidade satélite da capital federal, onde a Polícia Federal encontrou explosivos. Ele esteve na Câmara e visitou o gabinete de Goetten no ano passado e este ano também.
QAnon e ameaças nas redes
Nas redes sociais, Francisco tinha um perfil ativo e compartilhava conteúdos relacionados a política, religião e teorias da conspiração, conforme publicou a CNN. “O autor das explosões em Brasília acreditava na existência do QAnon (teoria de extrema-direita em que adeptos da esquerda são adoradores de Satanás, pedófilos e canibais)”, informou o site.
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Em sua página no Facebook, Francisco também escreveu textos com mensagens com referência direta a Brasília e à data dos atentados, com emojis de bomba e provocações à Polícia Federal.
No dia 24 de agosto em visita ao STF, Francisco postou foto dele com o plenário ao fundo e escreveu: “deixaram a raposa entrar no galinheiro. Ou não sabem o tamanho das presas ou é burrice mesmo. Provérbios 16:18 (A soberba procede a queda)”, escreveu o partidário de Bolsonaro, que postou mais ataques ao judiciário.
“Tudo o que já foi feito para obtermos melhorias em nosso País e nada deu resultados!!! É hora de mudarmos os caminhos e ações!!! Onde está o grande problema? No judiciário (STF).”
Abin investiga os crimes
Em comunicado após os atentados, a Abin informou que coletou uma série de publicações do terrorista em seu perfil na rede Facebook “anunciando ataques e manifestando ódio contra autoridades constituídas”. A Abin disse ainda que em uma das imagens postadas, “Wanderley indica que havia planejado suicidar-se no ataque, pois afirma “Vamos brindar??? Não chores por mim! Sorria!!! Entrego minha vida para que as crianças cresçam com liberdade […]”, informou a Agência.
De acordo com o jornal O Globo, Francisco postou em agosto uma “carta aos interessados” convocando protestos contra o judiciário. No “convite” que Francisco fez à PF dando prazo de 72 horas para desarmar bombas, ele citou os nomes do apresentador, dos ex-presidentes José Sarney e Fernando Henrique Cardoso e do vice-presidente Geraldo Alckmin. E finalizou: “Cuidado ao abrir gavetas, armário, estantes, depósito de matérias etc. Início 17h48 horas do dia 13/11/2024… O jogo acaba dia 16/11/2024. Boa sorte!!!”.
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Em seu perfil Francisco se declarava como empreendedor, investidor e desenvolvedor. Falava que o Brasil ainda não era um país socialista ou comunista, e que os planos para a transformação do regime social do país estariam em uma reta final. Nas publicações, ele também fazia mensagens com recomendações ao agro e menções a Trump, conforme publicou o jornal Zero Hora.
Após os atentados, o Facebook removeu a conta do homem-bomba. A jornalista Malu Gaspar do jornal O Globo divulgou que a Meta, que gerencia o Facebook, afirmou que “não permitimos que indivíduos que anunciem uma missão violenta ou que estejam envolvidos em violência tenham presença nas nossas plataformas”.
Da Redação