Ao longo dos séculos, as mulheres foram apagadas ou tiveram seu papel minimizado pelo discurso patriarcal que pautou a construção da narrativa histórica. Existem pesquisas que apontam como o discurso machista foi determinante para o apagamento de suas memórias. Para exemplificar, nos livros de história elas representam a minoria dos personagens.
O ocultamento de mulheres na História, porém, não é exclusividade dos livros. Elas também estão esquecidas nos nomes de ruas, praças e demais espaços públicos, que privilegiam, majoritariamente, figuras masculinas, brancas e eurocêntricas.
Para quem não é se Santa Catarina, o nome de Antonieta de Barros, por exemplo, pode soar completamente inédito. Afinal, ela não é tão lembrada como os presidentes ditatoriais que batizam nomes de rodovias e escolas pelo país.
Antonieta era mulher pobre e negra. Contrariando todas as probabilidades relacionadas a esses substantivos, tornou-se jornalista, militante, educadora e deputada estadual, sendo a primeira mulher a ocupar uma cadeira na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc), em 1934, e a primeira deputada negra do país.
A ex-senadora e ministra do governo da presidenta eleita, Dilma Rousseff, Ideli Salvatti relata que quando chegou à Alesc ficou surpresa ao ver que não havia vestígios da passagem de Antonieta por lá.
“Ela é apagada da história brasileira e de Santa Catarina. Quando cheguei à Assembleia Legislativa, não havia nenhuma foto de Antonieta de Barros, nenhum registro da passagem da primeira deputada de Santa Catarina e primeira parlamentar negra do Brasil”, lembra Ideli.
O resgate da história de Maria Antonieta demandou trabalho intenso, que resultou no batismo do principal auditório do legislativo catarinense com o seu nome.
“O único túnel existente em Florianópolis também recebe o nome de Maria Antonieta. Mas foi uma briga homérica, porque mais uma vez queriam dar a ele nomes de oligarcas brancos”, conta a ex-senadora.
Ainda em Santa Catarina, Ideli recorda Maria Rosa, uma das principais comandantes militares na Guerra do Contestado, que nas narrativas históricas frequentemente é apresentada apenas como uma figura mística, pela sua intensa religiosidade.
“A visão machista da atuação das mulheres nos momentos históricos, econômicos e político é sempre muito aquém da real e efetiva participação delas”, reforça a ex-ministra.
Os registros históricos refletem também na estrutura política. Na sociedade, os homens ainda são comumente vistos como os indivíduos preparados para o espaço público, capazes de governar e criar leis, enquanto as mulheres ocupam principalmente lugares secundários, assim como na maioria dos acontecimentos registrados pela ótica masculina.
O evidenciamento desse papel foi aprofundado no Brasil após o golpe machista, classista e misógino que destituiu a presidenta eleita, Dilma Rousseff. O golpista Michel Temer, assim que usurpou o poder, não nomeou sequer uma mulher para os cargos ministeriais.
Um cenário diferente foi vivenciado durante os treze anos de governo petista. Com Lula e Dilma, as mulheres assumiram papel de protagonismo nos programas sociais e também no alto escalão dos mandatos.
Ideli Salvatti é uma das mulheres que ocuparam postos estratégicos durante o governo Dilma, como ministra das pastas da Pesca e Aquicultura, Ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais e Ministra-chefe da Secretaria de Direitos Humanos.
Ela, que foi ainda a primeira senadora eleita por Santa Catarina, em 2002, reforça o histórico papel de protagonismo das mulheres petistas na política, principalmente com a eleição da presidenta Dilma Rousseff, a primeira mulher a ocupar a presidência da República.
A ex-ministra cita ainda Luci Choinacki, a primeira parlamentar agricultora de Santa Catarina, eleita em 1986. Quatro anos mais tarde, ela se tornou a primeira trabalhadora rural a ocupar uma cadeira na Câmara dos Deputados.
“Nós temos uma participação e uma projeção de mulheres extremamente significativas e precisamos resgatar esses papéis marcantes. Essa é uma das maneiras mais fortes de estimular a participação de mulheres na política”, conclui.
Por Geisa Marques, da Comunicação Elas por Elas