O Partido dos Trabalhadores, em seus trinta e poucos anos, pautou-se por lutar por direitos aos trabalhadores em geral e às minorias resultantes de uma sociedade capitalista excludente.
Nestas lutas construiu uma sociedade mais juste e igualitária e, ao mesmo tempo, esgarçou os princípios éticos e sociais que o mantinha como um partido de massas, contemporâneo e democrático.
Muitas causas podem ser colocadas como motivos para esta turbulência pelos quais passamos como, ao atingir à Presidência da República, não fazermos as necessárias reformas políticas, tributária, de mídia, agrária, urbana e outras.
A escolha de uma política econômica de distribuição de riquezas através do consumo e da ampliação do poder de compra dos brasileiros melhorou a vida da população. Mas provocou contradições que necessitariam das reformas citadas acima para se resolverem.
Se a reforma política e outras tivessem sido feitas talvez passássemos por estas turbulências de maneira mais apropriada para um país da pujança do Brasil.
Não necessitaríamos de recursos não contabilizados para fazermos campanhas, desde vereador até presidente da república, não teríamos partidos de aluguel que se vendem ao primeiro mercenário que aparece e poderíamos enfrentar os endinheirados e capitalistas de igual para igual, no mínimo.
Com esta decisão de levarmos o barco ao vento poderoso e favorável não víamos o mar escalpelado do futuro e os problemas que enfrentaríamos com os estratos burocráticos que, junto com a elite econômica, formam a elite deste país: preconceituosa, intolerante e pouco republicana.
Este estrato burocrático, formados principalmente por carreiras jurídicas, sempre dominaram a estrutura estatal e, nos últimos anos, aumentaram seu poder através dos ministérios públicos estadual e federal.
No executivo eles exercem seus poderes no Ministério do Planejamento, Banco Central, Ministério da Justiça e na casa civil da Presidência da República.
No legislativo, em todos os setores.
A República dos bacharéis, que o Brasil sempre foi e cada vez mais forte fica, tem relações umbilicais com a elite econômica e nela se apoia fortemente.
A junção destes estratos que, por um lado, se baseia nos privilégios que tiram do Estado e, por outro, na dominação e exploração social formam uma ideologia tradicionalista, moralista, conservadora que tem como principal inimigo o crescimento econômico, político e social dos excluídos, dos trabalhadores e das minorias em geral.
Construímos, com nossa luta, uma sociedade mais tolerante, mais socialmente justa e democrática que é contrária a tudo que a elite deseja.
Mas não resolvemos os problemas estruturais da representação política, da tributação do capital, da democratização da mídia e outras. Neste sentido não cumprimos o papel de um Partido que nasceu para ser diferente e inovador na política e na sociedade.
Esta imagem é a que ficou para a população: um partido igual aos outros.
Mas neste caso podemos cair em falsos moralismos que somente serviam a UDN de macacão que formava parte dos nossos dirigente e militantes que, compondo com aqueles que vieram da igreja, baseavam sua política em conceitos morais.
Mas, assim mesmo, não podemos menosprezar estes equívocos e, para encontrar uma palavra da esquerda tradicional, vícios que foram fundamentais na derrocada de nossa política entre aqueles que mais necessitam.
DEFINIÇÕES POLÍTICA INTERNAS
O PT iniciou sua vida a partir dos componentes da sociedade que mais lutavam: Intelectuais, sindicatos, movimentos sociais, associações de bairros, Comunidades Eclesiais de Base etc…
E sempre dizíamos que nossas ações eram baseadas no tripé: institucional, militância partidária e sociedade civil.
Teríamos uma função importante a realizar na institucionalidade elegendo representantes ao parlamento em todos os níveis e ao executivo em todos os níveis.
Com isto poderíamos demonstrar que havia um modo diferente de governar com participação popular, justiça social e democracia.
E isto ocorreu em vários municípios, Estados e União Federal.
O que não conseguimos foi segurar a força da institucionalidade, do poder e do dinheiro que esta fornece.
Internamente, isto resultou em um partido dominado pela institucionalidade, pela burocracia e infenso a mudanças, fenômeno estudado e que se repete em vários partidos de todo o mundo.
O afastamento partidário dos sindicatos, dos movimentos sociais, das associações de bairros, de suas bases sociais, se tornou particularmente forte nos anos que assumimos o governo federal.
Com isto o partido perdeu suas resistências e tornou-se um partido como os outros, dominado por parlamentares, prefeitos, governadores, ministros e interesses particulares.
As reuniões partidárias se dão entre assessores, parlamentares, executivos e burocratas partidários. Movimentos sociais, intelectuais, militância não vinculada à institucionalidade não participam das instâncias partidárias.
Como a hierarquia é um dos componentes principais de uma burocracia imagina-se a democracia que ocorre nestes encontros.
Considero que este foi um dos principais problemas que criamos internamente e que refletiu externamente em todos os setores.
Para termos um partido dirigente é necessário que este tenha independência da burocracia institucional e, principalmente, financeira.
Quando tivermos um partido que seja efetivamente dirigente, democrático e com maior participação popular conseguiremos nos conectar com o mundo moderno e pós-moderno atraindo a juventude e os diferentes grupos sociais que se formam, juntamente com a tradicional classe social dos trabalhadores, para continuarmos construindo uma sociedade justa, igualitária e que respeite as diferenças.
Então a palavra mágica é independência partidária frente à institucionalidade. Esta independência inicia por uma política independente de finanças, organização e formação.
Por João Paulo Strapazzon, membro do diretório estadual de Santa Catarina e servidor público federal, para a Tribuna de Debates do 6º Congresso. Saiba como participar.