O Golpe que depôs a presidenta Dilma não só comprometeu os elementos democráticos existentes no estado brasileiro como expôs a fragilidade organizativa e de estratégia da esquerda brasileira.
Por um lado parte da esquerda que se opunha a Lula e o PT viu desmanchar-se a ilusão de que a derrota política desses representaria um crescimento de partidos e propostas mais radicais. O crescimento da direita, inclusive fascista, no processo do Golpe foi tão implacável como a dureza enfrentada pelos servidores estaduais e a população dependente dos serviços públicos a partir da derrota do Governo Tarso no Rio Grande do Sul.
Por outro lado parte considerável do PT, em especial figuras públicas, se vê tentada por outra ilusão: a de que o Golpe passou e trata-se agora de se recompor eleitoralmente e reocupar o centro do espaço institucional. Decorrentes desse pensamento surgem às articulações para composição das mesas da Câmara Federal e do Senado, prevendo o apoio aos protagonistas do Golpe como se nada tivesse acontecido.
Essa ilusão é um caminho para o aprofundamento da derrota. Sob o pretexto de não isolar-se no parlamento arrisca-se adotar uma política que ampliará o isolamento com relação ao povo. Não, o Golpe não acabou! Ele segue impondo políticas e narrativas conservadoras, restringindo direitos e conquistas e não permitirá a recomposição eleitoral pura e simples da esquerda. Resistir ao Golpe exige a demonstração clara para a população do que ele significa e quem são seus agentes. Conciliações parlamentares não darão capacidade de ressignificação de nosso projeto para a sociedade, ao contrário nos afundarão no pântano da rejeição política.
Ao contrário de uma parte do PT que defende uma autocrítica do partido pelos seus “erros”, penso que não é necessária “autocrítica” pela construção que nos levou a ganhar a Presidência da República e governar, o que é necessário exigir do PT é que ele lute contra o Golpe que tirou o projeto popular do governo.
Denunciar o Golpe e seus alicerces na manipulação midiática e em farsas jurídicas, através do árduo trabalho de organização popular aliada a defesa intransigente de Lula e a construção e propagação de propostas para o Brasil – considerando o que não avançou nos Governos Lula e Dilma – deve ser o centro da estratégia para reconquista dos espaços de direção do Estado revalidando o papel histórico do PT para o povo brasileiro.
Por Luciano Lima, bacharel em Direito, Presidente do Diretório Municipal do PT em Pelotas-RS, para a Tribuna de Debates do 6º Congresso. Saiba como participar.