Glenn Greenwald: Moro era o chefe dos procuradores e fingia ser imparcial 

Jornalista e autor da série de reportagens que enterra a tese de imparcialidade da Lava Jato participou nesta terça (25) de audiência pública na Câmara dos Deputados

Gabriel Paiva

Glenn Grennwald

A presença do jornalista Glenn Greenwald na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (CDHM) nesta terça-feira (25) transformou o que era para ser uma audiência pública num caloroso e urgente debate sobre direito constitucional e liberdade de imprensa.

Mas não só. Convidado por meio de requerimento proposto pela Oposição para falar sobre a série de denúncias que desmorona a tese de imparcialidade da Operação Lava Jato, o estadunidense que vive há 15 anos no Brasil enfrentou – com provas e convicção – cada um dos questionamentos dos parlamentares sem perder a lisura que faltava aos raivosos membros da bancada governista presentes.

Cada um deles custava a ouvir o que as reportagens publicadas pelo The Intercept já deixaram evidentes: “Este material que estamos publicando já mostrou e vai continuar mostrando que Moro era o chefe da força-tarefa da Lava Jato, era o chefe dos procuradores. Ele está o tempo todo mandando o que os procuradores deveriam fazer e depois fingia ser imparcial”.

Tamanho o peso de suas declarações (e das matérias assinadas por ele) que, antes mesmo de dizê-las,  já avisara aos presentes que intimidação alguma lhe faria deixar o país. “Eu não vou sair do Brasil porque eu confio na Constituição brasileira que é muito clara ao proteger a liberdade de imprensa. Aliás, seria interessante que o partido do governo lesse o artigo 5 que diz todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”, invocou o jornalista.

Houve tempo também para relembrar aos desmemoriados parlamentares bolsonaristas que ele mesmo, Glenn, chegou a defender a Lava Jato durante prêmio entregue a procuradores da operação e que, a exemplo de muitos outros brasileiros, sente-se agora traído pelos escandalosos métodos usados por seus agentes com o pretexto de combater a corrupção.

“Deltan Dallagnol e outros procuradores estavam lá (durante a entrega do prêmio, realizado no Canadá) e ouviram o meu discurso, depois o Deltan disse numa rede social: “o renomado jornalista Glenn fez um discurso que todos os brasileiros deveriam escutar” (…) Eu acreditei que a operação era muito importante para combater a corrupção e é justamente por acreditar no combate à corrupção que eu estou fazendo esta reportagem agora”, reiterou.

Prova de veracidade

A principal arma dos parlamentares e da militância do governo de extrema direita, principal beneficiado pelas articulações de Moro e da Lava Jato, é tentar colocar em xeque a veracidade das informações reveladas pelo jornalista. Mas não só. Também tentam incriminá-lo por consegui-las.

O próprio Glenn tem o argumento infalível.  “Obviamente quando recebemos este material passamos semanas checando a sua veracidade. Todos os jornalistas que investigaram as conversas atestaram que elas são verídicas Moro e Dallagnol sabem disso e colocam em xeque para criar dúvidas na população”, avalia.

Para o profissional, que já ganhou os principais prêmios da categoria no Brasil e nos EUA, é impossível lutar contra a corrupção usando de comportamento corrupto. “A democracia no Brasil vai ficar muito mais forte depois deste caso. O que estamos fazendo é simplesmente jornalismo”.

Glenn aproveitou também para enviar um recado a Moro. “Ele tem que parar com a tática de nos tentar criminalizar porque essa é uma tática contra a liberdade de imprensa. Isso não vai fazer nada a não ser estragar a imagem do país internacionalmente. Este material vai continuar a ser publicado e ele não poderá fazer nada sobre isso”.

Sobre os próximos episódios da série do The Intercept, ele dá um pequeno spoiler: “A postura do Deltan foi tão subserviente que vocês vão sentir vergonha quando for divulgada”.

Da Redação da Agência da PT de Notícias

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