Onde há crise, há oportunidade. Em meio ao caos em que se tornou a escolha do terceiro comandante da Petrobras em quatro anos de desgoverno Bolsonaro, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), partiu para a ofensiva. Nesta quarta-feira (5), em conversa com jornalistas, ele defendeu a privatização da petrolífera e atacou a Lei das Estatais, enquanto trabalhava nos bastidores para emplacar um substituto para o afilhado Adriano Pires, inviabilizado pela norma criticada por Lira.
Embora tenha dito que não mantinha relação e nunca sequer havia falado com Pires, Lira classificou como “demagogia pura” o “conflito de interesses” que descartou o economista da presidência da Petrobras. “Não pode partir da premissa de que (se) um cara dá assessoria no ramo privado a uma empresa privada, ele não pode assumir comando de uma empresa pública porque é desonestidade”, argumentou.
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“Há a necessidade de o Congresso debater e mudar trechos da Lei das Estatais, inclusive tratando claramente da privatização dessa empresa”, continuou o presidente da Câmara, criticando ainda a política de preços criada por Michel Temer e mantida por Jair Bolsonaro. “Se ela não tem benefício para o Estado e povo, que vive reclamando do preço dos combustíveis, que seja privatizada”, decretou Lira, repetindo o discurso de seu aliado e sócio do Executivo, que publicamente trata a Petrobras como um estorvo.
“Arthur Lira fala que Petrobras causa inconveniente pro país e defende a privatização. Que declaração é essa? Temos uma riqueza nas mãos. Vender pra dar tudo pro capital privado? Tem é que mudar a política de preços pra baratear os combustíveis. Isso é decisão política!”, rebateu no Twitter a presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann, na manhã desta quarta-feira (6).
Na segunda-feira (4), em jantar com empresários em São Paulo, a deputada federal pelo Paraná também criticou a dolarização dos preços, mas lembrou que a Petrobras lida com um dos menores custos de produção do mundo, e reduziria as tarifas aumentando sua capacidade de refino. Gleisi lembrou aos empresários a importância do papel do Estado como indutor da economia, o que vem sendo negligenciado desde o golpe de 2016.
Difamação da Petrobras custa caro para o Brasil
No mesmo dia em que Lira atacava a Petrobras, Luiz Inácio Lula da Silva lembrava os efeitos desastrosos da campanha de difamação da empresa movida pelo lavajatismo. ”Causou mal à história do Brasil, ao desenvolvimento do Brasil e ao crescimento do Brasil”, disse à rádio Lagoa Dourada FM, da Rede T do Paraná.
“Você pode combater corrupção prendendo alguém que roubou”, ressalvou Lula. “O que não pode é destruir todo um sistema produtivo, a indústria naval, a indústria de óleo e gás, a indústria de engenharia e a Petrobras, que perdeu valores na Bolsa por causa de tantas denúncias.”
Ainda na terça-feira, o líder do PT na Câmara, deputado Reginaldo Lopes (MG), publicou artigo no jornal o Tempo afirmando que, em pleno caos no setor de combustíveis, a tentativa de nomeação de dois lobistas para os cargos mais importantes da Petrobras “foi a mais ousada aposta do presidente para acelerar o processo de desmonte e privatização da empresa”.
Lopes ressaltou que desde a implantação da política de Preço Paritário de Importação (PPI), em outubro de 2016, os combustíveis tiveram seus preços reajustados três vezes mais que a inflação. Para ele, a desistência dos dois lobistas “só não é uma boa notícia por sabermos que as próximas indicações serão feitas pelo presidente Bolsonaro, que já mostrou que em caso de substituições de auxiliares, sempre pode piorar”.
Roni Barbosa, secretário de Comunicação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), destaca que Bolsonaro poderia mudar toda a direção e o presidente da Petrobras. “O governo tem a maioria das ações e poderia muito bem mudar a política de preços, mas não, sua gestão é baseada em fake news de sua militância virtual de extrema direita que quer entregar de vez o petróleo brasileiro a empresas internacionais”, afirma.
“Se dependesse do governo, todas as refinarias da Petrobras teriam sido vendidas. De concreto só conseguiu a vender a Rlam da Bahia, e com isso os baianos já pagam muito mais caro pelos combustíveis. Para as restantes não consegue compradores, mesmo com benefícios aos investidores internacionais”, complementa o dirigente da CUT.
Citado pela Federação Única dos Petroleiros (FUP), o economista Eric Gil Dantas, do Observatório Social da Petrobras (OSP), diz que o governo mantém uma “lógica predatória”, mas não consegue emplacar nomes porque está desgastado.
“Todas as mudanças da Petrobras até aqui não tiveram como objetivo mudar a direção da política de preços e de privatizações. Sempre foram cortinas de fumaça”, disse Dantas. “A indicação será, novamente, de alguém que irá lá para defender as privatizações, seja alguém do mercado, seja algum militar.” E também se Arthur Lira emplacar seu favorito.
Da Redação, com RBA e CUT