O que se segue não tem nada de original, pois é a mera repetição do clamor que percorre as fileiras do nosso partido em todo o país.
Nossas bancadas na Câmara e no Senado não devem se compor com os golpistas que lideram as candidaturas às presidências das respectivas Casas, a pretexto de nos garantir participação nos espaços institucionais das mesmas. Esse direito nos é garantido pela Constituição Brasileira e pelo Regimento das duas Casas e devemos cobrá-lo sem transigir.
A postura de negociar com os partidos adversários na vigência da normalidade democrática no país, para fazer avançar a luta, sempre significou um movimento tático correto de nossas bancadas. Ocorre que a democracia foi violentada com o episódio do impeachment da Presidenta Dilma e isso exige da esquerda e, em particular do PT, uma outra postura: devemos travar um combate franco e sem quartel contra os partidos golpistas, denunciando à sociedade brasileira a violência institucional instaurada no Parlamento brasileiro, que segue a lógica de tentar domesticar e aniquilar a Oposição, com o objetivo espúrio de aprovar, sem resistência, o desmonte do pacto social materializado na Constituição de 88.
Desde a redemocratização do país, em sucessivas legislaturas, o PT no Parlamento pautou-se por uma postura altiva e de intransigência contra quaisquer ataques à democracia e aos direitos dos trabalhadores, ganhando com isso o respeito e a admiração do povo brasileiro, mesmo entre os adversários.
Sim, com a nossa recusa em pactuar com os golpistas, corremos o risco de perdermos espaços institucionais na Câmara e no Senado e, certamente, teremos prejuízos com isso, do ponto de vista do poder de fogo na luta de resistência parlamentar contra o desmonte dos direitos sociais dos trabalhadores, do patrimônio nacional e do sistema democrático. É sabido que o recurso à justiça para reclamar o direito à proporcionalidade nas mesas e nas comissões pode se arrastar e, na prática, esse direito pode não vir a se materializar. Contudo, esses prejuízos serão em muito mitigados e mais que compensados com os ganhos extraordinários que se obterá com a elevação moral das hostes partidárias e, mais que isso, com a recuperação, perante a sociedade brasileira, da imagem de um partido que historicamente não se verga e não se entrega.
Sabemos que a luta política não se faz com o fígado e com principismos e sim com sabedoria e clareza de objetivos, mas já passa da hora de rompermos com o deplorável e deletério pragmatismo que impregnou a atuação do nosso partido nos últimos anos, transformando-nos em mais um partido da ordem.
Mercê da sistemática e impiedosa campanha da mídia golpista, nosso partido teve sua imagem dramaticamente desfigurada perante amplas parcelas da sociedade brasileira, impondo-nos uma defensiva sem precedentes.
O PT se prepara para o seu 6º Congresso. Suas bases sociais e partidárias clamam por uma profunda reforma no seu modus operandi, pois sabem que se isso não acontecer será a destruição definitiva do partido.
Ao rejeitarem a alternativa de compor com as figuras sinistras que ajudaram a destroçar nossa incipiente democracia, nossas bancadas na Câmara e no Senado podem contribuir de forma inequívoca para o reencontro do PT com o seu leito histórico.
Sinceramente, confio nisso.
Por José Machado, que ex-Deputado Federal e Líder da Bancada do PT na Câmara dos Deputados (1997), para a a Tribuna de Debates do 6º Congresso. Saiba como participar.