O PT Faz é um projeto conjunto entre a Presidência do Partido, a Secretaria Nacional de Assuntos Institucionais, a Secretaria Nacional de Comunicação e a Escola Nacional de Formação do PT, com o objetivo de dar visibilidade à atuação dos representantes do PT nos governos e nos parlamentos, estimular e aprofundar a reflexão sobre a atual conjuntura e contribuir para qualificar o necessário debate do Partido com a sociedade.
Para municiar os mandatos e filiados do Partido dos Trabalhadores frente aos novos desafios que surgirão nos próximos anos – principalmente nos próximos meses – O PT Faz traz uma série de reportagens com discussões de diversos temas pertinentes à agenda social do Brasil. Nesta quinzena, o tema é Meio Ambiente. Para analisar a política ambiental atual e os desafios e demandas do eleitorado para 2020, conversamos com Jorge Viana, engenheiro florestal, ex-governador e ex-senador pelo Acre.
Confira a entrevista
Agência PT – Fazendo uma análise nacional da política ambiental de Bolsonaro até o momento, como o senhor enxerga a postura dele em relação às questões do meio ambiente, como por exemplo, as queimadas e o desmatamento, em especial na Amazônia?
Nós estamos vivendo o maior desafio da humanidade com a ameaça da mudança climática. O Brasil é mega diverso e tem 20% da diversidade do planeta. O país tinha conseguido respeito do mundo com a redução do desmatamento em mais de 80%. Tinha feito também uma atualização do Código Florestal, que eu fui relator, e que, de alguma maneira, pacificou a relação entre meio ambiente e produtor.
Agora, o Brasil está colocando tudo isso a perder com a política do governo federal. E o pior que pode acontecer agora são as ameaças ao meio ambiente. O mundo está vivendo o desafio da mudança climática e o desafio de ter que aumentar a produção de alimentos. O maior aliado para enfrentar isso é o meio ambiente. O Brasil passou de uma referência positiva para uma ameaça ao enfrentamento da mudança climática. Agora mais que dobrou o desmatamento da Amazônia, isso é terrível, um desastre.
A imagem do Brasil em relação ao meio ambiente está manchada pelo descaso de Bolsonaro, com o discurso na ONU, os ataques às ONGs e ao Greenpeace, o descaso com o recente caso do óleo nas praias do nordeste. Quais as consequências que essa postura ainda pode trazer?
Não é só a imagem. O Brasil hoje tem 23% do PIB brasileiro que vem do agronegócio, da produção da proteína animal. O país é um grande fornecedor de frango e de carne de porco, grande exportador de carne bovina, grande produtor de grãos. Nós estamos falando de negócios, vai prejudicar muito o agronegócio brasileiro ele seguindo esse caminho, trata-se além do ponto de vista ambiental, também levar em conta o ponto de vista econômico.
Sobre sua atuação política como senador pelo Acre e até mesmo sua proximidade com Chico Mendes, o que pode relembrar sobre o que foi feito na época pelo meio ambiente?
Na década de 80, o Brasil viveu um período terrível. O desmatamento era elevado, os conflitos agrários eram muitos e o Chico Mendes já era uma referência para todos nós. Ele foi assassinado no dia 22 de dezembro de 1988, mas ele já tinha construído um ambiente de luta na Amazônia, construído uma aliança internacional muito importante. Depois da morte dele, que a gente lamenta até hoje e foi uma brutalidade, ampliou-se as unidades de conservação, surgiram políticas públicas. Muitas políticas públicas começaram a ser implementadas no país e nos estados nessa época, no Acre mesmo nós tivemos políticas que viraram referências.
Depois, no governo do presidente Lula, o desmatamento, que era muito alto, quase 25 mil km², foi diminuindo, durante o governo Dilma também. Com a Marina Silva como ministra e depois a Izabela Teixeira chegou em torno de 5 mil km². Ou seja, os governos do PT conseguiram diminuir de 25 mil km² para 5 mil km² o desmatamento, agora ele já volta pra dois dígitos e deve terminar em quase 10 mil km² esse ano na Amazônia. Também no governo do presidente Lula e depois da Dilma, é importante mencionar que foram feitas políticas pra os povos da Amazônia. Políticas que melhoraram as condições de vida delas, políticas de respeito aos povos nativos e tudo isso agora está sob ameaça e é lamentável.
Prevalece agora uma visão completamente equivocada da Amazônia, ela precisa ter atividades econômicas sustentáveis, que levem em conta as 25 milhões de pessoas que vivem lá. Agora, há um interesse de apenas usar o solo e retirar a riqueza da biodiversidade da nossa floresta. Isso é o mais grave. Em função da riqueza que temos, nós poderíamos ter uma economia sustentável. O Brasil tem uma vantagem na produção de alimentos e terá vantagem se souber usar todo o conhecimento tecnológico para usar de forma sustentável e com inteligência a nossa biodiversidade. Lamentavelmente, cada dia mais as políticas federais ficam mais longe disso. E as estaduais também.
Em relação às propostas do PT para os próximos anos. O que o senhor acha que os futuros candidatos do PT devem oferecer como proposta e inovação nesse área? O que o senhor acredita que os eleitores estão esperando?
A questão ambiental cresceu bastante no cidadão e na sociedade nos últimos tempos. O PT tem que ter um compromisso de interpretar esse sentimento da sociedade e também fazer com que o apanhado de propostas possam aproximar a sociedade de um modelo de produção que seja sustentável. Acho que tivemos, apesar dos atrasos, uma evolução no grau de consciência no modelo de produção e de consumo. Hoje, as pessoas querem produtos que não venham contaminados com agrotóxicos, querem saber a origem dos produtos. Esse é um padrão de grande parte das pessoas, mas, lamentavelmente, isso não é incorporado nas políticas públicas.
Temos muitos produtores que já entenderam isso, que é até um questão de mercado. O PT é um dos partidos que mais reúne as condições de ter políticas voltadas para as cidades da Amazônia, para os estados da Amazônia, inclusive porque já implementou políticas em vários lugares e estados, como o Acre, por exemplo, que tinha políticas que deram certo, mas que hoje não possui mais essas políticas como referência. É preciso resgatar e promover mudanças, além de incorporar inovação e sentimento de participação.
Da Redação da Agência PT de Notícias