Primeiro veio o nojo. Depois, a profunda indignação. Assim se sentiu o senador Jaques Wagner (PT-BA) ao descobrir que o procurador da República Deltan Dallagnol planejava uma “operação simbólica” — a invasão de seu domicílio, à guisa de “busca e apreensão” — para constranger o dirigente político que estava assumindo a coordenação de campanha do candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad. Wagner acabara de receber 4.253.331 votos dos baianos (35,71% dos válidos) para um mandato no Senado Federal.
“É deprimente que pessoas pagas com dinheiro público, concursadas, se comportem daquela forma. Isso desqualifica o Ministério Público e acaba confirmando o que muitos já suspeitavam: aquilo tudo [as operações da Lava Jato] tinha endereço certo”, desabafou Wagner nesta terça-feira, durante o cortejo da data cívica mais importante da Bahia — o Dois de Julho de 1823 marca a vitória dos baianos contra as tropas portuguesas, consolidação da Independência do Brasil.
“Agora ou nunca”
No último domingo (30), reportagem da Folha de S. Paulo divulgou novo lote de mensagens trocadas por operadores da Lava Jato a partir do material reunido pelo site noticioso The Intercept Brasil.
Os diálogos mostram coordenador da força tarefa, Deltan Dallagnol, forçando a barra para disparar uma ação de busca e apreensão na residência de Wagner. “Isso é urgentíssimo. Tipo agora ou nunca kkkkk”, escreveu Dallagnol.
Sem fígado
A mensagem de Dallagnol é de 24 de outubro, a quatro dias do segundo turno da eleição presidencial de 2018. “Vem um irresponsável, um desqualificado e diz que ‘temos que arranjar alguma coisa para atingir Jaques Wagner”, reagiu o senador. “Ou seja, não existe um crime que ele [Dallagnol] estava investigando. Ele estava querendo incriminar uma pessoa e procurando um crime. É o que virou o Brasil, uma polícia política”.
O senador baiano fez uma recomendação ao agente público, pago com os impostos de todos os cidadãos e cidadãs: “Deltan Dallagnol não deveria trabalhar com o fígado”. Wagner já havia sido alvo de uma operação, em fevereiro de 2018. “Não tenho elementos para dizer que a primeira teve a mesma motivação, mas vamos aguardar as outras revelações”, afirmou ele nesta terça-feira.
Instituição comprometida
“Até quando a Procuradoria Geral da República (PGR) e Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) vão ignorar essas atitudes de procuradores que terminam por comprometer a imagem da instituição como um todo?”, cobrou o líder da bancada do PT no Senado, Humberto Costa (PE), logo após a divulgação das mensagens trocadas pelos procuradores da Lava Jato.
Na última sexta-feira (27), dois dias antes da revelação de mais essas peripécias de Dallagnol, o CNMP arquivou apuração destinada a averiguar se a troca de mensagens divulgadas por The Intercept revelava “falta funcional do chefe da força tarefa e dos demais procuradores que atuam na Lava Jato.
“Sociopata”
Para o senador Humberto, as conversas reveladas no último domingo são “registro da prática de um grave crime e da partidarização de Dallagnol. Sua fala nos dá uma noção da sua ausência de caráter”.
O líder petista alerta que “é típico de uma personalidade sociopática” planejar “invadir a casa de alguém com a imprensa, humilhar uma família, destruir uma reputação por simbolismo”.
CPI Já!
Se o CNMP e a PGR parecem inertes diante da revelação dos intestinos da Lava Jato, isso não deve paralisar as demais instituições, como o Legislativo. “Para apurar os crimes e irregularidades da Lava Jato: CPI já!”, resume o senador Jean Paul Prates (PT-RN), para quem o “partidarismo a olhos vistos” da operação chefiada por Sergio Moro e Deltan Dallagnol deve ser objeto de investigação do Legislativo em uma Comissão Parlamentar de Inquérito.
O senador Rogério Carvalho (PT-SE) cobrou uma ação efetiva contra os abusos do ex-juiz e dos procuradores. “Deixo aqui o desafio: vamos construir um acordo sem proteger ninguém. Nem Sergio Moro, nem Dallagnol ou nenhum daqueles que cometam atos de corrupção, de abuso de poder e de uso da máquina para perseguir, como foi feito por essa Operação Lava Jato por vários dos seus integrantes”, conclamou o petista, em pronunciamento ao Plenário, na última segunda-feira (1).
Condenações forjadas
Quem também reagiu prontamente às revelações da Folha/Intercept foi a ex-presidenta Dilma Rousseff, de quem Wagner foi ministro da Casa Civil e da Defesa. “A perseguição indevida reforça nossa convicção de que a conduta de Sérgio Moro, Deltan Dallagnol e alguns procuradores da Lava Jato é razão suficiente para anular processos e condenações forjadas com a máquina de mentiras da Lava Jato”, aponta Dilma.
A ex-presidenta também alerta para o desastre institucional que se desenha quando agentes de Estado usam o Judiciário e Ministério Público para perseguir pessoas que eles marcam como adversários políticos. “A imparcialidade da Justiça é princípio básico do Estado Democrático de Direito o qual fundamenta que ‘todos somos iguais perante a lei’. Quebrar esse princípio instaura o estado de exceção persecutório que atinge a todos os cidadãos”.
Por PT no Senado