Em mais um atentado ao Estado Democrático de Direito, o governo de inclinações fascistas de Jair Bolsonaro volta a utilizar o Ministério das Relações Exteriores como instrumento de ataque político ao ex-presidente Lula. Segundo o portal ‘247’, o Itamaraty enviou às embaixadas brasileiras um vídeo com acusações e informações falsas sobre Lula e a Petrobras. Ao mesmo tempo, o vídeo, narrado em inglês com legendas em português, exalta Bolsonaro, descrito como”democrático honesto, humilde e corajoso”.
“A pressão externa está muito grande! Por favor, envie para todos e peça igualmente para repassá-lo. É urgente!!! Faça chegar nos 210 milhões de Brasileiros de fé!!!”, diz o texto do vídeo, de acordo com o ‘247′. Além de informações distorcidas sobre a Petrobras, o vídeo aponta Bolsonaro como responsável pela transposição das águas do rio São Francisco no interior do Nordeste, obra coordenada e na maior parte executada pelas gestões de Lula e Dilma Rousseff.
“Bolsonaro é um facínora”, reagiu a presidenta do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR). “Desesperado com a repercussão negativa do seu governo no mundo e com o boicote que tem sofrido de vários países por causa do desmatamento, tenta culpar Lula e o PT pelos seus erros, que nem mais parte do governo fazem”, criticou Gleisi, pelas redes sociais. “E o pior: usando dinheiro público, que deveria ser empregado a serviço do povo, e não para fins ideológicos. São desqualificados”.
De fato, a manobra do governo carrega todos os sinais de um ato de desespero. O uso do Itamaraty para fins de propaganda baseada em fake news ocorreu um dia após as críticas feitas pelo candidato à Presidência, Joe Biden. No debate entre Biden e Donald Trump, na terça-feira (29), o candidato democrata criticou a devastação das florestas e queimadas no Brasil e até ameaçou retaliar o país, caso seja eleito presidente nas eleições de 3 novembro.
Pária internacional
Desde o início do mandato de Bolsonaro, a guinada da política externa na direção de uma submissão total aos EUA, algo sem precedentes na história da diplomacia brasileira, sedimentou o caminho para transformar o país em pária internacional. Sob o comando de Ernesto Aráujo, uma sucessão de desastres no Ministério das Relações Exteriores arruinaram não apenas estratégias históricas para manter a soberania nacional como destruíram o próprio Itamaraty.
Funcionários de carreira lotados em embaixadas brasileiras pelo mundo foram submetidos à humilhação de ter de encampar orientações da pasta em Brasília que nada têm a ver com políticas de Estado. “Ponha-se no lugar de um embaixador nosso na Europa, que deve explicar às autoridades do país onde está por que nosso chanceler fala em comunavírus”, declarou um diplomata ao jornal ‘O Globo’.
Desânimo e temor
Em junho, o diário carioca publicou reportagem relatando o “desânimo e o temor” de diplomatas em relação ao governo de Bolsonaro. De acordo com a reportagem, há “um sentimento de tristeza pelo que consideram a destruição do que foi durante décadas uma carta de apresentação do Brasil no mundo: o Itamaraty”. Os tempos da diplomacia “ativa e altiva” de Lula e Dilma ficaram para trás.
As relações comerciais, prioridade de todos os governos brasileiros no período democrático, aponta a reportagem, foram abandonadas por Bolsonaro. Um exemplo é a Argentina, que deixou de ter o Brasil como principal parceiro comercial para priorizar a China com quem, aliás, Bolsonaro faz questão de manter as piores relações. Tudo a troco de uma “aliança” com os EUA que só beneficia os americanos.
Racismo, sexismo e ataques ao MST
A tática de utilização da estrutura diplomática para promover ataques sistemáticos a opositores do governo não é novidade no governo Bolsonaro. Em julho, um grupo de 31 parlamentares cobrou explicações do Itamaraty sobre material didático distribuído no exterior com frases de caráter racista e e ataques explícitos ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e ao ex-presidente Lula.
O material foi disponibilizado pelo Itamaraty para ser utilizado em cursos de língua portuguesa no exterior por meio da Rede Brasil Cultura. A cartilha, que também carregava frases de cunho misógino e contra o aborto, acabou sendo retirada do site do Ministério das Relações Exteriores após reações e protestos da sociedade civil. À época, o PT emitiu nota de repúdio ao Itamaraty.
“As apostilas de Bolsonaro e Araújo têm conteúdo claramente racista e sexista, fazem acusações ofensivas a adversários do atual governo, como o ex-presidente Lula, a movimentos sociais, como o MST, e a nações soberanas, como a Argentina, numa evidente corrupção do conteúdo didático”, afirmou o partido.
Para o PT, ficou claro que o ato do governo representou “mais um dano ao país decorrente da cruzada obscurantista de um governo de extrema-direita, que está destruindo uma das mais importantes instituições nacionais. O Itamaraty de Bolsonaro e Araújo tornou-se um ninho de bajuladores do presidente dos Estados Unidos que envergonham nossa tradição diplomática”, conclui a nota do partido.
Da Redação