Exposto por grave conflito de interesses, lobista desiste da Petrobras

Diretoria de Governança e Conformidade da Petrobras apontou “conflitos demais” com Adriano Pires, nome de Bolsonaro envolvido com multinacionais e empresário do gás em disputa judicial com a companhia

Site do PT

O lobista: silêncio de Pires sobre suas ligações com multinacionais de energia tornou sua indicação insustentável

As relações nada republicanas do desgoverno Bolsonaro entre público e privado ganham novos desdobramentos com a desistência do consultor e lobista Adriano Pires de aceitar o comando da Petrobras, na manhã desta segunda-feira (4). O claro conflito de interesses, já apontado por diversos especialistas do setor de energia, ficou insustentável após a divulgacão de um dossiê elaborado pela própria Petrobras. De acordo com a jornalista Malu Gaspar, em coluna do Globo, relatórios da Diretoria de Governança e Conformidade da Petrobras sobre Pires e Rodolfo Landim, indicado para o conselho de administração da empresa, apontavam que “os dois teriam dificuldades em passar pelos  critérios do comitê interno que vai avaliar se eles têm ou não condições de ocupar os postos para os quais foram indicados”. No domingo (3), Landim se antecipou à decisão do amigo Pires e recusou o convite de Bolsonaro.

Os relatórios foram encaminhados na semana passada tanto ao ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque, responsável pela indicação de Pires, quanto à Corregedoria-Geral da União. Segundo a coluna, tanto Albuquerque quanto técnicos da Corregedoria ficaram “assustados” com o histórico do lobista e de Rodolfo Landim. Pires é conhecido entre executivos do setor de energia por atender grandes empresas de petróleo de outros países, assim como Landim.

Segundo a imprensa, Pires é apontado como consultor de Carlos Suarez, dono de empresas do setor de gás, também representado por Landim. Uma delas, a Companhia de Gás do Amazonas (Cigás), por exemplo, está envolvida em uma disputa judicial com a Petrobras de R$ 600 milhões. A depender do andar do processo, os valores decorrentes do litígio podem chegar a mais de R$ 8 bilhões. Landim, por sua vez, chegou a ser investigado pelo Ministério Público por transferências para contas de Suarez na Suíça.

Em meio a especulações sobre o futuro da companhia, o silêncio de Pires, que se recusava a revelar quais empresas são atendidas por sua consultoria, foi se tornando cada vez mais ensurdecedor. Na sexta-feira (1º), a bancada do PT na Câmara havia encaminhado ao Ministério de Minas e Energia pedido para que a pasta detalhasse as atividades do lobista.

No documento protocolado pelo líder do PT Reginaldo Lopes com base na Lei de Acesso à Informação (LAI), a bancada do partido questionava quais são as empresas representadas pelo lobista no Centro Brasileiro de Infra-estrutura (CBIE), empresa na qual atua por duas décadas, e se ele iria se desligar do grupo.

“Fundador e dirigente máximo da consultoria CBIE – Centro Brasileiro de Infraestrutura, há mais de 20 anos [Pires] trabalha ou trabalhou para as principais multinacionais de Petroleo, Gás e Energia (Chevron, Exxon Mobil, Shell etc), o que pode representar eventual conflito de interesse entre essas atividades privadas que exerce e as atribuições inerentes ao cargo na Petrobras, em prejuízo da estatal e da sociedade brasileira”, justificou a bancada no documento de 12 páginas encaminhado ao ministro de  Minas e Energia. 

MP também acionou TCU para impedir posse de Pires

A falta de compromisso do desgoverno Bolsonaro com os interesses do povo brasileiro também chamou a atenção do Ministério Público, que acionou o Tribunal de Contas da União (TCU), na semana passada, para impedir a posse de Pires na Petrobras. No pedido de liminar, o subprocurador Lucas Furtado identificou as atividades de Pires à frente da CBIE como um fator de impedimento. “Tendo em vista sua atuação na iniciativa privada, a lançar dúvidas sobre a possibilidade ética e legal de vir a assumir a presidência da Petrobras”, ressaltou Furtado.

O subprocurador também apontou na liminar a ligação de Pires com empresas internacionais como Chevron, Exxon Mobil e a britânica Shell. “Revelam, a meu ver, um quadro de extrema gravidade para a necessária isenção que se espera de um futuro dirigente da maior empresa brasileira, exigindo que sejam previamente e cabalmente afastados quaisquer riscos de conflito de interesses, que podem ser extremamente perniciosos para a Petrobras e para a própria economia nacional, mediante o possível uso de informações privilegiadas por detentores de altos cargos, de modo a favorecer alguns agentes do mercado, em detrimento de outros”, observa Furtado, na representação. 

Da Redação, com informações de Globo e PT na Câmara

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