Os sucessivos cortes no orçamento e ataques sistemáticos do governo à ciência brasileira terão consequências nefastas para o progresso científico e o desenvolvimento do país como um todo. A avaliação é do ex-ministro da Educação e atual presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Renato Janine. Em entrevista ao Jornal PT Brasil, exibida nesta quinta-feira (28), Janine, que participou da 74ª Reunião Anual da SBPC, ao lado do ex-presidente Lula, falou sobre a conjuntura caótica que tomou conta da educação e da ciência no Brasil.
“É de uma consequência muito séria, você começa a ter universidades que não terão dinheiro para encerrar o ano, alunos cujas bolsas não são renovadas, diminuição de bolsas, incapacidade de contratar quem fez doutorado”, listou Janine.
O ex-ministro apontou para a situação de doutores que vivem no pós-doutorado, publicando artigos, mesmo sem possuir qualquer vínculo a uma instituição pelas dificuldades impostas pelo governo. “É praticamente como se houvesse uma política deliberada, não é o caso, mas é como se fosse, de dar de presente essa mão de obra altamente qualificada para países ricos”, lamentou Janine, ao referir-se ao atual quadro de “fuga de cérebros” vigente no país.
Janine falou da expectativa do SBPC para uma mudança no setor. “A ciência e a tecnologia são decisivas para se melhorar a produção”, explicou o ex-ministro. “Por exemplo, na questão da comida: precisamos ter alimentos suficientes para a população. Temos, mas voltamos ao Mapa da Fome”, observou, destacando o papel do setor tanto na solução para a insegurança alimentar quanto na oferta de alimentos ao mundo.
O fato de o pais não investir na tecnologia como instrumento de desenvolvimento coloca o país em uma espécie de vanguarda do atraso, concorda Janine. “Temos uma política que vai exatamente na linha oposta ao bom senso da ciência, é preciso rever isso”.
O ex-ministro afirmou que o governo não tem qualificação de gestão na área de ciência e tecnologia, a despeito do excelente quadro de servidores e técnicos no país.
“Por exemplo, para o Brasil se desenvolver mais, é preciso qualificar a mão de obra. Isso significa que as pessoas têm de aprender o que fazem. Temos problemas muito grandes, históricos, de má qualificação de mão de obra até por falta de instrução básica”, ressaltou Janine.
Da Redação