A carne bovina sumiu da mesa das famílias brasileiras. A perda de renda e a inflação em alta encareceram tanto o produto que fez o seu consumo por pessoa recuar em 2021 ao índice registrado a 16 anos atrás. Seriam 24,5 Kg de carne por pessoa, o que é próximo ao que foi registrado em 2005.
Na realidade, o consumo de carne bovina vem caindo há três anos consecutivos no Brasil. Em 2020 o recuo foi de 10% em relação a 2019, enquanto que para esse ano é estimada uma queda de 2%, um consumo de 5,24 milhões de toneladas de carne, o que representa o menor valor em 12 anos.
Os cálculos foram feitos pelo especialista Cesar de Castro Alves, da Consultoria Agro do Itaú BBA, a pedido da BBC News Brasil com base no chamado consumo aparente, que envolve a produção de carne bovina inspecionada, descontadas as exportações e somadas as importações.
Os dados usados pelo especialista consideram uma expectativa de produção de carne bovina de 7,4 milhões de toneladas em equivalente carcaça (TECs), de exportações de 2,26 milhões de TECs e de importações de 73 mil TECs.
O que ocorre é que tanto o preço dos produtos como a renda das famílias brasileiras sofreram uma deterioração este ano, especialmente no primeiro semestre deste ano. Tanto é que em junho de 2021, se for considerado o acumulado dos aumentos em 12 meses, o brasileiro pagava quase 40% mais pela carne do que um ano antes.
Apesar de os preços da carne terem começado a ceder em setembro, eles continuam em patamar muito elevado. Nos 12 meses encerrados em novembro, a inflação das carnes estava em 10,81%, superior ao índice calculado para todo o grupo alimentos e bebidas, de 8,9%.
Considerando que a renda das famílias continua encolhendo, mesmo com essa redução de preços em alguns estabelecimentos, o produto continua inacessível para muitas delas. Dados divulgados pela Pnad – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua apontam para uma diminuição da renda média real, quando se desconta a inflação, de quem está empregado, desde outubro de 2020.
A redução da renda média dos trabalhadores pode ser explicada pela precariedade das poucas vagas geradas atualmente pela economia brasileira, que pagam baixos salários. Ao lado disso, a taxa de desemprego se mantém em um índice bastante alto, com cerca de 12,6% da força de trabalho no terceiro semestre deste ano, o que totaliza 13,5 milhões de desempregados.
Assim, com a maioria dos brasileiros tendo de se sacrificar diariamente para trazer alimentos básicos para as suas famílias, a carne se tornou novamente um artigo de luxo no país de Bolsonaro e de Guedes.
Da Redação, com BBC News Brasil