A fala tranquila, segura e sempre no mesmo tom, não esconde a perplexidade de Claudio Lembo diante da atuação de um Judiciário cada vez mais politizado e sem compromisso com o que manda a Constituição. Durante debate promovido na quinta-feira (28), o ex-governador de São Paulo e advogado de formação fez, por pouco mais de cinco minutos, duras críticas à atuação do STF, do Ministério Público e não poupou a postura da “elite branca”do país que tem “uma inveja imensa do ex-presidente Lula” – por sinal, o maior exemplo de que as regras do jogo não entram em campo quando não atendem aos interesses dos acusadores.
“O poder judiciário tornou-se um instrumento político e isso é lamentável. O ativismo jurídico, que muitos de nós defendemos em determinado momento, tornou-se horrível contra a sociedade, principalmente àqueles mais fracos na estrutura de poder”, lamenta.
É justamente esta politização escancarada do Judiciário que tem o deixado pouco otimista com o Brasil: “Eu confesso a minha perplexidade. Eu vivi muitas situações difíceis na minha vida política e como advogado, mas nunca encontrei pela frente uma situação como a presente”.
Lembo, que antes mesmo do golpe de 2016 tem se posicionado contra os ataques constantes à democracia, tenta encontrar forças para continuar barrar novos retrocessos. “Nesse cenário macabro que estamos vivendo a primeira situação estranha é achar que a Constituição de 1988 existe. Ela passou a ser algo absolutamente secundário. Está aí o caso da presunção de inocência. É tão clara a Constituição e tão violento o que fez o Supremo Tribunal Federal que nós não temos palavras para reagir. Somos todos muito fracos perante um poder”, avalia.
Diante das poucas possibilidades na batalha jurídica, a única solução, prossegue Lembro, é a movimentação social. “É preciso que a sociedade compreenda o que está acontecendo e se mobilize. Mas como esperar essa movimentação se tudo está na mão dos três poderes? É dramático o momento brasileiro. Eu já vivi situações como a ditadura militar, a abertura, mas nada tão imoral”.
Para ilustrar o que acontece no caso específico de Lula, Lembo atribui à pressão da elite a perseguição desumana do Judiciário contra o ex-presidente. Há na minoria da elite branca uma inveja imensa do ex-presidente Lula. Ainda estes dias eu lia a história do guia Lopes (um dos “heróis”brasileiros na Guerra do Paraguai). O exército mandou para o Paraguai os melhores técnicos das escolas militares. Eles se perderam nos pantanais do Mato Grosso. Quem os salvou foi um tropeiro simplório e semianalfabeto. O mesmo acontece com o Lula. Ele em determinado momento salvou o Brasil”, compara.
“Eu confesso minha profunda angústia em ver o Brasil tão abaixo do nível de civilização. Estamos vivendo a pior fase da história política do Brasil. Não há nenhum instante em que possa haver satisfação democrática. É uma democracia frágil, falsa e meramente de fachada”, conclui.
Por Henrique Nunes da Agência PT de Notícias